Politica

Francisco de Queiroz: Corrupção e opções políticas: questões que não se confundem

Francisco de Queiroz B. Cavalcanti é professor titular e diretor da Faculdade de Direito da UFPE

Pensamentos superficiais, às vezes tendenciosos, levam à conclusão: “vejam o que deu a esquerda no Poder: muita roubalheira”. É um grande equívoco, ou pelo menos, um parcial equívoco. Aqui vamos parafrasear o colunista\crítico José Simão quando em uma de seus textos afirmou “ roubalheira no Brasil é ambidestra”. De fato o é. No passado, inclusive durante o regime pós- 64, tal estava presente, mais centralizada, mais protegida pela repressão. Ouvir e ler nos últimos dias contundentes assertivas como as de Renato Duque ao prestar depoimento ao Juiz Moro, no sentido que “Todos sabiam. Todos do partido, desde o presidente do partido, o tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos sabiam que isso ocorria”, deixam-nos profundamente melancólicos. Mas, não significa tal, que as ideias de uma sociedade mais igualitária, com mais acesso a educação, saúde, serviços públicos, menos capitalista, devam ser abandonadas. O que houve e é de deixar que um profundo sentimento de prostração quase de “depressão política é ter havido lamentável captura, sedução, prostituição, daqueles que alçados ao poder pela população esperançosa se prostituiram, em parte com o pretexto de se manter no poder para realizar as mudanças que a sociedade necessita, em verdade, para apropriar-se de recursos e deles usufruir, em postura ainda mais execrável que se tal apropriação tivesse sido feita por segmentos ditos conservadores. Deram o fundamento retórico para serem combatidos e enxotados do poder, nele conseguindo permanecer apenas parte dos aliados no poder, e na corrupção nesse insustentável “ presidencialismo de coalizão”. Não se pense que o ocorrido na Petrobrás tenha sido essencialmente diferente do ocorrido em Minas Gerais, São Paulo e em outros rincões mais distantes da federação.  Lula, que conseguiu reduzir, significativamente, bolsões de pobreza, caiu em desgraça por tristes razões. Tratou o Brasil como se fosse um “grande sindicato”, com as técnicas, reprováveis de preservação de poder, inclusive com a simples “compra” de apoio. O que antes se fez, e se continuará fazendo com o modelo político atual, não houve inovação ética, tão necessária. Houve, até, aproveitamento das “gangs” que existiam e surgimento de outras. Os verdadeiros socialistas terão que expurgar os desonestos, os vís, terão que se reestruturar sob pena de não o fazendo, passarem muitos anos sem qualquer chance de chegarem ao poder e de assistirem, com lágrima nos olhos regressões de direitos sociais arduamente conquistados. De verem compromissos de leniência para preservação de grupos empresariais, cujos dirigentes deveriam, sem dúvida, democratizar os presídios brasileiros.

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