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Luzilá Gonçalves Ferreira: Pauline

Luzilá Gonçalves Ferreira é doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Semana passada, Elyanna Caldas organizou na APL belo concerto no qual se ouviram composições em honra das mulheres neste mês de março. Árias de Operas, composições para soprano e tenor, com Raquel Casado ao piano, deleitaram grande público na tarde de domingo. A ótima interpretação de Casta Diva por Nadja Souza, nos comoveu. Em seguida o tenor Gauss Lins, que faria com Nadja belo dueto da Traviata,tomou a palavra e nos apresentou uma composição de Pauline Viardot, que homenageava compositoras, esquecidas através do século, impedidas de frequentar academias e se apresentar em público. Ótima, a lembrança de Pauline, velha conhecida que ocupa várias páginas de minha biografia de George Sand (ainda inédita). Nascida em 1821, aluna de Liszt e de Berlioz, Pauline fez duetos com Chopin.

Desejara uma carreira de pianista, sonhava acompanhar a irmã, a grande Malibran em suas turnês pelo mundo. Mas se tornou cantora de sucesso. Aos 17 anos conquistou Paris. Sand apresentou a adolescente a seu amigo, o escritor e político Louis Viardot, 40 anos. União sonhada por Sand: arte, humanidade, sensibilidade, respeito mútuo, se juntariam. Viardot, modesto e abnegado, se fez empresário da esposa, acompanhando-a em turnês, abdicando a direção de um dos mas importantes teatros de Paris, o Théatre des Italiens. Como Sand, ele viera à capital sem muitos recursos, vivera em pequenas acomodações, trabalhara com afinco para se fazer reconhecer. Discípulo de Pierre Leroux, frequentara salas de leitura onde lia Voltaire e Roussau por dois tostões a sessão. Tornara-se jornalista e crítico de arte respeitado.

Sand viu em Pauline uma filha, uma imagem de mulher e artista: boa, caridosa, profissional dedicada ao aperfeiçoamento de sua arte, modesta, amiga, e fez dela o modelo para seu romance Consuelo. Em carta, Sand fala de amizade: “Vou amar você ainda e sempre. Espero que você saiba disso e, por isso, me consolo de seus silêncios dizendo-me que a gente não se esquece daqueles dos quais se sabe muito amado. Pelo menos é o que me acontece com meus melhores amigos, aos quais escrevo tão pouco, que até tenho remorso, mas quando o faço, sei bem que não os encontrarei armados com algum rancor contra mim, mas ao contrário encantados com minha lembrança. Nunca é tarde demais para dar prazer às pessoas”. Após a leitura de Consuelo, Pauline escreve: “Como você é feliz em poder proporcionar tais alegrias aos seus leitores. Não posso lhe dizer o que sinto desde Consuelo. Sei que a amo mil vezes mais, e estou orgulhosa de ter sido um dos fragmentos que lhe serviu a criar esta admirável figura.

Será sem dúvida o que terei feito de melhor neste mundo”. No verão de 1841, em seu castelo de Nhoant, Sand recebe os amigos. Enquanto Viardot caça nos arredores com o irmão de Sand, Pauline e Chopin estudam partituras. À noite, após o jantar, reunião no jardim, Sand e Pauline dançam a bourrée. Depois, a romancista se recolhe para escrever, enquanto Chopin toca, no quarto preparado por Sand, no final do corredor, ainda hoje aberto aos visitantes.

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