Mais da metade dos estados brasileiros foi governada por políticos hoje citados em esquemas de corrupção ou caixa 2 nas delações premiadas da Lava-Jato. Desde o início da operação, em 2014, 21 ex-chefes de Executivo estadual foram apontados em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público. Quatro deles foram parar atrás das grades: Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, estão presos, enquanto Silval Barbosa (PMDB), do Mato Grosso, deixou a cadeia na sexta-feira, mas segue em prisão domiciliar e com uso de tornozeleira eletrônica. Os outros citados ainda estão com seus casos em fase de investigação.
ntre os nomes de ex-governadores citados por delatores como beneficiários de propina ou de repasses irregulares para campanhas eleitorais estão alguns dos principais caciques da política nacional, como o ex-governador de Minas Gerais e presidente licenciado do PSDB, senador afastado Aécio Neves, o ex-governador da Bahia e ex-ministro-chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff, Jaques Wagner (PT), e o ex-governador de São Paulo e ex-ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB).
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral tem a situação mais complicada. Na semana passada ele foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato na primeira instância, a 14 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na sentença, Moro afirma que Cabral recebeu, entre 2007 e 2011, R$ 2,7 milhões em propinas da construtora Andrade Gutierrez pelas obras de terraplenagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras.
Do Palácio das Laranjeiras, o ex-governador fluminense foi para o Complexo Penitenciário de Bangu e ainda responde por outros nove processos na 7º Vara Federal Criminal do Rio. Entre as denúncias contra Cabral estão supostos desvios em obras de infraestrutura de favelas e o superfaturamento das obras no estádio do Maracanã.
Dupla Os ex-governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), foram presos no final do mês passado durante a operação Panatenaico, que apura o superfaturamento das obras do estádio Mané Garrincha,em Brasília. Eles também foram citados nas delações da Odebrecht. Segundo ex-diretores da empresa, José Roberto Arruda teria recebido R$ 996 mil em caixa 2 eleitoral para financiar a campanha de 2014, além de participar de irregularidades em licitação de obras do BRT da capital federal quando era governador. Já Agnelo é suspeito de receber R$ 1 milhão não declarados à Justiça Eleitoral durante a campanha de 2010, quando foi eleito para comandar o Distrito Federal.
Confissão Depois de um ano e meio preso, o ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) deixou a cadeia na quarta-feira e passou para o regime domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Ele confessou seus crimes e aceitou pagar uma multa de R$ 46,6 milhões para conseguir a soltura. Silval foi preso na operação Sodoma, apelidada de Lava-Jato do Pantanal, por ter desviado recursos públicos por meio de fraudes em licitações e pagamentos de propinas durante campanhas eleitorais. Ele também foi citado pelos executivos da JBS, como beneficiário de propinas e operador em um esquema de suborno.
Outro ex-governador que está no olho do furacão é Jaques Wagner (PT), que comandou a Bahia entre 2007 e 2014 e foi ministro da Casa Civil de Dilma. Delatores da Odebrecht revelaram que a empreiteira o presenteou com relógios de luxo, propinas de R$ 12 milhões em dinheiro vivo e caixa 2.
No Amazonas, o esquema teria envolvido dois ex-governadores. Segundo inquérito, o senador Eduardo Braga (PMDB) teria recebido R$ 1 milhão da Odebrecht quando era governador do Amazonas. Ao ser eleito senador, os pagamentos passaram a ser feitos por meio de empresário ligado a Omar Aziz (PSD), que o sucedou no comando do estado. Delatores da Andrade Gutierrez também estimam ter pago cerca de R$ 20 milhões de propina a cada um dos ex-governadores.
Os ex-governadores de Minas Aécio Neves (PSDB) e Antonio Anastasia (PSDB) também estão na lista dos que foram citados por delatores da operação Lava-Jato. Aécio foi citado em cinco inquéritos, suspeito de receber vantagens para favorecer a Odebrecht em obras como as usinas de Jirau e fraudes em licitações nas obras da Cidade Administrativa. Desde a divulgação de gravações entre o tucano e o empresário Joesley Batista, da JBS, Aécio foi afastado do Senado e na próxima terça-feira, o Supremo Tribunal Federal vai decidir sobre o pedido de prisão feito pelo MPF.
O senador Antonio Anastasia é citado em um dos inquéritos da Lava-Jato e segundo ex-diretores da Odebrecht a empresa repassou vantagens indevidas em forma de doações de campanha eleitoral para as eleições de 2010. Segundo os delatores Sérgio Luiz Neves e Benedito Barbosa, a empreiteira doou R$ 1,8 milhão em 2009 para a campanha do tucano ao Palácio da Liberdade. Após as divulgações das delações, as defesas dos ex-governadores mineiros negaram que eles trataram de assuntos ilícitos com os ex-dirigentes da empresa e que os recursos usados nas campanhas foram declarados à Justiça Eleitoral
Ex-governadores citados em esquemas de propina e pagamento de caixa dois nas campanhas eleitorais
» 1) Acre: Jorge Viana (PT)
1999 a 2006
» 2) Amazonas: Eduardo Braga (PMDB) 2003 a 2010 – e Omar Aziz (PSD) 2010 a 2014
» 3) Bahia: Jaques Wagner (PT)
2007 a 2014
» 4) Ceará: Lúcio Alcântara (PR)
2003 a 2007
» 5) Distrito Federal: José Roberto Arruda (PR) – 2007 a 2010
e Agnelo Queiroz (PT)
2011 a 2015
» 6) Espírito Santo: Renato Casagrande (PSB) – 2011 a 2015
» 7) Maranhão: Roseana Sarney (PMDB) – 2009 a 2014
» 8) Mato Grosso: Blairo Maggi (PP) – 2003 a 2010 – e Silval Barbosa (PMDB) – 2010 a 2015
» 9) Mato Grosso do Sul: Zeca (PT) – 1999 a 2006 – e André Puccinelli (PMDB) – 2007 a 2014
» 10) Minas Gerais: Aécio Neves (PSDB) 2002 a 2010 e Antônio Anastasia (PSDB) – 2010 a 2014
» 11) Pernambuco: Jarbas Vasconcelos (PMDB)
1999 a 2006
» 12) Rio de Janeiro: Sérgio Cabral (PMDB) – 2007 a 2014
» 13) Rio Grande do Norte: Garibaldi Alves Filho (PMDB)
1995 a 2002
» 14) Rio Grande do Sul: Germano Rigotto (PMDB) – 2003 a 2007
» 15) Rondônia: Ivo Cassol (PP)
2003 a 2010
» 16) São Paulo: José Serra (PSDB) 2007 a 2010
*Não foram incluídos os atuais governadores investigados na Lava-Jato
Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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