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ANÁLISE

Populismo impulsiona onda de crise democrática, diz especialista

Publicado em: 23/08/2019 08:19

De Juan Domingo Perón a Donald Trump, passando por Sílvio Berlusconi. De acordo com Christoph Horn, professor de teoria política contemporânea da Universidade de Bonn, na Alemanha, típicos representantes do populismo. Rol de figuras no qual o acadêmico também cogita incluir, embora de forma menos incisiva, confessando ausência de conhecimentos suficientes para tal, o presidente Jair Bolsonaro. Símbolos de um fenômeno cuja consequência afirma ser algo de escala global: a crise da democracia. Situação que, ainda segundo ele, não representa de forma imediata ou irreversível uma mudança de regime, mas, sim, uma ameaça aos padrões morais democráticos. Estes foram alguns dos temas que o professor abordou em sua palestra Sobre Crise de Democracia em Tempos de Populismo, realizada ontem, durante o Fórum de Democracia Europa-Brasil, no Recife.

Horn falou sobre a forma como atuam os líderes populistas, utilizando-se de reivindicações que dizem representarem a vontade do povo, embora não a favoreça, na verdade. “Estes movimentos têm personalidades, lideranças carismáticas que abordam questões a exemplo de temas socioeconômicos, migração, etc, e afirmam que as resolverão. São assuntos que realmente tocam a essência do ser humano, suas emoções, paixões, raivas e insatisfações. Utilizam-se disso com maestria”, afirma. Exemplificando, citou o líder da maior potência mundial, Donald Trump, afirmando que o presidente dos Estados Unidos aproveitou-se de uma sensação de insatisfação daqueles que perderam status social, economicamente, com a globalização.

“Ele canaliza estes sentimentos, manipula-os, trabalha com mentiras descaradas, difamação e desinformação por meio das fake news. Cria um clima que, ao fim, só faz ampliar seu poder”, avalia. Quanto ao presidente brasileiro, afirmou não conhecê-lo tão bem, mas que vem recebendo informações a respeito. “Quando me falam dos cortes orçamentários das universidades... quando olho para a Amazônia em chamas, fico meio espantado. Me contaram que ele questiona a orientação ou identidade social das pessoas, assim como os afrodescendentes. Então, temo de que muito do que falo hoje, se formos traçar o seu perfil, encaixe-se em relação a ele”, avalia. Quanto ao futuro deste panorama, acredita que está muito relacionado à disponibilidade de informações mais qualitativas. “A tomada de decisão não está mais baseada nos fatos, nas ciências. Trump, por exemplo, nega a mudança do clima ou diz que desmatamento não faz mal. A gente sabe que é um absurdo, as pessoas também sabem, mas ele diz mesmo assim. Acredito também que se houvesse mais controle do conteúdo divulgado, teríamos uma perspectiva melhor. No momento, há, inclusive, uma discussão interessante na ciência política a nível global sobre como dar, novamente, mais peso e lugar para os especialistas no debate, discussão e tomada de decisão”, acredita.

O vice-presidente do Diario de Pernambuco, Maurício Rands, prestigiou o encontro e classificou o momento político do Brasil como a ascensão do populismo de extrema direita, mas afirmou acreditar que não se trata de um fato exclusivamente brasileiro.
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