Política
Por Luciana Grassano Melo
Professora de direito
Entre 9 e 16 de novembro, acontece em Londres a semana do livro acadêmico. Uma lista com os 20 livros que mudaram o mundo foi elaborada por editores e livreiros especialistas e caberá ao público votar online para eleger o mais influente livro acadêmico de todos os tempos. Nesta lista, e ao lado de Charles Darwin, Kant, Platão, Stephen Hawking, Karl Marx, Maquiavel e outros grandes pensadores, encontra-se Simone de Beauvoir, por sua importante obra: O Segundo Sexo.
Isso em Londres, Inglaterra.
No Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) colocou na prova um trecho célebre daquela obra: Uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher. Nota dez para o exame! Não fosse a ignorância histérica e inculta de tantos que maldisseram o exame, apedrejaram a obra e repudiaram a escritora, poderíamos nos orgulhar de saber que os nossos jovens estão sendo chamados a pensar.
Ainda no Brasil, deparei-me com um pedido de meu filho para que o ajudasse a fazer uma pesquisa sobre política, economia e cultura em Angola, país-irmão africano. Fiz uma breve retrospectiva e comentei com ele que não me recordava de ter estudado a história do continente africano no ensino médio, ao que ele orgulhosamente me respondeu: – Claro que não, mãe, o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana foi incluído no currículo escolar há pouco mais de dez anos! Depois dessa resposta, fui pesquisar as origens e encontrei a lei n. 10.639/2003. Nota 10 para isso também!
No curso da pesquisa, descobrimos que em junho deste ano, jovens ativistas foram presos “em flagrante delito” pelo governo angolano por terem sido pegos lendo e debatendo o livro de Gene Sharp sobre política da não-violência. Sem comentários!
Contei essas estórias todas, que se entrelaçam, para concluir que enquanto países desenvolvidos, como a Inglaterra, celebram os livros que mudaram o mundo e subverteram a ordem das coisas, em outros países, como Brasil e Angola - repúblicas do pensamento único, livro ou é coisa de subversivo, ou é caso de polícia.
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