LEGISLATIVO
Uso de linguagem neutra em escolas do Recife esquenta debate na Câmara Municipal
Por: Renan Franza
Publicado em: 18/05/2023 09:00
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Foto: Divulgação |
O projeto de lei do vereador Fred Ferreira (PL) que visa proibir o uso da linguagem neutra nas escolas da rede municipal de ensino do Recife tem dividido opiniões entre os parlamentares da capital pernambucana. O autor do texto, na justificativa da matéria, alega que a adoção e implementação da nova forma linguística seria “condenada por vários estudiosos”, e cita que “a Argentina proibiu o uso desse tipo de flexão da língua, após um amplo debate".
“Não tem sentido essa alteração. A língua portuguesa é perfeita e ampla. Só não é democrática para quem pretende utilizá-la para militância ideológica e agenda política”, opinou o vereador. O parlamentar ainda alegou que o uso da linguagem neutra “prioriza a população LGBT não-binária”, e segregaria outros grupos, como autistas e disléxicos, por “inibir o processo de entendimento gráfico”.
Oposição
À reportagem do Diario de Pernambuco o vereador Ivan Moraes (PSol) chamou de “esdrúxulo” o projeto. “Em seu texto, ele nem se refere a práticas educacionais, mas ao veto do uso de determinada forma linguística no interior de unidades educacionais. Como se a língua não fosse viva. Como se fosse possível legislar sobre a forma como todas as pessoas se comunicam no interior de uma unidade educacional. É um projeto que evidencia muito preconceito e pouco amor às pessoas e à língua portuguesa", criticou.
O que dizem os especialistas
O Diario também consultou a mestra em Educação e doutora em Comunicação Andrea Trigueiro, coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), sobre o uso da linguagem neutra em instituições de ensino.
A professora explicou que a utilização dos chamados “pronomes neutros” não substituem e nem tampouco suprimem a linguagem gramatical tradicional. “Existem outras maneiras de incluir àqueles que não se identificam com os pronomes masculino e feminino, mas essa discussão tem sido trazida à tona por uma extrema-direita fundamentalista que apenas reforça os seus preconceitos contra esses grupos sociais”, afirmou.
A doutora, no entanto, disse que a pauta não é consenso entre os professores, e que existe ampla discussão na academia e no ensino superior. “Muitos profissionais optam por utilizar a linguagem que se refere a grupos como ‘a gente’ e ‘nós’, que é uma outra forma de incluir a todos”, complementou.
“Precisamos jogar luz a este tema e trazer para o debate todas as partes envolvidas, sejam professores, educadores, pais e alunos. O que não pode haver é esse preconceito em torno da discussão”, concluiu.
“Precisamos jogar luz a este tema e trazer para o debate todas as partes envolvidas, sejam professores, educadores, pais e alunos. O que não pode haver é esse preconceito em torno da discussão”, concluiu.
A votação
O projeto seria votado na última terça-feira (16), mas foi retirado da pauta do dia a pedido do próprio autor. Fred alegou que o motivo seria a ausência do presidente da Câmara Municipal do Recife, Romerinho Jatobá (PSB), que havia se licenciado da função para acompanhar a assinatura do empréstimo no Banco Internacional do Desenvolvimento (BID) junto ao prefeito João Campos (PSB), em Washington, nos Estados Unidos.
A discussão deve ser retomada em breve. Por ora, cabe ao PSB o poder de decisão - a bancada do partido forma ampla maioria na Casa de José Mariano.
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