Vida Urbana

Alunos do Recife competem em seletiva para Olimpíada Brasileira de Robótica

Desde os cinco anos, Alisson Silva usa computadores. Ele tem paralisia cerebral e aprendeu desde cedo a usar a tecnologia a seu favor. Foi por meio dela que Alisson desenvolveu uma forma de se comunicar com o mundo que o cerca e, neste ano, descobriu uma nova paixão: a robótica. Nesta terça-feira (20), diante da quadra lotada do Centro Comunitário da Paz (Compaz) Ariano Suassuna, no Cordeiro, ele esbanjava confiança. Com outros dois estudantes da Escola Municipal Professora Almerinda Umbelino de Barros, aguardava com um sorriso no rosto a vez de colocar o robô montado pela equipe na arena de competições.

Alisson é um dos 490 atletas que estão competindo no 4º Torneio de Robótica do Recife (Torre), que encerra nesta quarta-feira (21). Neste ano, a participação tem um sabor a mais. Até 2018, o Torre era considerado um treinamento para a seletiva oficial da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Em 2019, porém, a competição foi incorporada ao calendário de seletivas regionais da competição nacional. “Já havia um trabalho sendo realizado muito forte nas escolas do Recife e isso deu resultados nas olimpíadas, com alunos sendo campeões nas etapas estadual e nacional. Então, nada mais natural do que pegar esse esforço e juntar a uma seletiva da OBR”, afirmou o coordenador da OBR, João Paulo Cerquinho.

O torneiro é realizado na modalidade resgate. Das 123 equipes participantes, cada uma delas com quatro alunos, 93 participam do desafio nível 1, no qual o robô precisa resgatar a vítima para a área de salvamento. Outras 30 equipes competem no nível 2. Nessa modalidade, além de resgatar a vítima, o equipamento precisa suspendê-la e colocá-la em uma área considerada segura. “Há um percurso que o robô tem que seguir, então ele precisa detectar a linha, os obstáculos e uma área onde tem as vítimas (que são bolinhas de isopor). Ganha pontos a partir do quanto de obstáculos ele consegue passar, da quantidade de vítimas resgatadas, etc”, detalhou Cerquinho. 

Um total de 36 escolas dos anos finais do ensino fundamental estão competindo, além de uma equipe do núcleo de altas habilidades/superdotação (NAAHS). Para a seletiva regional, que acontece em setembro, serão classificadas 20% das equipes poresentes em cada um dos níveis. “Esse torneio é parte de um processo de engajamento pedagógico, em que há um movimento dentro da escola que reivindica um território de tecnologia na parte do currículo que ajuda a explicar parte da matemática, da história da ciência, da língua portuguesa. E envolve o estudante na transposição dessas informações e do conhecimento”, explicou o gerente de tecnologia na educação do Recife, Gutemberg Cavalcanti.

Para a técnica de enfermagem Andrea Silva, 44 anos, mãe de Alisson, a robótica é uma descoberta de novas possibilidades para o filho. “Ele gosta muito de tecnologia e quando descobriu a robótica imediatamente pediu para participar. Passou por uma prova na escola e foi o segundo colocado para obter uma vaga. Foi com a tecnologia que ele conseguiu se desenvolver, há cerca de quatro anos, na linguagem. Então, é uma habilidade, ele gosta”, diz. Alisson quer ser operador de jogos e, entre os intervalos das aulas e da robótica, também está desenvolvendo um jogo. No caso da estudante Vivian Alessandra, 12 anos, que estuda na mesma escola que Alisson, a robótica é uma superação. “Sempre quis muito participar das aulas, cheguei a tentar a vaga umas quatro cinco vezes, mas nunca tinha. Neste ano, consegui. Com a robótica me sinto relaxada, esqueço dos problemas de casa. Nas aulas, aprendi a saber como é carinho, como é dividir as coisas”, conta.

Escolas municipais do Recife foram vencedoras da OBR nos anos de 2015 e 2016, o que levou estudantes a participarem do mundial na Alemanha e no Japão. As equipes ficaram entre as 10 melhores do mundo. O programa de robótica nas escolas atende crianças do grupo 3 da educação infantil até os adolescentes do 9º ano do ensino fundamental. Cerca de 4,5 mil professores foram capacitados para atuar com a tecnologia em sala de aula. O programa contempla três modalidades: robôs feitos com blocos de encaixe da Lego Education (os mais utilizados nas competições); linha de robôs humanóides NAO (com os quais os estudantes têm contato durante aulas no Centro de Tecnologia na Educação e Cidadania - CETEC) e a linha de robótica com ferramentas, que permite a construção de objetos robóticos a partir de peças simples do cotidiano. 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...