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Caranguejo Tabaiares ganha Espaço de Convivência, mas ainda luta por creche e moradia

Publicado em: 20/11/2019 07:33

 (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Foto: Leandro de Santana/DP.
Quando a casa de madeira em que Amanda Messias, 34, morava com seus quatro filhos foi destruída num incêndio em 2013, a moradora ficou cinco dias abrigada no Centro Comunitário Maria Luzinete da Costa, na comunidade de Caranguejo Tabaiares, situada no bairro da Ilha do Retiro, Zona Oeste. O local, que estava abandonado, se tornou o terceiro Espaço de Convivência inaugurado pela Prefeitura do Recife para acolher crianças de seis meses a seis anos.

Diferentemente de uma creche - que continua sendo uma demanda dos moradores -, a casa oferece atividades recreativas e três refeições diárias,  funcionando das 8h às 16h. Além disso, os pais podem participar de um curso profissionalizante de brinquedista. Desempregada, Amanda faz parte da turma de 30 alunas do Programa Pertencer, oferecido através da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Apesar de refazer seus planos diante da nova oportunidade, ela e mais 70 famílias que moram às margens do Canal do Prado aguardam um habitacional, após se virem obrigados a reerguerem suas casas no mesmo terreno em que perderam tudo para o fogo. A habitação, desta vez, é de alvenaria. Agora mãe de seis, Amanda recebe R$ 300 do estágio de brinquedista. Os filhos adolescentes, de 16, 14 e 13 anos, vendem reciclados e lanches quando não estão na escola. Os mais novos, de dois e quatro anos, ficam no Espaço de Convivência sempre que a mãe é chamada para fazer bicos de serviços gerais.

“Esse espaço representa mais qualidade de vida para meus filhos porque sei que eles estão bem cuidados. É importante porque eles ficam todos juntos, são vizinhos, já se conhecem. O estágio me deu mais vontade para agarrar novas oportunidades porque eu já tenho experiência com faxina e posso conseguir um emprego de carteira assinada”, almeja.

A estrutura recém-inaugurada atende 136 crianças e oferece brincadeiras, contação de história, plantio de mudas e música. Outros dois espaços funcionam nos conjuntos habitacionais Padre Miguel (Afogados) e Travessa do Gusmão (São José), cada um com capacidade para 150 crianças que ficam sob os cuidados de 30 colaboradores e uma arte-educadora. As que têm mais de quatro anos precisam atestar frequência escolar.

“As mães podem sair para trabalhar sabendo que as crianças ficam bem cuidadas, alimentadas e sendo estimuladas em seu desenvolvimento. E parte dessas mães está trabalhando cuidando das crianças. Estamos estudando outras comunidades e bairros para que possamos prestar esse apoio”, disse o prefeito Geraldo Julio.

 (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Foto: Leandro de Santana/DP.
HABITAÇÃO
A inauguração aconteceu um mês após a Prefeitura do Recife revogar o decreto que autorizava a desapropriação do terreno que margeia o canal do Prado e determinava o despejo de 74 famílias. Depois do apelo dos moradores através de uma campanha que alcançou repercussão nas redes sociais com a divulgação de um vídeo lançado pelo Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, a comunidade conquistou o espaço, que é classificado como Zona Especial de Interesse Social (Zeis).

A partir de agora, o objetivo é conseguir a regularização fundiária. “Até agora temos um decreto que inicia o processo de regularização fundiária, que serve para áreas assentadas há mais de cem anos, e é o caso de Caranguejo Tabaiares. Além disso, ficou prevista a construção de habitacional no Plano Urbanístico de 2008. Então falta o poder público regularizar a área”, comenta o advogado do Centro Popular de Direitos Humanos, Renan Castro.

De acordo com Isabela de Roldão, secretária de Habitação do Recife, a construção do habitacional depende da liberação do terreno pelo governo federal. “Temos um projeto aprovado, que enfrenta um entrave na Superintendência da União. A gente tem assistido a isso de perto para tentar destravar o projeto. É sabido que o governo federal encerrou os recursos para construção do Minha Casa, Minha Vida. Então temos mais um dificultador para construir habitacionais pelo programa na faixa 1. Mas o principal problema é a legalização do terreno em nome da União e que precisa passar para a prefeitura".

Além de moradia, serviços como limpeza urbana, rede de esgoto e posto de saúde são esperados pela comunidade. "As ruas estão cheias de esgoto porque não têm drenagem. O canal nunca mais foi limpo. Temos um dentista para atender uma comunidade de cinco mil moradores", comenta Sarah Marques, do coletivo Tabaiares Resiste.

O prefeito reconheceu que ainda há muito a ser feito na localidade. "A comunidade ainda precisa de muita coisa. Já fizemos obras importantes, mas temos crianças começando formação desde cedo com a participação da própria família, o que se torna uma ação de prevenção (à violência). A crise e o desemprego estão muito grandes e as pessoas sem renda. Então o Chegando Junto (programa ao qual o Espaço de Convivência está vinculado) é assistência social e geração de renda”, defende.

Ainda pelo programa, a Prefeitura do Recife iniciou o Parceria na Sua Casa, também na Caranguejo Tabaiares. O projeto contempla 50 casas que precisam de pequenas reformas no custo de até R$ 5 mil. A secretaria de Habitação do Recife oferece material e assistência técnica e o morador fica responsável pela mão de obra.

Segundo Isabela de Roldão, foi feito um mapeamento das áreas vulneráveis da cidade, junto à Defesa Civil, para identificar as casas em condição de precariedade, avaliando a densidade habitacional, o número de imóveis chefiados por mulheres ou pessoas com deficiência, e a quantidade de idosos em cada imóvel. A comunidade foi escolhida em plenária no Fórum do Prezeis. A iniciativa é baseada no Programa de Melhoria Habitacional da Lei de Nº 18.189/2015 e atende às Comunidades de Interesse Social.
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