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CRISE

Apuração da morte de Marielle consolida ruptura entre Bolsonaro e Witzel

Publicado em: 31/10/2019 07:28

Relações entre o presidente da República e o governador do Rio têm o pior momento. Por trás da crise, estão as próximas eleições (AFP/MAURO PIMENTEL)
Relações entre o presidente da República e o governador do Rio têm o pior momento. Por trás da crise, estão as próximas eleições (AFP/MAURO PIMENTEL)
O caso Marielle azedou de vez as relações entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que já estavam estremecidas. Nesta quarta-feira (30), pouco antes de deixar a Arábia Saudita, última etapa da viagem que fez à Ásia e ao Oriente Médio, o presidente voltou a acusar Witzel de ter vazado para a TV Globo trechos do inquérito da Polícia Civil sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco — e classificou o governador de “agir de forma criminosa”. Mais ainda: sugeriu que o delegado que investiga o caso inventou o depoimento que tenta envolvê-lo no caso a pedido do chefe de governo fluminense.

Witzel negou ter vazado qualquer informação das investigações e afirmou que nem mesmo teve acesso a documentos do caso, que corre em segredo de Justiça. Ele lamentou que o presidente, “num momento talvez de descontrole emocional”, tenha feito acusações a ele. Disse esperar um pedido de desculpas como o que foi dirigido pelo presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela publicação de vídeo em que é comparado a um leão atacado por hienas.

“Eu jamais vazei qualquer tipo de documento. Sequer tive acesso a documentos que constem dessa investigação. Se esse documento vazou, como foi apresentado nesta quarta-feira (30)por uma emissora de televisão, que a Polícia Federal investigue”, afirmou o governador, durante inauguração de um programa do governo do estado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

O clima entre Bolsonaro e Witzel se deteriorou depois que o governador manifestou, em mais de uma ocasião, que quer disputar a próxima eleição presidencial. Em evento no Rio, em outubro, Bolsonaro citou “inimigos internos”, numa referência velada ao governador. Na transmissão ao vivo que fez pelas redes sociais, na noite de terça-feira, de um hotel na Arábia Saudita, o presidente citou Witzel diversas vezes. Disse que ele só se elegeu por ter ficado, na campanha eleitoral, “colado” a seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL).

O estremecimento das relações entre Witzel e o presidente levaram o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), presidente do diretório estadual do partido, de orientar correligionários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a abandonar a base de apoio ao governador do estado. Embora Flávio negue, a decisão teve dedo do presidente da República.

As decisões de Witzel, por sua vez, não são tomadas a esmo. O governador tem apoio irrestrito do presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo. A dobradinha, entretanto, tem dividido o partido. No Congresso, alguns parlamentares da legenda foram atendidos pela articulação política do governo e sinalizam uma postura de apoio ao Palácio do Planalto.

O deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), primeiro vice-líder do partido na Câmara, se queixa da postura de Witzel. O parlamentar evita acusar o governador de estar por trás do vazamento deliberado do depoimento do porteiro ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no caso Marielle, mas o acusa de mentir quando nega ter conversado sobre o assunto com Bolsonaro, como afirma o presidente. “Ele nega o que não podia ter negado”, criticou.

A avaliação do parlamentar é que Witzel foi “tomado pelo poder”. “É uma tristeza pelo meu estado. Historicamente, quando o governador do Rio e o presidente da República não se entendem, o estado deixa de avançar e prosperar. Elegemos alguém com um discurso alinhado com o presidente e, agora, somos pegos pelo desejo de ser candidato em momento crítico para o Rio, em nome de um projeto próprio”, criticou Otoni.
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