Politica

Crise política derruba cenário para a economia

Delação do empresário Joesley Batista, da JBS, em maio, devem cobrar caro da já tímida recuperação do País prevista em fevereiro

Instituições já revisaram para baixo as previsões de retomada da economia neste ano. Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas

O Brasil que os economistas viam no começo do ano não é mais o mesmo. Uma comparação entre previsões para 2017 divulgadas por bancos e consultorias em janeiro e fevereiro e as perspectivas mais recentes mostra que os desdobramentos da crise política que se abateu sobre o governo desde o anúncio da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, em maio, devem cobrar caro da já tímida recuperação do País.

No embalo da crise política, Itaú e Bradesco jogaram para baixo, no mês passado, suas expectativas para a economia. “A situação econômica mudou”, diz Fábio Salles, economista do Itaú. Das instituições ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, o banco era o que tinha as expectativas mais otimistas, prevendo que o ano terminaria com alta de 1% do PIB. Agora, estima um crescimento de 0,3%.

“Não era otimismo em excesso. Quando prevíamos uma recuperação do País, sempre batíamos na tecla de que era importante fazer as reformas, as macro e as microeconômicas. O PIB teve aquela surpresa positiva no início do ano, com os resultados da agricultura, mas o nível de incerteza quanto ao rumo da economia levou a uma baixa das expectativas. Sem a garantia de que a reforma passe, o investidor deve ficar mais conservador”, diz Salles.

Boa parte do cenário previsto pelos economistas no início do ano de fato, se materializou: o dólar ficou estável, a inflação caiu e o Brasil caminha para uma Selic de um dígito. O que surpreendeu foi a dificuldade, até o momento, de aprovação da reforma da Previdência.

Paralisia

No início do ano, a previsão do mercado era de que a questão da Previdência estaria resolvida no terceiro trimestre. Julho chegou e o clima político deve paralisar o andamento da reforma no Congresso ou diluir muito a proposta original.

A análise é que como a crise política deve postergar a aprovação de uma reforma mais consistente para a Previdência, vai dificultar o ajuste fiscal, causando impacto na confiança de agentes econômicos, na retomada da economia, nos preços dos ativos e nas aplicações financeiras.

Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, disse que já havia uma pequena frustração de que a recuperação econômica não viria tão facilmente, mesmo antes da delação da JBS. “No momento de o País começar a colher os frutos do custo alto do ajuste, o cenário só ficou mais adverso. Os preços dos ativos ainda não refletem totalmente, mas o pessimismo aparece na expectativa do consumidor, da indústria e do comércio, o que acaba tendo impacto na retomada de investimentos. Assim, a capacidade de corte de gastos e cumprimento do teto começa a ser questionada. A economia tem dado sinais de recuperação, mas já poderia estar melhor.”

As previsões do Ibre são de que o PIB do segundo trimestre seja negativo. “Para o resto do ano, o fator incerteza pesará mais, a economia deve ficar perto da estagnação. Todo mundo sabia que seria um ano difícil, mas a instabilidade surpreende. Saímos de uma recessão severa, vimos um pouco de luz e agora a economia deu uma engasgada.”

Os analistas da XP não revisaram previsões após a delação da JBS. Para a consultoria, o PIB deve ficar entre zero e 0,5%. “Estamos mais perto de zero, mas o descolamento de economia e política deve se manter. Já não havia grandes expectativas de crescimento e o mercado está tranquilo. Claro, perdeu-se a chance de fazer uma reforma da Previdência de verdade”, avalia a economista-chefe, Zeina Latif.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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