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AVALIAÇÃO

Parlamentares analisam reação do Congresso à saída de Bolsonaro do PSL

Publicado em: 14/11/2019 07:01

O deputado Elmar Nascimento: agenda econômica é uma questão do país, não do governo
 (Michel Jesus/Agencia Camara)
O deputado Elmar Nascimento: agenda econômica é uma questão do país, não do governo (Michel Jesus/Agencia Camara)
O modo de o presidente Jair Bolsonaro lidar com o Congresso deve amortecer insatisfações políticas com sua saída do PSL e a criação de um partido, o Aliança pelo Brasil. Essa é a avaliação da maioria dos parlamentares ouvidos pelo Correio. Especialistas apontam que a crise com a primeira legenda e a criação de uma sigla própria fazem parte do modus operandi bolsonarista, mas destacam que o chefe do Executivo está cada vez mais dependente das ruas, enquanto queima capital político com polarizações.

Ex-líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir demonstra ceticismo com a criação da sigla, que ele define como uma “venda de terrenos na Lua”. O parlamentar avisou que o PSL não estará com o presidente em todas as pautas. “Temos pautas em comum. A agenda econômica, por exemplo. No combate à corrupção, no entanto, vamos votar diferente. Somos favoráveis à CPI das Fake News, prisão em segunda instância e CPI da Lava-Toga”, explicou.

Da ala bolsonarista do PSL, Bia Kicis (DF) foi taxativa: não haverá nenhum prejuízo. Do mesmo grupo, o deputado Bibo Nunes (RS) concordou. Ele garantiu que todos os parlamentares da agremiação votarão com o presidente.

Líder do DEM, Elmar Nascimento (BA) fez uma análise fria. “O problema do presidente com o PSL é uma questão interna. Era o único partido 100% alinhado, e isso ele (Bolsonaro) não tem mais. Vai ter meia legenda, mas isso não vai atrapalhar a agenda econômica, que é uma questão do país, não do governo”, avisou.

No Senado, o vice-líder do PSD, Ângelo Coronel (BA), vê o comportamento do presidente como previsível. “Continuarei votando com independência. E tem muitos parlamentares que votam com o governo, mesmo não sendo do partido. Não dá para governar sem o Congresso. Espero que Bolsonaro mantenha a harmonia e atue sem beligerância”, frisou.

O cientista político Geraldo Tadeu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressaltou que a criação de um partido está dentro do espírito do bolsonarismo. “Uma política militante, que insiste muito na mobilização, em uma retórica de enfrentamento, de acirramento da polarização. O presidente Bolsonaro não pensa em termos pragmáticos, mas militantes. Vai na retórica de uma aliança nacionalista.”

Ele disse que Bolsonaro ficou mais fraco com a saída do PSL. “Em vez de compor, ele diminuiu a base, mas ele não busca governabilidade. Como eu disse, o modo de ação é militante. Ele acredita que pode pressionar o Senado, a Câmara, o STF, a partir das ruas e nas redes”, explicou.

Para o especialista, ao agir dessa forma, o presidente coloca todos os ovos na mesma cesta. “Se deixar cair, todos se quebram. As pautas econômicas consensuais vão andar por conta de uma coalizão do Congresso. Há uma pressão de empresários e setores da imprensa. E é uma maneira de a Câmara e de o Senado se colocarem como atores importantes”, avaliou. “Se apropriam de uma pauta que deveria ser do governo. Aconteceu com a Dilma. Há uma insatisfação latente por conta da crise e das políticas de austeridade. O país vem, há cinco anos, em um processo de crise, com desemprego, aumento da desigualdade, PIB baixo. O que pode acontecer é imprevisível. O bolsonarismo aposta nas redes e nas ruas. Eles não têm outra estratégia. Se não der certo, ficarão isolados. Todos os ovos no mesmo cesto.”
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