Vida Urbana

Por crianças mais felizes

Foto: Tarciso Augusto / Esp. DP

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Matheus é um menino esforçado, segundo a mãe. Pega qualquer pedaço de papel para mostrar sua habilidade na escrita e já aprendeu também a lidar com as dificuldades. Com a falta de uma televisão para entretê-los, saneamento básico, água encanada e ausência de comida na geladeira. “Não vou mentir para a senhora. Eles choram de fome. Tem dia que não tenho leite, não tenho um biscoito para dar”, confessa, baixando a voz, com o constrangimento de quem convive com privações.

“É muito difícil criar uma criança no mundo de hoje. Não tenho onde deixar os meninos, não consigo trabalho e conto com a ajuda desse pessoal que entrega comida na rua”, diz Mayara. Os meninos engrossam o contingente de crianças e adolescentes na extrema pobreza no Nordeste. Mas, ainda sem entender a condição em que estão imersos, sugestionados pela promoção da data festiva do Dia das Crianças, também cobram um agrado. Matheus só fala em instalar uma piscina inf lável defronte ao barraco. “Já avisei que não posso. Não tenho nem de onde tirar o dinheiro”, desabafa Mayara. O Nordeste tem 8,8 milhões de crianças de zero a 14 anos em condição domiciliar de baixa renda, na pobreza ou na extrema pobreza. No Brasil, são 20 milhões, 47,8%. O Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2019, da Fundação Abrinq, com base em indicadores oficiais do governo, mostra que Matheus vive na região que concentra mais vulneráveis desta população, tanto em números absolutos quanto em números percentuais. Somadas as crianças e adolescentes que vivem com renda domiciliar per capita mensal inferior a meio salário mínimo (classificados nas estatísticas como pobres) ou os que vivem com renda domiciliar per capita mensal inferior ou igual a um quarto do salário mínimo (os extremamente pobres), chega-se a 69,7% do total geral. Os extremamentes pobres são maioria - 4,9 milhões de crianças e adolescentes.Um dado resvala em outro. Quando se trata do percentual de população residente não atendida pela rede de coleta de esgoto, o Nordeste se destaca negativamente com 62,1%, frente a 42% no Brasil. São resultados da Abrinq, a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A pobreza, por exemplo, tem forte inf luência na condição nutricional das crianças. Se, no Nordeste, a pobreza tem taxas altas, nota-se quadro semelhante quando se avalia a nutrição. Na região, o número de crianças com idade até cinco anos com altura muito baixa ou baixa para idade é o maior do Brasil. São 244.223. Considerando o peso elevado, idem - Nordeste também no topo. Em 2017, ano que serviu de estudo para o relatório da Abrinq neste caso, mostra que eram 155.219 crianças com peso elevado para a idade. Mais do que um instrumento de consulta, o estudo, diz o hoje vice- -presidente da Abrinq, Carlos Tilkian, o Cenário da Infância e Adolescência 2019 “pode servir como instrumento para a incidência política pela garantia e promoção de direitos da infância e da adolescência”. Já Victor Alcântara, Gerente Executivo da Abrinq, destaca o quanto se deve trabalhar em favor de “políticas públicas que melhorem as desigualdades”. Ele aproveita para citar como exemplo positivo o projeto Mãe Coruja, do Governo de Pernambuco, que ajudou na redução da mortalidade no estado. “O bom caminho é achar um foco e otimizar o recurso. E Pernambuco tem um bom exemplo disso”. Mortalidade, diz Alcântara, é um dos fatores que mais preocupa gestores e defensores da criança e adolescente no Brasil. 

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