A 20 km dali, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a movimentação é parecida. Em uma casa de muro alto e sem identificação na área externa, mulheres viram de um lado para o outro com biquínis feitos artesanalmente com fita adesiva. De 10 em 10 minutos, recebem um jato de água sobre o corpo para não desidratar. Suco natural, picolé de frutas e água são cortesias da casa. Antes de serem expostas ao sol, as clientes são orientadas a tomar um café da manhã reforçado.
O procedimento só é realizado em horários em que a luz solar não agride tanto, por isso, só acontece pela manhã. Por lá, circulam empresárias, juízas, desembargadoras e modelos. “Recebemos mulheres com perfis variados, de jovens a idosas, mas todas com o mesmo objetivo: conquistar o bronze perfeito. Elas saem daqui renovadas, sensuais e com a autoestima elevada”, afirma a proprietária da Bronzeado Natural, a empresária Jarline Cabral.
A moda do bronzeamento com fita adesiva surgiu em Goiás, há mais de 20 anos. Depois de se popularizar no Centro Oeste, foi copiada no Rio de Janeiro, onde o “bronzeamento na laje” ficou famoso. Em Pernambuco, a tendência chegou há pouco mais de um ano e rapidamente conquistou adeptas de todas as classes sociais. “O tecido (do biquíni comum) muda muito de lugar e deixa o bronze com falhas. Com a fita adesiva, a marca fica top, perfeita”, defende a dona do espaço em Olinda, a esteticista e empresária Eliza Cristina, a Eliza Bronze. “Muitas mulheres têm vergonha de ficar bronzeando na praia ou em piscinas, sendo observadas. Aqui, garantimos privacidade, conforto e segurança”, destaca Jarline.
O expediente no quintal de Ouro Preto começa cedo. Por volta das 7h, as primeiras clientes começam a chegar. As de pele mais clara têm preferência no início da agenda. Às 10h, a casa já está “bombando”, segundo a proprietária, a esteticista Eliza Cristina. A clientela vem de todas as partes do estado. “Recebo muita gente de Olinda, mas também tem do Recife, Caruaru e até de Garanhuns”, conta Eliza. A estudante Cynthya Cybelle, 21, é uma das clientes fiéis do espaço. Sai da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, para pegar sol em Ouro Preto. “Me sinto maravilhosa com esse bronze. Sempre tentei na praia, mas não conseguia esse resultado”, diz.
O valor promocional de verão da sessão de bronzeamento é R$ 60. Se a cliente levar uma amiga, o preço cai para R$ 55. O pagamento da taxa inclui massagem com esfoliantes, supervisão na exposição ao Sol e banho de Lua (clareamento dos pelos). “Tomamos cuidados e orientamos a cliente a continuar se hidratando após a sessão. Também só usamos produtos (de ativação de melanina) aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, afirma Eliza Bronze.
Apesar das medidas, o espaço ainda não tem alvará de funcionamento emitido pela Prefeitura de Olinda. “Já fui lá algumas vezes, mas me pediram para voltar depois do carnaval porque estão muito ocupados”, explica. A Prefeitura de Olinda, por outro lado, informou que os alvarás estão sendo emitidos normalmente. “Não existe na administração pública a orientação para que as pessoas retornem após o carnaval. Inclusive, só em janeiro deste ano, a Secretaria de Meio Ambiente Urbano e Natural já expediu 145 alvarás de funcionamento. As solicitações podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30”, respondeu a gestão municipal, por nota.
O primeiro passo é preencher uma ficha com orientações gerais. No papel, quem vai passar pelo bronzeamento precisa informar se está alimentada e hidratada, um contato para casos de emergência e afirmar estar ciente de que é preciso seguir à risca as orientações das profissionais. “Toda a nossa equipe trabalha com roupas com proteção UV e oferece todos os cuidados para que o procedimento aconteça com segurança. Nunca tivemos problemas”, afirma a proprietária do estabelecimento, que tem um ano e dois meses de funcionamento, Jarline Cabral.
No Recife, o funcionamento de clínicas que oferecem serviços estéticos como bronzeamento é regulamentado pela Vigilância Sanitária. Segundo a gerente do setor de Serviços de Saúde e Medicamentos da Secretaria de Saúde do Recife, Rosemare Sales, a prefeitura desconhece espaços que usam fitas isolantes para bronzear. “As fitas adesivas são feitas para outros fins, como para serem usadas em obras. Se elas têm cor, pior ainda, pois contêm chumbo e outros elementos nocivos à pele. Como não foram fabricadas para serem usadas no corpo, não são reconhecidas pela Anvisa”, alerta.
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Câncer e envelhecimanto entre os riscos
Maior chance de desenvolver câncer de pele e envelhecimento precoce são os principais riscos aos quais as mulheres que fazem sessões de bronzeamento, mesmo natural, estão expostas. Os perigos relacionados ao procedimento levaram os dermatologistas a alertarem sobre a necessidade de ter cautela no momento de procurar o serviço. Especialistas indicam que se deve tomar Sol gradativamente (e não em sessões longas) e nos horários mais adequados (até as 10 horas e após as 16h).
A exposição progressiva pode, inclusive, evitar queimaduras solares e outros problemas. No entanto, de acordo com a dermatologista Marcia Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e professora do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), os raios solares têm efeito cumulativo e sempre geram danos à pele. “Ao longo dos anos, o problema tende a se acentuar, causando o envelhecimento precoce e podendo levar ao surgimento de câncer”, explica.
O ideal, segundo a médica, é aplicar protetor solar a cada duas horas quando estiver exposto ao sol em áreas abertas, como praia ou piscina. “Embora alguns filtros sejam mais resistentes, também acabam saindo com o suor ou com o contato prolongado com a água”, afirma.
Para evitar longos períodos de exposição ao sol, mas conseguir um tom de pele bronzeado e saudável, o conselho é consumir alimentos ricos em betacaroteno.
“Trata-se do um percussor de vitamina A, importante na produção de melanina (pigmento da pele). Ele pode ser encontrado na laranja, manga, mamão, beterraba, jerimum, cenoura, espinafre e rúcula. Além de proporcionar uma cor bronzeada, a substância também atua como antioxidante, ajudando a proteger o DNA das células da pele contra a radiação ultravioleta”, pontua.
Entrevista >> Marcia Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora do Hospital das Clínicas/UFPE
Apesar da rápida popularização do serviço de bronzeamento com fitas, dermatologistas pedem cautela na hora de se expor ao sol. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) não recomenda esse tipo de procedimento devido a possíveis danos que podem ser causados na pele. “Existe o risco de queimaduras, que podem ser graves, levando a manchas e cicatrizes permanentes. A depender da substância utilizada como acelerador de bronzeamento, pode acontecer também uma irritação local da pele com vermelhidão e queimação ou um processo alérgico. Outra grave consequência é a desidratação”, ressalta a dermatologista Marcia Oliveira. Confira entrevista.
O resultado do bronzeamento depende de quais fatores?
A exposição ao Sol estimula o surgimento de uma pigmentação na pele não permanente, o bronzeamento. Na realidade, esta é uma resposta de defesa contra a radiação ultravioleta e é consequente ao aumento da liberação de melanina (pigmento que dá cor à pele) que atua como protetor natural. Cada pessoa vai apresentar um bronzeado particular, pois é influenciado pela cor da pele (melanina), determinada geneticamente. Além da genética, o horário e o tempo de exposição, e as condições geográficas e climáticas também influenciam no bronzeado.
Como conquistar um bronzeado saudável?
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) não aconselha a prática do bronzeamento, mas a proteção da pele durante períodos de exposição ao Sol. Durante a exposição, algumas medidas devem ser tomadas com o objetivo de proteger a pele. Deve-se usar um protetor adequado, chapéus, bonés e óculos escuros. O protetor solar deve ser aplicado em toda área corporal não coberta pelo menos 30 minutos antes da exposição. A pessoa deve ainda observar no rótulo do produto o selo de acreditação da SBD e a presença dos fatores de proteção contra UVA e o FPS, que deve ser, no mínimo, 30. Não basta utilizá-lo uma vez. É preciso renovar a aplicação a cada duas horas, principalmente, se a pessoa teve contato com a água. Para as pessoas que querem manter uma aparência bronzeada, são alternativas os autobronzeadores e a maquiagem com efeito bronzeado, pois não agridem a pele.
O que a pessoa deve fazer após a exposição ao Sol?
Durante o processo, é preciso ter muita atenção ao risco de queimaduras da pele e à desidratação. Assim, deve-se tomar bastante água, repor o filtro solar a cada duras horas e hidratar constantemente a pele. Após o período de maior exposição, deve-se manter o uso diário do filtro solar, hidratar bem a pele com cremes adquados e ingerir, em média, dois a três litros de água por dia.
Dermatologista comenta cuidado na hora de bronzear:
Bronzeamento natural com fita adesiva
Como é: procedimento que envolve exposição da pele ao Sol sendo, muitas vezes, utilizados “aceleradores” de bronzeamento, o que aumenta o potencial de queimadura da pele.
Atenção: o uso de biquínis adesivos, fitas isolantes e esparadrapos pode facilmente causar dermatite de contato alérgica (o que já é muito frequente com o uso habitual do esparadrapo, sendo pior com a fita isolante ou outros adesivos quando em contato com a pele). Considerando a exposição ao sol, vale destacar o risco de descolamento da pele durante a retirada do adesivo ou esparadrapo. Os esparadrapos e adesivos estão entre as causas mais frequentes de dermatite de contato alérgica, certamente, não será infrequente este tipo de problema.
Cremes e bronze a jato
Como é: os cremes autobronzeadores e o bronzeamento a jato são feitos à base de dihidroxiacetona (DHA), que é uma substância que reage quimicamente com a camada mais superficial da pele, conferindo um aspecto de bronzeado natural.
Atenção: não devem fazer uso destes métodos as pessoas alérgicas aos produtos e aquelas em uso de tratamentos com ácidos. A esfoliação prévia da pele confere um efeito mais uniforme e duradouro. Vale lembrar que essas substâncias não têm o efeito de proteger do Sol, assim, não descartam a necessidade do uso de filtro solar.
Maquiagem bronzeadora
Como é: são bases, pós, corretivos e iluminadores que tonalizam a pele de forma não permanente, não envolvem reação química, e o efeito perdura até que seja removida com lavagem da área.
Atenção: em geral, são contraindicadas apenas para as pessoas alérgicas.
Refrigerante, parafina, óleo, manteiga
Como é: os óleos (independente do tipo), a manteiga, a parafina, assim como, os refrigerantes a base de cola quando em contato com a pele exposta ao Sol causam queimaduras (não bronzeamento) que podem ser graves, com consequente formação cicatrizes e manchas.
Atenção: risco de desencadear uma dermatite de contato, com irritação, vermelhidão e descamação da área do contato.
Fonte: Dermatologista Marcia Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora do Hospital das Clínicas/UFPE
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