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Velhos políticos se apresentam em 'novas embalagens' ao eleitor
Na lista da 'renovação' estão nomes como Valdemar da Costa Neto, Jair Bolsonaro e Romero Jucá
“Muda Brasil” é um slogan de campanha, certo? Errado. É a denominação da mais nova cria do sistema partidário brasileiro, a 36ª da ninhada, pronta para nascer sob a articulação do ex-deputado federal paulista Valdemar da Costa Neto, condenado no processo do mensalão, mas já livre da pena.
Embora cacique do PR e principal responsável pelas nomeações de segundo e terceiro escalões de sua legenda no Ministério dos Transportes, Costa Neto está prestes a ganhar mais um partido para chamar de seu, com o qual aumenta o seu poder de barganha nas negociações em torno de alianças e tempo de televisão das eleições de 2018.
Valdemar da Costa Neto não é a única velha raposa a trocar de roupa. Na onda da política sem partido, para as eleições de 2018, sai o “P” das legendas e entram refrões associados a movimentos. Com um olho no cansaço do eleitor com as siglas desgastadas pelo vendaval das delações e denúncias de corrupção, o Partido Trabalhista Nacional (PTN) virou Podemos (PODE), imitação tupiniquim do slogan do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, “Yes we can” (Sim, nós podemos).
Para esse barco correram velhos nomes: a começar pelo senador Álvaro Dias, ex-tucano e ex-verde do Paraná, pré-candidato à Presidência da República. Entre os 17 deputados federais que agora compõem a bancada federal do PODE, 13 a mais do que os quatro eleitos pelo velho PTN, está o deputado federal Ademir Camilo, que já passou pelo PSDB, PPS, PL, PDT, PSD e PROS.
Surfando na mesma onda, o Partido Trabalhista do Brasil (PT doB) livra-se do “trabalhismo” – palavra que se tornou inconveniente depois da reforma trabalhista – e agora se chama Avante. O deputado federal mineiro Luis Tibé, cacique do velho PTdoB, se mantém como presidente nacional da legenda, agora com o nome novo, sob inspiração do En Marche, do presidente francês Emmanuel Macron.
Não são poucos os partidos políticos, comandados pela velha guarda, que esperam o melhor momento para trocar de nome. E não estão com pressa, pois como já estão registrados junto ao TSE, podem mudar de nome a qualquer momento, sem preocupação com o princípio da anualidade, segundo o qual as alterações que afetam o pleito só podem acontecer um ano antes. “A Constituição Federal exige o prazo de um ano para que sejam estabelecidas novas regras que alterem o processo eleitoral. Não é o caso em se tratando de mudança de nome de partido”, avalia o jurista especialista em direito eleitoral João Batista de Oliveira.
“O que importa é o primeiro registro do partido. Mudar nome ou até mesmo a fusão e incorporação de siglas são situações que não estão sujeitas ao princípio da anualidade”, afirma Edson Resende, coordenador da Coordenadoria Estadual de Apoio aos Promotores Eleitorais (Cael).
Velha narrativa
Preparando-se para se meter em uma nova embalagem, o polêmico deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), que já foi do PP e agora está filiado ao PSC, já planejou a próxima jogada de marketing: está de mudança para o Patriotas, futuro nome programado para o Partido Ecológico Nacional (PEN).
Assim como os outros da velha guarda, Bolsonaro trocará de partido, o partido trocará de nome, mas a antiquada narrativa será a mesma: militarismo, homofobia, intolerância, machismo estão entre as características que chegarão com o parlamentar ao PEN, que lançou sem pestanejar a plataforma ambiental no lixo para satisfazer as exigências do futuro “dono” do Patriotas.
“Não posso mudar de partido agora para o Patriotas porque perderia mandato. Mas está 99% acertado. O PEN muda de nome, muda completamente o estatuto, e se eu não conseguir uma brecha ou uma nova janela, mudo em março de partido”, afirma Jair Bolsonaro, salientando que pediu ao partido a garantia de que terá a legenda para concorrer à Presidência da República.
Saudosismo
A saga reformista, de velhos políticos que querem mostrar uma fantasia nova, arrasta também o Partido do Movimento Democrático do Brasil, o PMDB de Michel Temer. Saudosista da época em que tinha uma plataforma, o PMDB sonha em esconder o “P” para ser simplesmente MDB e “ganhar as ruas”, como nos tempos de Ulysses Guimarães.
E quem faz a exposição de motivos é o atual presidente nacional da legenda, senador Romero Jucá (PMDB-RR), velha raposa que integra a comitiva da cúpula partidária que é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) – Jucá responde a 14 deles, sendo três origiários da Lava-Jato. Ao trocar de nome a intenção do PMDB não é fugir do desgaste da legenda, mas, antes, promover o “resgaste da memória histórica”, retirando o “P” do nome, o “último resquício da ditadura”. O ofício comunicando a mudança, que será oficializada em convenção nacional no próximo 27, já foi enviado ao TSE.
O Democratas, que um dia descartou o PFL para se tornar entre chacotas dos adversários a legenda do “demo”, agora também se prepara para o rebatismo. E quem mais trabalha para isso é o presidente nacional e senador José Agripino Maia (RN), outra figura carimbada, denunciada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os possíveis novos nomes do velho PFL, nascido da Arena, estão sendo estudados. Uma possibilidade é que se torne Movimento da Unidade Democrática (MUDE).
Para a reciclagem, também será lançado um outro “P”: o Partido Social da Democracia Cristã (PSDC) será apenas Democracia Cristã. Igualmente arrastado ao roldão dos novos batismos, o Partido Social Liberal (PSL) será o “Livres”. Fé em Deus e pé na tábua, assim segue o sistema partidário brasileiro, que, nas próximas semanas ganhará, além do Muda Brasil, um outro caçula, o “Igualdade”, 37º Ambos desbancam na ninhada o Partido da Mulher Brasileira (PMB), sigla para as mulheres, mas sem elas, parido há dois anos. Já dizia o escritor norte-americano Jack Kerouac, no século passado: “Vive a tua memória e assombra-te”. Para 2018, esse é o para casa do eleitor.
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