Politica

Novo Congresso mostra que a velha política partidária é deixada para trás

A grande surpresa foi o PSL de Bolsonaro, que saiu de um para 52 deputados na Câmara

Ter uma bancada grande no Congresso Nacional não significa apenas mais nomes defendendo os temas ligados ao partido. Representa a possibilidade de presidir uma Casa, garantir espaço de destaque em comissões e formar coalizões poderosas. No ano que vem, representantes de legendas conservadoras que, até a semana passada, eram nanicas, devem se sentar, pela primeira vez, em cadeiras importantes no Legislativo. Ao eleger a segunda maior bancada para a Câmara, o PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, é o partido que mais cresceu e o que mais deve aproveitar esse novo status de destaque.

Bolsonaro foi o grande cabo eleitoral do país. “Com 52 deputados eleitos, o PSL atrai outros partidos, podendo formar uma coalizão ainda maior”, explica o analista político Thiago Vidal, da Prospectiva Consultoria. O resultado disso é que as legendas mais conservadoras podem levar a presidência da Câmara e das comissões mais cobiçadas, como a de Constituição e Justiça (CCJ) e a de Tributação e Finanças (CTF). Qualquer projeto de lei, para ser aprovado, precisa passar pela CCJ, que analisa se ele respeita a Constituição. “É o colegiado que diz o que vai para a frente e o que não vai. Bastante significativo em termos de projeto de poder”, diz Vidal.

Em 2019, a chance de que a CCJ fique nas mãos do PSL é grande, já que costuma ser presidida pela maior bancada da base governista. “Se tiverem uma boa coalizão, certamente ficam com ela. Os governistas levam as melhores comissões”, resume o analista. Exemplo disso é o que acontece com o PT durante o governo de Michel Temer: embora tenha uma bancada expressiva, fica fora das presidências, porque não é da coalizão do governo.

O novo quadro melhora, portanto, a governabilidade de Bolsonaro, caso ele seja eleito. Com essa nova configuração, ele atrai partidos com tendências parecidas e aumenta a chance de conseguir aprovar pautas de interesses comuns. “Como o Congresso ainda está fragmentado, não é como se ele fosse conseguir emplacar qualquer pauta. Mas, teoricamente, podem passar projetos relativos a segurança pública, por exemplo, na CCJ. Se tiver a CFT, emplaca os mais vinculados a Paulo Guedes (guru econômico de Bolsonaro), relativos à agenda ultraliberal”, frisa.

Caciques

Enquanto partidos nanicos tomam espaço, muitos caciques da política brasileira ficarão sem cadeiras no Congresso no ano que vem. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e o líder do governo na mesma Casa, Romero Jucá (MDB-RR), foram alguns dos veteranos que não conseguiram se reeleger.

Jucá perdeu a cadeira por 426 votos, após três mandatos consecutivos no Senado. “Muitos ataques, muitas agressões e muitas mentiras fizeram com que eu tivesse essa condição”, disse. Eunício agradeceu os votos e desejou “boa sorte e energia para os que foram eleitos”. “Recolho-me agora à vida pessoal”, afirmou.

Roberto Requião (MDB-PR) e Beto Richa (PSDB-PR) também fracassaram na disputa pelo Senado. Richa afirmou ontem que não descarta encerrar a carreira política. O tucano Ricardo Ferraço (ES), relator da reforma trabalhista no Senado, e Magno Malta (PR) também não se reelegeram.

Nem o mínimo

Dos 35 partidos que compunham a Câmara, 14 não conseguiram atingir a cláusula de barreira e podem perder fundo partidário e tempo de televisão na próxima eleição. As siglas deveriam alcançar o mínimo de desempenho com 1,5% dos votos válidos nacionais ou eleger ao menos nove deputados federais de nove das 27 unidades federativas. Com o objetivo de evitar o fim da legenda, é permitida a troca de sigla sem perda do mandato. Caso contrário, o partido se mantém fora da Casa, sem atividade parlamentar.

Entre as siglas barradas estão a Rede, de Marina Silva; o PCdoB, da vice de chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela D’Ávila; e o PRTB, único aliado de Bolsonaro no pleito. O cenário, contudo, ainda pode mudar, pois algumas candidaturas seguem sob questionamento judicial e não tiveram votos computados. No último domingo, o PCdoB bateu na trave e quase conseguiu cumprir a cláusula. A sigla elegeu nove deputados, mas de apenas sete estados do país. Com isso, os votos válidos somaram apenas 1,35%.

A Rede, por sua vez, teve um desempenho pífio na Casa. Nem Marina Silva conseguiu deslanchar e só recebeu 1 milhão de votos. O único parlamentar que o partido fez foi a advogada Joenia Wapichana (RR), primeira indígena eleita na história para o Congresso. “Esses dois partidos, que são mais conhecidos, podem tentar reverter o cenário e fazer com que novos nomes migrem. As siglas menores, que só elegeram um parlamentar, no entanto, estão mais comprometidas”, avalia o cientista político Lucas Aragão, sócio e diretor da consultoria Arko Advice.

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