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ENTREVISTA

'Vamos crescer mais do que o Nordeste e o Brasil nos próximos anos', diz João Campos

Publicado em: 01/01/2021 10:00 | Atualizado em: 01/01/2021 20:06

Crescimento, vacinação e educação são metas de João Campos em 2021. (Foto: Rodolfo Loepert/Divulgação)
Crescimento, vacinação e educação são metas de João Campos em 2021. (Foto: Rodolfo Loepert/Divulgação)
Empossado hoje como o mais jovem prefeito da história do Recife, João Campos (PSB) quer colocar a capital pernambucana no pódio da educação brasileira. Esta, segundo ele, será a principal missão de sua gestão. O prefeito do Recife concedeu entrevista ao Diario em uma sala espaçosa de empresarial no bairro de Santo Amaro, com ampla vista para o Centro e onde estão exibidas peças de artistas locais, além de um porta-retrato em que aparece ao lado da companheira, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). Na conversa, falou sobre o desejo de ver a cidade como referência nacional. “Vamos crescer mais do que o Nordeste e o Brasil nos próximos anos”, afirmou. João Campos respondeu ainda sobre como a gestão municipal se prepara para vacinar a população contra a Covid-19 e acerca dos desafios que enfrentará em 2021 para fortalecer a economia local.

João, queremos começar esta entrevista com o assunto que mais interessa aos recifenses e aos brasileiros em 2021. Em relação à vacinação da Covid-19, o que já existe de estruturado no Recife? Qual é o diálogo com o governo federal para isso? Há movimentos paralelos para não esperar o governo federal?
A vacina será uma agenda prioritária nossa. A gente lançou o comitê da vacina (para tratar propostas de vacinação contra Covid-19 no Recife) ainda na transição. São dois eixos: no primeiro, vamos entender como o Ministério (da Saúde) pretende fazer o PNI (Plano Nacional de Imunização), e a prefeitura vai ter esse diálogo com o ministério, esperando que ele faça, mas vamos também para um segundo eixo, em que o Recife pode fazer toda a implementação do programa de imunização, desde a aquisição de vacina, compra de insumo, equipe, treinamento, logística, ou seja, toda a operação a ser construída pela prefeitura. Não vamos ficar apenas aguardando o governo federal. Se o governo federal não fizer, o Recife vai fazer. Faremos com muita dedicação porque a vacina é a única chance de a gente poder superar a pandemia. Estaremos na linha de frente em relação a isso no Brasil.

Mas já existe uma tratativa com algum fabricante?
A compra da vacina é um dos itens de um programa próprio de vacinação, então estamos estudando, no âmbito do comitê da vacina. Também vamos sentar com a nova secretária de Saúde (a sanitarista Luciana Albuquerque) para saber quais são as possibilidades. O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a aquisição, então estamos estudando. Fiz uma visita ao Butantan (em São Paulo, que desenvolve a vacina Coronavac em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Life Science); estamos em diálogo com os centros que estão produzindo vacinação no mundo para a gente poder ter esse eixo, caso seja necessário, da aquisição direta. Como eu disse, o Recife vai fazer o dever de casa e vai estar pronto para ter um programa de vacinação para as pessoas da cidade.  

Ainda sobre o enfrentamento ao novo coronavírus, sem a vacinação e com os números crescentes, hospitais de campanha podem voltar a ser construídos na cidade?
O primeiro passo é respeitar a ciência, a técnica e o conhecimento. A solução definitiva para a pandemia é a vacina. Até lá, isso exige da gente muita compreensão, respeito às normas e faremos tudo o que for necessário. Nós anunciamos ainda na transição, junto com Geraldo (Julio), que o Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa terá mais de 80 leitos de UTI destinados à Covid-19. Toda a parte de internamento vai ficar para pacientes com a doença. A parte ambulatorial, isto é, para consulta, exames, vai ficar normal. Serão duas entradas isoladas. Assim, já teremos essa ampliação funcionando em janeiro. Vamos acompanhar os números e estaremos prontos para caso precise fazer incremento de estrutura. A nossa decisão sempre vai ser por salvar vidas.

Há alguma possibilidade de a cidade ter novo ‘lockdown’ decretado?
A pandemia tem dois eixos. O primeiro é o da saúde. Temos que preservar vidas. Todos sabem que o que temos de mais sagrado é a nossa vida, a vida da nossa família e dos entes queridos, dos amigos. A preservação da vida é fundamental. Outro eixo é o dos efeitos que a pandemia traz. São efeitos muito perversos para a economia e outras questões sociais. É importante ter esse equilíbrio. O nosso desejo é conseguir preservar a saúde ao mesmo tempo em que preservamos a economia, o emprego, a renda e as atividades funcionando. Tenho certeza que se cada um fizer a sua parte, colaborando para manter o funcionamento das atividades, isso é o ideal porque, dessa forma, conseguimos preservar a renda, que será um grande desafio em 2021.

Em relação a esse desafio da economia, além do programa de microcrédito anunciado em sua campanha (com foco em empreendedores prejudicados na pandemia nos primeiros 90 dias de gestão), o que mais tem sido pensado para ajudar as pequenas e médias empresas a se recuperarem em 2021?
Anunciamos o crédito popular, que é fundamental. Com ele, conseguiremos fazer a ativação econômica de um pequeno negócio local, de alguém que quer começar a investir ou alguém que já tem algo, mas precisa de um fôlego para atravessar a crise. Nos primeiros 90 dias isso já estará implementado. Na reestruturação administrativa, conseguimos mostrar que tudo o que a gente falou da desburocratização, da transformação digital, vai estar em nossa agenda. Construímos uma secretaria específica para licenciamentos, juntando todos os licenciamentos da prefeitura para melhorar a qualidade do atendimento ao cidadão, a quem deseja empreender, montar um negócio. Faremos também o Desenvolve Recife, que serão centros de empreendedorismo na periferia da cidade, além de ações de qualificação. Hoje, temos 1,5 mil vagas abertas no Porto Digital e elas não são ocupadas porque faltam pessoas com a qualificação para aquilo, então, faremos a oferta de bolsas para estudantes de escolas públicas terem formação em tecnologia. Há muitas ações e tenho certeza de que vamos viver, na transição para o pós-pandemia, um momento de grande efervescência economia. O Recife vai fazer o dever de casa para largar na frente. Vamos captar e crescer mais do que o Nordeste e do que o Brasil nos próximos anos.

O impacto da pandemia nas contas públicas foi e ainda está sendo grande. Será necessário buscar recursos para colocar em prática os planos de governo? De que forma será possível captar investimentos para o Recife?
Vamos fazer, desde o primeiro momento, um formato de gestão com muita responsabilidade. A Prefeitura do Recife tem equilíbrio nas contas públicas, então vamos receber uma prefeitura equilibrada. A capacidade de endividamento atual é inferior a 20% da receita corrente líquida. Uma cidade como São Paulo, por exemplo, passa de 100%. Vamos fazer o exercício, e quem faz gestão sabe disso, de cortes, enxugamento e tornar mais eficiente de maneira sucessiva. Também vamos construir operações de crédito que viabilizem uma maior capacidade de investimento da prefeitura. O dever de casa da boa gestão vai ser feito para tornar eficiente e buscar operações de crédito, além de conseguir fazer projetos, pois projetos bem feitos significam que temos chance de poder buscar investimentos, parcerias público-privadas e animar o ambiente de negócios da cidade. Com isso, conseguimos gerar renda, oportunidade de emprego e de qualificação para as pessoas da cidade.

Qual vai ser a principal diferença da sua gestão em relação a de Geraldo Julio?
Eu acho que cada um tem uma forma de poder colocar as suas convicções e a forma de gerir. Geraldo fez uma grande gestão à frente da Prefeitura do Recife e pode entregar hoje a gestão, oito anos depois, com muito mais avanços, com um patamar de competitividade, de infraestrutura muito melhor do que há oito anos. Tenho certeza que vamos poder avançar a cada dia. Estou muito otimista, tanto com o Recife que a gente recebe, como também com o Recife que a gente vai construir.

O investimento na primeira infância foi considerado uma prioridade na gestão de Geraldo Julio. Isso vai continuar em sua gestão? Como?
Vai ser uma área muito relevante para a gente porque a primeira infância, que é aquele período de 0 a 6 anos, é uma fase decisiva na vida da pessoa. Vamos duplicar o número de vagas em creches, fazer um programa de alfabetização robusto. Tudo isso dialogando com a primeira infância. A criação de uma Secretaria-Executiva de Primeira Infância (na gestão de Geraldo Julio) é um marco na história do Recife que temos que consolidar porque tem uma transversalidade e várias secretarias trabalham com isso. Tem um conceito, por exemplo, o Urban95, que é o de que uma cidade deve ser projetada para uma criança de 95 centímetros. Fazendo isso, ela está apta para um nível de civilidade importante. Então, nós vamos ter a agenda da primeira infância como prioritária. Avançar naquilo que foi feito na cidade e poder construir sempre, como uma agenda que você gera inclusão e acolhimento para as crianças da cidade.

Dentro dessa agenda da primeira infância, o Mais Vida nos Morros tem uma grande importância, com os espaços de brincar. O programa vai ser ampliado?
Vamos poder ampliar. É um programa vitorioso, e a gente hoje trabalha com conceitos importantes, da gentileza urbana, da construção de espaços de ocupação dos vazios urbanos. Vamos dar um foco muito grande no Mais Vida nos Morros para a ocupação dos vazios urbanos, que são aquelas áreas que não estão ocupadas e terminam virando depósitos de lixo ou tendo uso indevido. A gente vai poder ampliar a participação dele, o funcionamento e fazer inovação urbana. Você consegue fazer isso com uma política de baixo custo ter um alto impacto.

Falando em urbanismo, em relação ao Ocupe Estelita e ao projeto Novo Recife, como você enxerga a discussão que foi travada em relação àquela área da cidade e como você vai atuar para garantir os espaços que foram acordados com o poder público sejam garantidos?
Todas as discussões foram feitas ao longo desses anos, então, isso faz parte de uma história que o Recife viveu e foi consolidada. O diálogo conseguiu construir muitas melhorias e ações importantes para um projeto como esse. Então, tudo o que foi pactuado pelos representantes da época terá que ser cumprido. A gente, enquanto poder público, vai fazer a exigência do cumprimento de tudo. O nosso grande projeto é poder fazer com que a qualidade de vida no Recife melhore a cada dia. O conceito do Recife como uma cidade parque, onde tenha arborização, em que a gente fortaleça a mobilidade ativa; o plano de recuperação de calçadas; os 100 quilômetros de ciclovias que vamos fazer. Tudo isso dialoga com o Recife que a gente acredita, que é um Recife que constrói uma agenda de futuro. Pode ter certeza que a nossa gestão vai ser marcada por um processo de diálogo e de escuta muito intenso. Um processo que acreditamos que o Recife pode crescer muito e gerar muita oportunidade, emprego, crescimento dos parâmetros socioeconômicos, mas que cresça com qualidade de vida para os recifenses.

Quanto ao Centro e ao Bairro do Recife, muitos prefeitos passaram pelo cargo e a área permanece com vários problemas. Como o senhor pretende revitalizar a região?
Durante a campanha, em todas as reuniões que eu fui, sempre se falou do Centro do Recife. É uma área para onde anunciamos um modelo de gestão específica, desde a limpeza urbana a um Sandbox Regulatório (iniciativa que permite que instituições já autorizadas e ainda não autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil possam testar projetos inovadores com clientes reais, sujeitos a requisitos regulatórios específicos), a uma política, enfim, de investimento, de fomento, que a possamos fazer a gestão do território de maneira muito potencializada.

Em quatro anos, como o senhor imagina que será a cidade que estará deixando para os recifenses? Qual será a principal marca que vai ficar da sua gestão?
Vamos mostrar ao Recife que valeu a pena ter confiado. Valeu a pena ter apostado e acreditado em um projeto de um jovem que estava disposto a entregar a vida dele ao Recife. Eu tenho convicção de que, com muito trabalho, com muita humildade, com muita dedicação, estudo e preparação, a gente vai poder, ao longo desses anos, junto com as pessoas, fazer uma gestão que consolide os avanços dia após dia no Recife. Nossa agenda prioritária é a educação, então, digo e vou repetir sempre: nossa tarefa é colocar o Recife no pódio da educação brasileira. Ser uma referência na alfabetização, na expansão de vagas de creche, na qualificação do jovem, na empregabilidade. Espero que possamos trabalhar dia após dia pela redução do maior desafio brasileiro, que é a desigualdade social, e que a gente construa isso gerando oportunidade. Vejo que, no futuro que se avizinha, haverá, sim, problemas a serem superados, haverá uma pandemia a ser superada, mas, acima de tudo isso, vai ter a nossa capacidade de vencer. Estou muito otimista de que o futuro que nós vamos construir no Recife vai ser um futuro de grandes conquistas.

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