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Dia dos Finados Psicóloga analisa mudanças no comportamento humano diante do luto Em entrevista, Andréa Botelho comenta transformações na relação das pessoas com a questão da perda

Publicado em: 29/10/2016 10:10 Atualizado em:

Psicóloga é autora do livro A cicatrização do luto - quando chega a morte. Foto: Blenda Souto Maior/DP
Psicóloga é autora do livro A cicatrização do luto - quando chega a morte. Foto: Blenda Souto Maior/DP
Às vésperas do Dia de Finados e diante de muitas mudanças em relação ao comportamento humano a respeito da morte, a psicóloga clínica e mestre em psicologia na área de luto e família Andréa Botelho conversou com o Diario sobre esses assuntos. O resultado você acompanha na entrevista a seguir:
 
O que mudou na questão do luto das pessoas com o passar dos anos? 
Chama-nos bastante atenção na contemporaneidade o fato das pessoas enlutadas hoje em dia buscarem com muita frequência as redes sociais como ferramenta de elaboração do luto. Elas servem também como um meio de minimizar as angústias e o medo que envolve o homem com as questões do envelhecimento e da morte. Essa é a mudança mais evidente na atualidade. 

Como as famílias tratam a partida de um ente querido? 
Quanto mais amor investido no relacionamento afetivo, quanto mais convivência, naturalmente o desapego sofrerá mais impacto com a perda física daquele elemento da família. Muitos familiares se descrevem como se estivessem morrendo junto com aquela pessoa que partiu, como se a vida não tivesse mais o mesmo colorido de outrora ou até mesmo como se o sentido de continuar vivo tivesse perdido também junto com quem se foi. Isso vai depender também de alguns fatores que eu chamei no meu livro A casa: um olhar sob(re) as janelas da morte por violência na família de fatores intervenientes no luto. São alguns deles: a idade da pessoa perdida, importância no ciclo de vida da família, a natureza da morte (se violenta ou trágica complica mais o luto), se a pessoa que faleceu tinha muitos sonhos ainda por serem realizados, se havia segredos na família, o lugar que a pessoa ocupava e as funções que ela tinha na família (por exemplo, se era a pessoa-eixo do lar, se era arrimo de família, se era a alegria da casa ou se representava a força daquele lar), e assim por diante. 

Que costumes eram normais antigamente e agora não existem mais? 
Hoje tem até música animada em velório, em homenagem póstuma àquele que partiu. Os velórios têm sido mais curtos, as pessoas hoje têm mais pressa de viver, não desejam se demorar na fase da dor, da angústia e da tristeza... Antigamente, o luto se manifestava até através das roupas das pessoas. O silêncio diante do fenômeno fazia com que as pessoas tivessem por mais tempo embutido em si mesmas a dor da saudade, até que aquela angústia se tranformasse em melancolia (que nada mais é do que o luto patológico). 

Qual a melhor maneira de se viver o luto? 
Podemos constatar que a tristeza e a depressão como reação à perda de um ente querido são processos naturais a esse tipo de mudança no ciclo de vida da família. Porém, ajuda muito na elaboração de um luto sadio, a presença e o apoio da família e dos amigos na sua superação. Independentemente do pesar se prolongar ou não, o ideal seria que as pessoas em vivência de uma situação de luto pudessem buscar uma ajuda especializada em aconselhamento no luto ou em psicoterapia do luto, que são duas coisas diferentes. A primeira são sessões esporádicas onde o familiar recebe algumas orientações como se portar de modo a favorecer a si mesmo a experiência de um luto sadio. A segunda proposta se refere a um tratamento psicológico propriamente dito, com um profissional especializado na área de luto, já que o modo de intervir muda bastante em relação ao profissional que trabalha com a clínica de um modo geral.


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