Vida Urbana

Desabastecimento de medicamentos na Farmácia de Pernambuco penaliza pacientes

Portadores de doenças pulmonares ou do vírus HIV estão entre os mais prejudicados

Secretaria de Saúde informa que os medicamentos estão em processo de compra e em até 30 dias chegará novo estoque capaz de abastecer os pacientes por seis meses. Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Desde fevereiro, a aposentada Maria de Lourdes Lima não recebe a medicação e tem de arcar com os altos preços dos remédios: "Essa é primeira vez que acontece um atraso grande". Foto Rodrigo Silva/ Esp. DP/ D.A.Press

A dona de casa Maria Clara Cintra também sofre com os atrasos na unidade da Boa Vista. Sobrinha de uma pessoa esquizofrênica, está desde o dia 3 de abril sem retirar o medicamento que a tia precisa. “Minha tia não pode ficar tanto tempo sem tomar o remédio. Sempre que ligamos para a farmácia, respondem que não receberam o medicamento e nem há previsão de chegada. É uma medicação cara, e não temos condição de comprá-la. Essa não é a primeira vez que isso acontece. Já soubemos de muitos casos de pessoas com outras doenças e que também estão enfrentando atrasos”, conta.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde informou que os medicamentos estão em processo de compra e em até 30 dias deverá chegar um estoque de remédios capaz de abastecer os pacientes por seis meses.

Portadores do vírus HIV são outros a enfrentarem o problema. De acordo com dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2014, Pernambuco é o estado do Nordeste com maior número de infecções e óbitos por causa básica de AIDS. Pacientes com a doença têm sofrido com o desabastecimento dos medicamentos antirretrovirais (remédios que impedem a multiplicação do vírus no organismo e ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico) nos hospitais de referência em HIV e AIDS do estado.

A falta frequente dos remédios foi denunciada ao Ministério Público Estadual de Pernambuco, que convocou uma audiência para tratar do caso, especialmente sobre a falta do medicamento metacrilato, importante para o tratamento da lipodistrofia (síndrome da redistribuição de gordura) na última sexta-feira (17). O encontro reuniu representantes da Gestos (instituição que defende os direitos das pessoas soropositivas), da RNP%2b Brasil (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids), da Secretaria de Saúde de Pernambuco, e dos hospitais IMIP, Oswaldo Cruz e Correia Picanço.

Na ocasião, ficou decidido que a Secretaria de Saúde irá adquirir o metacrilato e distribuí-lo às unidades de saúde enquanto não houver o reajuste do valor da substância na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). Como o valor da tabela está ultrapassado, a compra do medicamento é dificultada, já que o valor repassado não cobre o custo do remédio. Até que a tabela seja ajustada, o governo do estado fará a compensação para que não haja a falta do medicamento. A Secretaria também realizará, em 30 dias, um curso de capacitação com os farmacêuticos da Superintendência Administrativa Farmacêutica (SAF), a fim de evitar os problemas relacionados à gestão de estoque.

A advogada da Gestos Kariana Guérios, que acompanhou a audiência, aprovou o encontro. “Achei a reunião bastante produtiva, já que o estado se comprometeu a verificar o problema. Também há dificuldades com os fornecedores e com os farmacêuticos, acredito que haja um problema de logística. As pessoas soropositivas não podem ficar um dia sequer sem tomar os antirretrovirais. Quando isso acontece muitos acabam inclusive abandonando o tratamento”, explica.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que todos os medicamentos antirretrovirais são adquiridos pelo Ministério da Saúde e redistribuídos pelas secretarias estaduais de Saúde. Há quatro medicamentos sem estoque ( Enfuvirtida, Maraviroque, Saquinavir, Zidovudina) e outros em atraso.

O Ministério da Saúde respondeu em nota que não há falta de medicamentos antirretrovirais em Pernambuco e que eles são distribuídas de forma a assegurar a cobertura por até 4 meses nos estados. O Ministério disse ainda que cada estado é responsável por determinar a quantidade de remédios em cada local de entrega, o que não significa que haja falta de remédios para os pacientes. Sobre os medicamentos citados pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, o Ministério afirmou que o remédio Enfuvirtida conta com 1.590 frascos ampolas. Já o Maraviroque dispõe de 1.500 comprimidos. O Saquinavir, por sua vez, tem 2.160 cápsulas em estoque. Por fim, há 52.000 cápsulas do Zidovudina. O Ministério concluiu reiterando que esses estoques são suficientes para atender a população de Pernambuco.

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