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Bolinha de Pelo

Cães auxiliam na aprendizagem de crianças com deficiência em Olinda

Publicado em: 18/10/2019 10:27

Foto: Peu Ricardo/DP. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Foto: Peu Ricardo/DP. (Foto: Peu Ricardo/DP.)

Quando recebeu o diagnóstico de autismo do seu filho, Elizângela Araújo, de 37 anos, buscou terapias que ajudassem no desenvolvimento da criança. Com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não-verbal, Eitor Fernando, 10, não se comunica através da fala. Após recorrer a diferentes estímulos para melhorar a sociabilidade do filho, Elizângela encontrou na Escola Municipal Pro Menor, no bairro de Rio Doce, em Olinda, um projeto que demonstrou um potencial surpreendente de evolução. Foi a partir da Educação Assistida com Animais (EAA) que Eitor passou a reconhecer e distinguir as cores e melhorou a coordenação motora fina.

Na companhia de Max, um cão da raça Golden Retriever, o menino perdeu o medo que tinha de animais e começou a interagir com a turma formada por outros estudantes com deficiência. Os cães adestrados auxiliam no desenvolvimento das habilidades cognitivas de estudantes matriculados na rede municipal de Olinda através do projeto Bolinha de Pelo. A iniciativa fez três anos no mês de setembro com uma equipe de 10 cães: Fiona, uma Buldogue Americana, Sebastian, um Box e sete Golden Retrievers - Max, Mel, Aurora, Luna, Raio de Sol, Justin, Surf e Dom.

"O autismo não espera. Meu filho precisa de estímulo para evoluir. Logo ele será um adolescente, depois um adulto e eu preciso garantir que ele tenha oportunidades. Nesse processo, muitas vezes a gente se frustra por falta de assistência do poder público. Então, quando vem um projeto desses, que transborda amor, a gente é só gratidão. A equipe tem muita paciência e atenção. Isso foi fundamental para que Eitor sentisse confiança", comenta Elizângela, que cuida do filho em tempo integral.

Com oito voluntários, a equipe coordenada pela psicopedagoga Cássia Leôncio atende mais de 100 alunos nas salas de recurso multifuncional de nove escolas dos bairros de Ouro Preto, Cidade Tabajara, Jardim Atlântico, Bultrins, Bairro Novo, Caixa D'água, Peixinhos e Rio Doce. No início do projeto, em 2016, dois cães voluntários atendiam apenas 22 estudantes no Centro Integrado de Atenção à Criança Professora Norma Coelho (CAIC). A partir dos resultados positivos e aumento da demanda, outras escolas passaram a receber o projeto.

Foto: Peu Ricardo/DP. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Foto: Peu Ricardo/DP. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
A Educação Assistida com Animais utiliza dos cães como recurso mediador no processo de aprendizagem, como explica Cássia. "Em muitos casos os professores já recorreram a outras estratégias para ajudar no desenvolvimento do estudante e o cão se torna um elo e complementa o trabalho. Algumas crianças chegam sem querer conversar, mas interagem com os cães. Através desse vínculo afetivo, a gente consegue perceber as melhorias. Estudantes com deficiência são o público que a gente busca atender, mas todos da escola se envolvem porque causa empatia", comenta a psicopedagoga.

A cada 15 dias as crianças recebem a equipe do Bolinha de Pelo. As atividades duram cerca de uma hora. O contato das crianças com os animais estabelece as relações de vínculo, trabalha controle da força, desenvolvimento motor, coordenação a partir das dinâmicas propostas pelos voluntários e professores. No caso de alunos com microcefalia, por exemplo, as crianças deitam no tronco dos cachorros e o contato com as batidas do coração e o ritmo da respiração diminui o desconforto e provoca relaxamento. Além do ensino infantil, também passam pela experiência os estudantes adultos matriculados na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

"Nós fazemos o acompanhamento desses estudantes com avaliações contínuas sobre a evolução individual. Durante as atividades, nós percebemos quais habilidades comportamentais de cada um e podemos trabalhar o conteúdo pedagógico a partir delas, o que é, inclusive, um método Paulo Freire", diz a professora de educação especial inclusiva da Escola Municipal Metodista Gladys Oberlin, em Caixa D'agua, Cleize Costa. A unidade recebeu o projeto há um mês e formou uma turma com 28 crianças.

Todos os cães do Projeto Bolinha de Pelo são treinados e ainda participam do Projeto Cães Doutores, visitando em hospitais. Para alcançar ainda mais estudantes, o projeto precisaria e mais material pedagógico, salas maiores, já que apenas um animal muitas vezes atende até 15 crianças, seja por pouco espaço ou pela dificuldade no transporte. A gente não ampliou ainda porque temos limitações e precisaríamos de melhores condições condições, escolas com estrutura melhor, salas maiores, mais material pedagógica, melhoria na estrutura, além de outros voluntários para dar mais suporte", diz Cássia.
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