“É a primeira droga para DA há quase 20 anos, é natural que gere expectativa nos pacientes e suas famílias, até porque ela abre uma janela, não para a cura, mas para a melhor qualidade de vida de quem tem a doença em sua fase prodrômica à demência leve”, destaca o neurologista e professor da UPE, Paulo Brito.
A fase prodrômica, segundo o médico, é conhecida como comprometimento cognitivo leve, ainda com diagnóstico controvertido quando a causa do problema é a DA. A pesquisa dos Estados Unidos – a qual teve a participação do médico Paulo Brito, entre outros especialistas no Brasil, no início do estudo - foi realizada até a fase 3 com o objetivo de retardar a progressão da doença.
“É necessário que haja a fase 4 do estudo, farmacovigilância, para comprovar se há, a longo prazo, a melhora cognitiva ou diminuição da progressão da doença, bem como, possíveis reações ao novo medicamento”, explica Brito.
Para a neurologista e professora da UPE, Carolina Cunha, é preciso maior tempo de observação dos benefícios do Aducanumab. “Quando a pesquisa científica identifica possíveis alvos terapêuticos nas doenças neurodegenerativas, há uma expectativa positiva. Entretanto, os resultados dos benefícios a longo prazo ainda precisam de maior tempo de observação. Também é importante lembrar que a autorização de todo novo fármaco no Brasil requer análise e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]”, alertou Cunha.
A empresária autônoma Nazaré Caldas, 57 anos, é umas das pessoas que vivencia a realidade da DA na família. Sua mãe, Laura Duarte, 75, descobriu que tem Alzheimer há três anos. A notícia do novo remédio deixou Nazaré feliz mesmo sabendo que não servirá para sua mãe. “Essa notícia me deu uma sensação tão boa porque existe uma esperança de tratamento para essa doença tão cruel. O remédio não servirá para a minha mãe que já está num estágio avançado da doença, está com dificuldade para andar, não reconhece mais ninguém”, conta. O ‘ninguém’ que Nazaré fala a inclui. “Eu digo: mãe, você me pariu, sou sua filha, me dá um abraço. Ela me olha e sorri sem entender”, relata a filha.
Doença
As formas da doença se dividem em fase leve, nesse caso o paciente precisa ser supervisionado; fase moderada, apresenta dependência e leve sinais de delírios; fase severa, o paciente apresenta-se dependente e com incontinência urinária; fase profunda, o doente não consegue se comunicar, não tem autonomia e nem independência; e, por fim, a fase terminal, o paciente encontra-se restrito ao leito, em uso de gastrostomia (alimentação por sonda no abdômen), duplo relaxamento de esfíncter e abulia cognitiva (não reage a nada, nem mesmo a dor de uma fratura).
Dos sintomas de DA, o mais característico é a perda da memória recente em 70% dos casos. Com a progressão da doença, vão aparecendo outros sinais como falha na linguagem, desorientação espacial, entre outros.