Vida Urbana

Conheça a única mulher que trabalha na Motolância

Estudante de enfermagem trabalha 12 horas por dia fazendo atendimento de urgências sobre duas rodas

Jussara diz que as pessoas ficam surpresas quando ela chega num acidente e tira o capacete. Foto: Paulo Paiva/DP

Jussara mora com os pais e com a filha de 14 anos. O dia dela começa às 5h40, quando acorda a filha, toma café da manhã e se arruma para ir trabalhar. Sai direto para a sede do Samu, no bairro da Boa Vista, onde inicia o serviço como socorrista. Por dia, a quantidade média de atendimentos realizados por ela varia de seis e oito ocorrências.

Segundo Jussara, a maioria desses casos são de acidentes entre motos e carros. “Também atendemos casos de quedas, tentativas de suicídio, paradas cardiorrespiratórias e partos”, contou a socorrista. Quando termina seu plantão no Samu, Jussara vai estudar. Atualmente, ela cursa o 9º período de enfermagem na Faculdade Integrada de Pernambuco (Facipe).

Na turma em que Jussara fez o curso para ser socorrista havia mais uma mulher, que não conseguiu ser aprovada. “Quando entramos no curso, o professor nos chamou e disse que não nos trataria como ‘mulherzinhas’, que ali receberíamos o mesmo tratamento dos homens. Mesmo assim, decidi ficar”, contou. Jussara relatou que, durante o treinamento, quando fazia um resgate utilizando uma escada, ela caiu.

Por conta do acidente, foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foi informada pelo médico que a atendeu de que sentiria dores fortes nas costelas por pelo menos 15 dias, o que não foi impedimento para concluir seu treinamento. Jussara conta que logo após receber alta hospitalar voltou para concluir o dia de treino. Seus colegas ficaram surpresos com a sua determinação. “Muitos colegas homens me disseram que não aguentariam, que teriam desistido”, orgulhou-se Jussara.

Mesmo tendo se tornado a única mulher a trabalhar na modalidade em Pernambuco, Jussara disse que não passou por preconceito direto por parte de colegas, mas que a sua presença ainda causa estranhamento em alguns atendimentos. “Muitas vezes, quando tiro o capacete, as pessoas se assustam”, ressaltou.

Dos dois anos anos que trabalha como socorrista, Jussara conta que o caso que mais a emocionou foi de um idoso em São Lourenço da Mata. Ele teria sofrido um traumatismo craniano e toda uma comunidade havia se mobilizado para ajudar o idoso. Quando o socorro chegou, os moradores comemoraram e foi feito o atendimento. Assim que a ambulância chegou, o homem foi colocado na maca e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Derby. Ela conta que se sente realizada como socorrista de motolância. “A motolância nem sempre foi um sonho, pois só conheci aqui, mas adoro o que faço. E só saio da motolância se me tirarem, porque eu não quero sair. Gosto muito do que eu faço”, declarou.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...