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Notícia de Turismo

Eurásia

Uma nova Moscou sob as bênçãos de Pedro

Passado e presente dialogam na região onde galerias, restaurantes e bares despontam como alguns dos novos segredos da cidade

Publicado em: 23/06/2018 11:55

Estátua do primeiro imperador russo se impõe a 100 metros de altura no rio Moscou com o canal Vodootvodny, na ilha Bolotny. Foto: Sygic Travel Maps /Reprodução
Em aço, bronze e cobre, encravada ao encontro do Rio Moscou com o Canal Vodootvodny, na Ilha Bolotny, a versão monumental de Pedro, o Grande — fundador do Império Russo (1721), cujo reinado iniciado em 1682 se estendeu até 1721 — ergue-se a quase 100 metros. 

Moscovitas e turistas travam uma polêmica batalha de avaliação estética sobre o monumento projetado por Zurab Tsereteli e inaugurado em 1997 em homenagem aos três séculos da Marinha Russa. Se belo ou pavoroso, desapercebido não passará jamais. Esse gigante de mil toneladas é dedicado ao homem que transformou o velho reino numa potência marítima, e, ao transferir em 1713 a capital russa de Moscou para São Petersburgo, abriu ao país, que abatera os suecos na Grande Guerra do Norte (1700-1721), o Mar Báltico e o Ocidente.

Dependurada sobre o Rio Moscou, é da sacada do Restaurante & Clube Reka, último andar da antiga fábrica de chocolate Red October, que Pedro o Grande desponta com impressionante vigor. Dali, não apenas as cores vibrantes do pôr de sol moscovita são mais intensas, como a inovação cultural se confronta com a tradição da fé que invade a Rússia. Red October se transformou nas últimas décadas num centro de arte e diversão, propulsor de um pujante berço hipster. Por detrás das paredes vermelhas, indecifráveis fachadas, estão galerias, produtores, designers, exposições, restaurantes, bares … enfim, alguns dos novos segredos de Moscou.

Edificação é um marco histórico e arquitetônico no país. Foto: Wikimedia Commons
É de uma das varandas dessa antiga fábrica, que conserva a referência revolucionária que a rebatizou, onde Moscou do presente, do passado e do futuro dialogam. À direita, rio acima, o olhar sobre a sua fundação se imprime nas muralhas do Kremlin. À frente, na margem oposta, anunciam-se as cúpulas douradas da reconstruída Catedral de Cristo Salvador, no melhor estilo da arquitetura ortodoxa russa e da ressurreição do sagrado, que fundou o Estado russo, foi abolido pela Grande Revolução Socialista de 1917 e renasceu das cinzas em mil e um domos. À esquerda, a Nova Tretyakovka, que guarda a mais completa e diversa coleção de artes do país do século 20, com exposições de vanguardistas como Malevich, Kandinsk, Chagall e não conformistas dos anos 60 e 70, que rechaçavam qualquer imposição de estilos.

Na mesma direção, às margens do Rio Moscou, o Gorky Park — homenagem a Maxim Gorky (1868-1936) —, mistura suntuosas edificações do século 18 e início do 19 — duas delas obras do arquiteto Mikhail Kazakov, autor do Palácio do Senado, no Kremlin — com florestas, jardins, teatros, enfim, velhas e novas diversões. É nesse parque, que celebra a memória de uma obra em busca da transfiguração do mundo marcado por injustiças, onde Moscou também persegue o seu futuro. Nas palavras de Gorky: “A felicidade sempre parece pequena quando a temos, mas, deixe-a partir e aprenderá o seu valor”.

Temperaturas mais amenas tornam o lugar mais aprazível. Foto: Sygic Travel Maps /Reprodução
Red October é a revolução em movimento. Em 1917, nas palavras de John Reed, o marco dos “dez dias que abalaram o mundo”. Entre 25 e 26 de outubro do calendário juliano, tomaram a chamada Petrogrado — São Petersburgo — e anunciaram uma nova estrutura de poder, que impactou mundo a fora todos os estados modernos. Para não perder os dedos, a ideia do bem-estar social prosperou na Europa. Mas a velha fábrica vermelha de chocolates também celebra novos dias, novas revoluções, em que a liberdade política pede passagem.
 
Convento das Donzelas viu o nascer do império

Encarcerada na Torre de Naprudnaya, uma entre as 12 do Convento-fortaleza de Novodevichy, Sophia Alekseyevna (1657-1704), regente do Czarado da Rússia entre 1682 e 1689, perdera a disputa política para o seu meio-irmão Pedro 1º, que entraria para a história como Pedro, o Grande (1672-1725), primeiro imperador da Rússia. Pela estreita janela, o campo de visão de Sophia não alcançava o Rio Moscou, que corria ao largo das muralhas. Mas, antes, era dirigido aos corpos suspensos dos rebeldes, a quem ela apoiara nove anos depois do seu aprisionamento na revolta dos regimentos Streltsy (1698). Sophia, que aquele convento reformara e embelezara enquanto nele vivera nos anos da minoridade de seu irmão Ivan 5º e de Pedro, período em que, com mão de ferro regera a Rússia, ali morreu e foi enterrada.

Das brancas muralhas do Convento de Novodevichy, por vezes traduzido como Convento das Donzelas, saltam Storres vermelhas, cúpulas douradas e prateadas que coroam a catedral, igrejas e torres. Encravada numa das curvas do Rio Moscou, a obra-prima da arquitetura ortodoxa russa é considerada uma das mais belas do país. Erigida entre os séculos 16 e 17, tinha também o claro propósito defensivo, antecipando ao Kremlin o alarme a qualquer sinal de batalha ou ameaça externa proveniente daquele flanco.

Com cinco domos em formato de poderosos capacetes ao topo de uma estrutura de formas simples, a Catedral de Nossa Senhora de Smolensk, à semelhança da Catedral da Dormição do Kremlin, foi a primeira a nascer ali, em 1524, por obra do grande príncipe de Moscou Basílio 3º, que reinou entre 1505 e 1533. Foi dedicada ao ícone da Virgem Hodegétria de Smolensk (Aquela que mostra o caminho) para celebrar a reconquista do território de mesmo nome, sob domínio dos lituanos: as antigas terras de Rus (Rússia Kievana) haviam sido reunificadas.
Todo o complexo soma 14 edificações, entre as quais, além da Catedral de Nossa Senhora de Smolensk (1524-1525), um santuário, o campanário (1683-1690), que se eleva a 72 metros com a sua Igreja de Barlaão e Josafá, duas capelas e outras quatro igrejas, prédios residenciais e de serviços. Diferentemente da primeira catedral de pedras brancas e formas retas, coroada pelas cúpulas ortodoxas do século 16, a maior parte delas é do século 17 e foi feita por Sophia Alekseyevna, no curto período de sua regência, dentro do estilo denominado Barroco de Moscou.

Sophia Alekseyevna não foi a primeira nem a última nobre exilada no Convento de Novodevichy, ligado aos grandes momentos da história russa. Para lá, o seu meio-irmão, Pedro, o Grande, também despacharia a primeira esposa, a czarina Eudoxia Feodorovna Lopukhina, para casar-se com aquela que ficou conhecida como Catarina 1ª da Rússia — reinou entre 1725 e 1727.

O Convento de Novodevichy foi igualmente o destino da czarina Irina Godunova, que, aos 41 anos, ficou viúva do czar Teodoro 1º. Antes de se tornar freira, ela assumiu o comando da sucessão do trono, entregando-o ao seu irmão Boris Godunov  entre 1598 e 1605.  
 
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