O conteúdo da ouvida dada à delegada Carmem Lúcia, que investiga o caso, foi divulgado ontem. Danilo Paes, 23, filho mais velho de Jussara e Denirson, também está preso, suspeito de cometer o crime junto com a mãe. O outro filho do casal, Daniel, de 20 anos, que não é suspeito, está na casa dos avós em Campo Alegre de Lourdes, no Sertão da Bahia, de onde são as famílias do médico e de Jussara, que, além de marido e mulher, eram primos.
Os restos mortais foram encontrados pela polícia, esquartejados e carbonizados, em 4 de julho, cerca de duas semanas após Jussara registrar um boletim de ocorrência dando conta do suposto desaparecimento de Denirson. Em 30 de maio, o médico havia cancelado uma viagem que faria com a mulher para os Estados Unidos. Quando prestou o boletim, Jussara afirmou que ele decidiu viajar só e sumiu.
A polícia encontrou documentos, malas e outros indicativos de que Denirson não tinha viajado, e as câmeras do condomínio não registraram sua saída, levantando suspeitas sobre a esposa, que foi presa junto com o filho assim que os restos mortais foram achados. A desconfiança foi reforçada pelo depoimento de um funcionário contratado por ela para tapar o poço de 25 metros, que afirmou ter sentido um forte odor vindo do local. A motivação do crime ainda não é conhecida, mas familiares da vítima, seu filho mais novo e os empregados da casa disseram que o médico queria se separar e morar em um apartamento que possuía.
Durante o depoimento do dia 13, Jussara disse que pediu dinheiro emprestado ao pai de Denirson para pagar as contas “até que o marido voltasse” para casa. Perguntada se mandou lavar o quiosque e a área ao lado da casinha do cachorro, onde foram encontrados vestígios de sangue, ela disse que queria deixar o lugar limpo para a volta de Denirson.
Antes de registrar queixa de desaparecimento, a farmacêutica foi ao apartamento do marido com uma amiga e encontrou a maleta com R$ 1.560 e o passaporte de Denirson. Jussara disse que não sabe o que foi feito com o resto do dinheiro. Segundo ela, Denirson disse que iria a pé até o apartamento, que fica a 6 km do condomínio, o que seria normal porque o marido era praticante de caminhadas.
“Carmem Lúcia deveria ter me avisado, porque ela tem meus celulares. No início do processo, a própria delegada me disse que só me daria acesso ao inquérito se eu me habilitasse, e assim o fiz. Ela não poderia ter colhido o depoimento de minha cliente sem me avisar, sem minha presença e na presença de uma defensora. Mais para a frente, eu vou pedir a nulidade relativa desse depoimento”, disse Alexandre Oliveira.
Ele contou que só teve acesso ao conteúdo da ouvida na terça-feira à tarde, através da própria cliente, que ficou com uma cópia do depoimento e entregou ao seu advogado.