Vida Urbana

Avenida Guararapes resiste com suas floristas, livreiros e sapateiros

Ivonete, 66 anos, é florista na Guararapes há 38 anos.

Ivonete dos Santos Silva, 66, a florista, tem 38 anos de ocupação da Guararapes. Perto de uma das esquinas, instalou suas flores coloridas. Na Guararapes, Ivonete alimentou amores diversos. Vez por outra, conta ela, aparecem pessoas pedindo conselhos amorosos. “Querem ajuda para fazer as pazes. Faço um buquê de rosas vermelhas, brancas e amarelas. Aí a pessoa vai embora. Garanto que dá certo. Trago o amor de volta”, brinca.

Das quatro floristas da Guararapes, Ivonete é a mais antiga. O lucro maior, conta, acontece no dia internacional da mulher e no dia das mães. Os dias dos namorados, finados, Nossa Senhora da Conceição, além de Natal e Ano Novo, também abastecem o sorriso da florista. “Uma dica para a flor durar? Só trocar a água todo dia e cortar o talo na diagonal. Dura uns cinco dias se cuidar bem.”

Antônio Sales, 77, lembra dos tempos de lucro alto com a venda de livros.

Sales conta ter feito muito dinheiro com a venda do chamado livro do professor. “Um dia, baixaram uma lei e a venda ficou proibida. Tive um prejuízo milionário. Os livros foram todos recolhidos. Todo mundo comprava o livro do professor porque saia mais em conta.” A obra mais preciosa de Sales é uma Bíblia datada de 1.800. “Ela fica no estoque. Só vendo por R$ 300.” O livreiro que cursou até a quinta série porque precisou começar a trabalhar cedo gosta de ler de tudo, mas principalmente a Bíblia. O que mais vende na banca de Sales? Gibis. Nos dias de sábado e domingo, outros livreiros aproveitam a folga na fiscalização da Prefeitura do Recife para ocuparem a Guararapes com suas obras usadas. Concorrência para Sales, cujo cadastro junto ao governo municipal ele diz estar em dia.

O sapateiro Brasil é simbolo da Avenida Guararapes.

Brasil calcula o tempo de estadia na avenida pela quantidade de copas do mundo. Já são seis campeonatos. Ele pode não ser o mais antigo no espaço. Mas é o mais conhecido. Seu equipamento é todo decorado em verde e amarelo, incluindo uma bandeira do país, colada à do time chapecoense. “Fiquei muito comovido com o que aconteceu com os jogadores”, justificou. O preço dos serviços ofertados pelos sapateiros é parecido. O que muda é o tipo de atendimento. Brasil começou a trabalhar cedo como engraxate. Circulava nos bares do Recife e de Olinda em busca de clientes. Eram muitos. Depois o número caiu. Uma justificativa é a adesão ao uso do tênis. O jeito foi migrar para consertos de calçados.

Entre os trabalhadores da Guararapes tem corrido uma informação preocupante. Há quem fale em intervenção da prefeitura para tirar os comerciantes/ambulantes da via. O secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, no entanto, negou qualquer plano de intervenção na Guararapes. “Ela não é a bola da vez. A Mathias de Albuquerque, rua paralela, é mais urgente. A crise também afetou a oferta de cursos superiores na Guararapes e isso reduziu o número de usuários na rua”, disse. Braga afirmou, ainda, que os engraxates/sapateiros, mais especificamente, fazem parte do cenário da Guararapes e por isso não há planos de relocá-los em caso de reforma do local. Segundo a PCR, a via tem 70 comerciantes informais cadastrados.

Em 2014 foi anunciada uma intervenção na Guararapes. A proposta previa a união entre a gestão pública e a privada para melhoramento da via. O plano de R$ 1,5 milhão não vingou. Um total de 45 ambulantes seriam relocados para ruas próximas. Também estavam previstas limpeza e pintura das pilastras dos prédios, recuperação de calçadas e até reabertura do Bar Savoy. A velha Guararapes segue viva. Por teimosia de seus trabalhadores.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...