Vida Urbana

Personal dancer: profissão em alta nas noites recifenses

Dançarinos e suas clientes, sobretudo idosas, ganham os salões e desenvolvem parceria nas pistas

Eles uniram o prazer de dançar a uma maneira de ganhar dinheiro. São frequentadores assíduos dos salões de clubes e casas de shows do Grande Recife. Sempre dispostos a conversar e levar suas damas a uma viagem pelo mundo da dança, os personal dancers são figuras cada vez mais comuns nos bailes. São contratados, em sua maioria, por mulheres idosas, para serem seus parceiros na pista. O negócio, dizem os dançarinos, é lucrativo. Mas eles precisam seguir algumas regras e dar atenção máxima às clientes. Os contratos são para quatro horas, tempo médio de duração de uma festa. Os dançarinos cobram a partir de R$ 150 para cada noite de dança. Quem paga pelos serviços diz que o dinheiro é bem gasto.

Alguns profissionais já não têm espaço na agenda para atender novas clientes. Há quem tenha contratos de cinco a seis vezes por semana. Eles são estudantes universitários, concurseiros e professores de dança. O coreógrafo, professor de dança e estudante de educação física Rubens Valença, 33 anos, tem clientes todas as segundas, quartas, quintas, sextas-feiras e sábados. “Minha renda principal hoje vem da dança. Muitas clientes são minhas alunas e como existe uma carência de homens nas festas para dançar, elas acabam contratando profissionais”, ressaltou Rubens, que cursa educação física (licenciatura e bacharelado) em duas universidades.

Não existe disputa entre os dançarinos. Cada um tem sua agenda certa. A aposentada Lenita Martins de Gusmão, 67, é uma dessas clientes. Todas as segundas ela vai ao Clube das Pás, no bairro de Campo Grande, onde aproveita o baile ao lado do seu personal. “Também frequento o Clube dos Cisnes, o Blacktie Show e o Clube da Sudene. Gosto muito de dançar”, revelou.

Médicos recomendam a dança para os pacientes que podem realizar a atividade. “As pessoas idosas que dançam têm menos depressão e passam por uma mudança de hábitos”, pontuou o clínico geriatra Marcelo Cabral. De tanto se encontrarem, personais e clientes tornam-se amigos. Aprovada pela família das idosas, a relação entre eles resulta até em viagens juntos.

Não há idade na pista de dança

Dorinha e José Carlos se encontram quatro vezes por semana para dançar. Foto: Roberto Ramos/DP

Carlos acompanha a aposentada quatro vezes por semana. Por cada baile com duração de quatro horas recebe R$ 150. “Sempre gostei de dançar e há seis anos estou dançando apenas com dona Dorinha. Todas as vezes que vamos sair para dançar, pego um táxi e vou buscá-la em casa. De lá, seguimos para o local do baile. Na volta, faço a mesma coisa”, destacou o dançarino. Enquanto conversam, Dorinha e Carlos estão sempre bem pertos um do outro. Funcionários do clube dizem que ele a acompanha até a porta do banheiro e fica esperando para conduzi-la de volta à mesa. “Minha filha e todos meus parentes sabem que eu danço com Carlos. Ela (filha) frequentava algumas festas para dançar, mas de um tempo para cá deixou de vir. Então, ele é minha companhia agora”, comentou Dorinha.

[VIDEO1]A cabeleireira Maria Emília de Santana, 70, trabalha da terça-feira até o domingo. Mas as segundas são sagradas para ela. É dia de encontrar amigas e o seu par na dança, Sidney Assunção, 36. Os garçons do Clube das Pás já deixam a mesa de Emília reservada perto do palco e à beira do salão. “Há mais de 40 anos eu frequento as festas para dançar. Isso me faz muito bem. De um ano e meio para cá foi que contratei um personal para me acompanhar. Muitas vezes eu vinha para os bailes e ficava sentada porque os homens não chamavam para dançar. Agora eu danço todas as músicas que gosto. Adoro bolero, brega e música cubana”, contou Emília.

No dia em que conversamos com Maria Emília, ela havia chegado ao baile um pouco antes do seu dançarino. Como de costume, trouxe de casa duas taças dentro da bolsa. Pediu sua bebida, água mineral e água de coco. “Sidney não bebe enquanto está trabalhando, por isso peço água para ele. Às vezes, também trago um pedaço de bolo e outros lanches para ele comer durante a festa. A gente dança e quando termina o baile faço o pagamento”, ressaltou a cabeleireira. “É com o dinheiro que ganho como personal dancer que matenho minha família. Além disso, apenas uma vez por semana, dou aula de dança de salão em Caruaru e estou estudando para fazer concursos”, declarou Sidney.

Frequentadora de quatro clubes de dança no Recife, Lenita Martins de Gusmão, 67, não pisa no salão sem a companhia do seu personal, Eros Lima, 35. O estudante de direito já trabalha como dançarino há mais de cinco anos. “Me sinto muito bem quando estou dançando. É como se estivesse bailando. Dançar com Eros é ótimo”, declarou Lenita, que é viúva há cinco anos. “Estou estagiando à tarde no Procon e tenho uma microempresa de coquetéis. Minha renda principal atualmente vem dos meus trabalhos como personal dancer e microempresário. Danço com dona Lenita toda segunda-feira, mas nos outros dias tenho outras clientes”, destacou Eros.

Relação que se estende além dos salões

Ana Ferreira e Erison Oliveira viajam para participar de festas dançantes. Foto: Roberto Ramos/DP

Quando não estão nas festas que reúnem amantes da dança no Recife, Ana e Erison podem ser encontrados dançando em outros salões. Viagens para outros municípios e até outros estados também fazem parte da rotina da dupla. “Alguns grupos organizam viagens com festas em outras cidades e a gente vai para dançar. É muito divertido. Muitas mulheres vão com os seus dançarinos e todo mundo se diverte. Os rapazes são muito educados e respeitadores”, declarou a aposentada. Ana já frequentou alguns bailes sem personal dancer, mas diz que alguns homens faziam perguntas que a chateavam. “Eles perguntavam se eu morava sozinha e pediam o número do telefone para tentar uma paquera. Mas o meu objetivo era só dançar. Por isso achei melhor pagar um profissional”, afirmou Ana.

Casado e pai de duas filhas, Erison trabalha como personal dancer há 10 anos. É com essa atividade que ele sustenta a família. Nos intervalos das danças com dona Ana, ele contou um pouco sobre seu cotidiano. “Danço de cinco a seis vezes por semana. É um trabalho que eu gosto de fazer. Minha esposa entende que a relação com as clientes é profissional. Devido aos encontros que temos semanalmente, nos tornamos amigos. É uma relação de muito respeito”, destacou o dançarino. Ana, que já tem 16 netos, 14 bisnetos e um tataraneto, revela que a famíla a incentiva na dança. “Já cheguei a ter três professores de dança, mas hoje só preciso do dançarino. Meus filhos já me viram dançando e eles me dão muito apoio para continuar”, ressaltou.

Médicos ressaltam benefícios à saúde

Casais lotam o salão do Clube das Pás, um dos pontos mais procurados pelos dançarinos. Foto: Ricardo Fernandes/DP

“A dança tem uma relação direta com o envelhecimento ativo. Existem cerca de 20 mil artigos publicados no mundo relacionando a dança ao envelhecimento. Também já existem muitas pesquisas que mostram os benefícios para as pessoas idosas que dançam”, apontou Sergio Durão, geriatra do Real Hospital Português. Ainda segundo o médico, os idosos que dançam têm maior equilíbrio e tendem a ter mais força e flexibilidade. “Além desses benefícios, com a dança os idosos ainda realizam um trabalho aeróbico, pois suam e gastam energia. As pessoas que dançam de duas a três vezes por semana têm os mesmos benefícios de quem pratica atividades físicas”, completou Durão.

Outro ponto levantado pelos geriatras é a melhora no convívio social dos idosos após começarem a dançar. “Eles têm ganho na sociabilidade, pois fazem nova amizades e afastam a possibilidade de depressão”, destacou Sergio Durão. O especialista, no entanto, alerta que nem todos os idosos podem praticar dança. “É uma atividade que exige muito da pessoa. Por isso, ela não é recomendada para todos os idosos de imediato. Muita gente precisa ser acompanhada por médicos e supervisionada para que aconteça o fortalecimento muscular”, destacou.

O clínico geriatra Marcelo Cabral ressalta outras mudanças na vida dos idosos que costumam dançar, mas também lembra que é preciso uma avaliação física. “Os pacientes que dançam relatam melhorias na qualidade do sono, passam a ter mais cuidado com a alimentação e têm menos depressão, pois estão sempre em contato com outras pessoas e se divertindo. Aos meus pacientes que estão aptos, recomendo que façam dança. É uma excelente atividade”, pontuou Cabral. O médico diz que já presenciou várias idosas dançando nas festas com rapazes contratados para acompanhá-las. “É um tipo de atividade que faz muito bem para a saúde delas.”

Além da dança ter papel importante para a elevação da autoestima das pessoas, algumas mulheres sentem-se mais felizes depois de começarem a dançar com o personal. O geriatra Sergio Durão relatou que em seu consultório algumas pacientes confidenciam essa mudança. “Já houve o caso de uma paciente que era casada, mas não tinha boa relação com o marido e passou a dançar com um profissional nessas festas. Embora contasse que o rapaz era respeitador, ela me mostrava as mensagens que trocava com ele e dizia que se sentia cortejada em determinadas situações. Isso pode ser provocado pela dança, que em alguns ritmos, como tango, bolero e forró, por exemplo, evidenciam a sexualidade”, comentou Durão.

Elegância e cavalheirismo são fundamentais

Deyvson, Rubens, Sidney, Eros e Luciano trabalham como personal dancers. Foto: Ricardo Fernandes/DP

Também é regra entre os dançarinos não ficar conectado ao telefone celular no momento em que estão com as clientes. “Evitamos o máximo ficar no celular para dar mais atenção a elas. Além disso, como estamos no horário de trabalho, não ingerimos bebida alcoólica durante as festas”, completou Deyvson. Aos 40 anos, Luciano Santos já tem bastante experiência com o trabalho de personal. “Faço isso há 19 anos e sabemos que existem algumas regras a serem seguidas. Por exemplo, se vamos a uma festa mais formal que exija o uso de terno e gravata ou até mesmo de smoking, temos que entrar nesse padrão. E quanto a atender ligações de telefone ou ficar no celular, só se for em casos muito urgentes”, ensinou Luciano.

O mercado de personal dancer parece promissor no Recife. Os dançarinos costumam se encontrar sempre nas mesmas festas. Também há clientes que são amigas e preferem contratar dançarinos que já mantenham uma relação de amizade entre si. Numa segunda-feira no Clube das Pás, por exemplo, encontramos cinco dançarinos que são amigos e todos estavam trabalhando. Como manda a etiqueta, para dar entrevista e posar para fotos, os personal dancers Deyvson Bertos, Rubens Valença, Eros Lima, Luciano Santos e Sidney Assunção precisaram pedir autorização às suas clientes. Depois, a dança continuou. E assim acontece todas as semanas.

Onde dançar:

Clube das Pás

Rua Odorico Mendes, 263 - Campo Grande, Recife

Todas as segundas-feiras, sextas-feiras, sábados e domingos, a partir das 17h

Fone: 3242-7522

Clube Sargento Wolff

Rua Sargento Wolff, 113 - Afogados, Recife

Todas as terças-feiras, a partir das 18h30

Fone: 3428-1677

Clube da Sudene

R. Antônio Curado, S/N - Engenho do Meio, Recife

Todas as quartas-feiras e domingos, a partir das 17h

Fone: 3271-1994

Clube Blacktie Show

Rua Manoel Bezerra, 326 - Madalena, Recife

Todas quintas-feiras, a partir das 19h, sextas-feiras e sábados, a partir das 21h

Fone: 3037-4084

Manhattan Café Theatro

Rua Francisco da Cunha, 881 - Boa Viagem, Recife

Todas as quartas-feiras, quintas-feiras, sextas-feiras e sábados

Fone: 3325-3372

Akrópolis Caxangá

Rua São Francisco de Paula, 103 - Caxangá, Recife

Todas as quintas-feiras a partir das 17h

Fone: 3453-6989

Seresta dançante

Restaurante Paladar Nordestino

Avenida Presidente Dutra, 451, Imbiribeira, Recife

Todas as quartas-feiras e sextas-feiras, a partir das 19h, e domingos às 17h

Fone: 3074-7578

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