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Pesquisa revela que museus do Recife carecem de políticas públicas para atrair turistas

Publicado em: 13/08/2019 14:45

Foto: Andréa Rêgo Barros/Prefeitura do Recife.
Destino muito procurado pelos turistas, Recife é uma capital com diversas atrações turísticas e, entre elas, estão os museus. Espalhados por toda a cidade, os museus parecem ser um grande atrativo turístico, mas não é bem assim. A dissertação “Políticas públicas para museus: o patrimônio cultural como instrumento de promoção turística na cidade do Recife”, desenvolvida por Jeckson de Andrade Silva e apresentada no Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste da UFPE, constatou que “não existe uma política de fidelização dos visitantes e que estes são, em sua maioria, o público interno, revelando uma carência do público externo, o turista”.

O pesquisador, sob a orientação da professora Emanuela Sousa Ribeiro, analisou dados e informações sobre o Museu do Homem do Nordeste (M1), o Espaço Cultural Paço do Frevo (M2) e o Museu Cais do Sertão (M3). A partir desta análise, Jeckson observou “a inexistência de políticas públicas que possibilitem aos museus se desenvolverem como atrativos turísticos culturais” e também notou que “as raras parcerias constatadas com agências de viagens, hotéis, taxistas e sites de viagem, dentre outras, foram firmadas pelos próprios museus e não por iniciativa pública”. Para ele, é evidente a “inexistência de políticas públicas que possibilitem aos museus se desenvolverem como atrativos turísticos culturais”.

Aliada à ausência de políticas públicas, outra barreira para que os museus venham a se transformar em um atrativo turístico é que “nenhum desses equipamentos públicos possui um plano de marketing ou algum setor interno voltado para as ações de promoção dentro da atividade turística”, segundo o estudo. Apesar do interesse em se tornar ponto turístico, Jeckson atesta que “os museus não logram êxito nessa condição pelo fato de não realizarem ações de marketing turístico que os promovam dentro da atividade turística”.

ENTREVISTAS
Para entender melhor como funciona a relação dos museus com o turismo da cidade do Recife, Jeckson entrevistou presencialmente a coordenadora-geral do Museu do Homem do Nordeste (M1) e o gerente-geral do Paço do Frevo (M2). A entrevista com a coordenadora de Conteúdo do Cais do Sertão (M3) foi realizada por e-mail. Essas entrevistas foram divididas em cinco categorias: relação entre turismo e museus, estudo de público, atratividade museal, promoção/divulgação e museus e turismo: proposições.

Na primeira categoria, os entrevistados apontaram as dificuldades e as potencialidades de estabelecer uma relação entre turismo e museus. O gerente-geral do Paço do Frevo acredita que uma das grandes dificuldades é o turismo voltado muito para as praias. “A gente ainda tem no Recife, em Pernambuco, um turismo de sol e mar; as pessoas se concentram muito em Porto de Galinhas e, normalmente, os roteiros que vêm pro lado de cá vendem Recife e Olinda em duas horas, três horas de passeio. O que é impossível integrar os museus nessa perspectiva”, afirma. Em contrapartida, ele vê muito potencial na relação museus e turistas: “A gente ainda precisa aprender como equalizar, como explorar e como oferecer também isso de uma forma interessante ao turista”. 

Na categoria estudo de público, os entrevistados informaram que a maior parte do público são estudantes, residentes de Recife ou região metropolitana e que não há política de fidelização para os visitantes. O pesquisador afirma que “os entrevistados reconhecem a importância do estudo para os museus, entretanto, o mesmo não é uma realidade para os museus em estudo, pois mesmo os museus que realizam o estudo de público não se utilizam dele para promover o turismo”. 

INTERATIVIDADE
Na terceira categoria, atratividade museal, os entrevistados concordam que um museu interativo é muito mais atrativo ao público, apesar do Museu do Homem do Nordeste, por exemplo, não ter nenhum material interativo. Jeckson observou que “existe um receio por parte dos gestores tendo em vista que, na maioria das vezes, não é viável um museu dispor de tal interatividade se o mesmo não tiver condições de garantir a manutenção dos equipamentos”.

Em relação à promoção/divulgação, a coordenadora-geral do Museu do Homem do Nordeste afirma que “somos nós mesmos do museu com a nossa comunicação direta com o público, no Facebook, Twitter, Instagram que a gente faz essa comunicação. Acharia importante sim, mas não só para o Museu, para a instituição (Fundaj)”. Sobre a divulgação através de agências de viagens ela explica que já tentaram, mas não existe essa parceria pois “eles pedem um percentual, a agência de turismo, os guias turísticos, eles pedem um percentual e como a gente é uma instituição pública, a gente não tem como fazer isso”. O Cais do Sertão e o Paço do Frevo também não têm parcerias com agências.

Para a valorização dos museus, Jeckson acredita que “é necessário que os museus saiam de sua zona de conforto e façam parte da indústria turística, incorporando uma perspectiva interdisciplinar, estabelecendo parcerias com as regiões geradoras de turismo (serviços de reserva, operadores turísticos, agentes de viagens, marketing e promoção) e com as regiões de destino turístico (setor de alojamento, indústria de restauração e bebidas, indústria de animação, atrações turísticas e acontecimentos, shopping e serviços turísticos)”. Além disso, ele sugere a criação de roteiros por parte da Secretaria de Turismo do Recife que priorizem os atrativos culturais, sobretudo os museus, englobando também os museus que não estão inseridos numa área turística, como é o caso do Museu do Homem do Nordeste; a criação de um passaporte que possibilite o acesso a mais de um museu na cidade do Recife; e a criação de projetos e ações que objetivem uma maior exploração do turismo cultural na cidade do Recife.
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