O que se escrever quando se lê cada vez menos?
Patricia Gonçalves Tenório
Escritora
Publicado em: 06/02/2025 03:00 Atualizado em: 05/02/2025 21:22
"Foram derrubados os muros da cidade, o Muro Alto não existia mais, escreveram livros para uns aos outros ler."
(Tenório, A menina do olho verde, p. 50)
Este artigo é um manifesto. Um grito de socorro em nome da leitura. E da escrita.
Se você o lê, não faz parte dos 6,7 milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram de ler nos últimos quatro anos, ou dos 53% de pessoas nascidas no país que não leem ao menos um livro ou trecho de livro por mês, segundo alerta o Instituto Pró-Livro na recente pesquisa sobre a leitura no Brasil.
O fato me preocupa, mas não me assombra. Já circulei por toda a cadeia produtiva do livro, a começar como leitora voraz de romances caudalosos de Agatha Christie, Sidney Sheldon, J. M. Simmel na infância e na adolescência, passando, na vida adulta, por uma livraria especializada em livros de arte – a Domenico, no bairro do Pina, Recife –, participando na editora Calibán do Rio de Janeiro, até chegar ao mundo acadêmico, com mestrado em Teoria da Literatura na UFPE e doutorado em Escrita Criativa na PUCRS.
E a leitura, quer seja o livro impresso – o meu preferido –, quer seja o livro digital sempre foi a minha companheira de todas as horas. Alimenta a alma, afasta a depressão, nos acompanha nos momentos solitários, aqueles em que o ser humano precisa se encontrar com sua essência para se conhecer mais e melhor e poder acrescentar na vida de outras pessoas.
Mas não me assombro com essa estatística, pois vejo cada vez mais as pessoas fugindo de si mesmas e de suas profundidades. Os seres sapiens contemporâneos se alimentam somente do que lhes causem prazer imediato, não mexa em feridas antigas, não mergulhe nos traumas que não desejam evocar, e analisar, e até mesmo curar, por ser um processo longo e doloroso. E tanto a leitura, quanto a escrita, quanto as terapias psicanalíticas nos proporcionam esse mergulho em si para poder voltar à tona de maneira maior e melhor.
Recentemente voltei a ler 21 lições para o século 21, do escritor e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Noah Harari. Ele afirma que precisamos nos reinventar constantemente para sobrevivermos no mercado de trabalho do futuro. E como faremos isso, brasileiras e brasileiros, se não lermos mais e melhor? E vou além: como dar sentido às nossas vidas se não mergulharmos em nós mesmos através da leitura, da escrita, do conhecimento próprio?
Este artigo é um manifesto. Um grito de socorro em nome da leitura. E da escrita. Se ambas servirem para nos conectar uns com os outros, “para uns aos outros ler”, para nos dar sentido de vida, nos fazer dar mais um passo em um mundo tão caótico e não nos perdermos de nós mesmos, então estaremos a salvo da superficialidade, da inércia, do egoísmo, da falta de solidariedade.
(Tenório, A menina do olho verde, p. 50)
Este artigo é um manifesto. Um grito de socorro em nome da leitura. E da escrita.
Se você o lê, não faz parte dos 6,7 milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram de ler nos últimos quatro anos, ou dos 53% de pessoas nascidas no país que não leem ao menos um livro ou trecho de livro por mês, segundo alerta o Instituto Pró-Livro na recente pesquisa sobre a leitura no Brasil.
O fato me preocupa, mas não me assombra. Já circulei por toda a cadeia produtiva do livro, a começar como leitora voraz de romances caudalosos de Agatha Christie, Sidney Sheldon, J. M. Simmel na infância e na adolescência, passando, na vida adulta, por uma livraria especializada em livros de arte – a Domenico, no bairro do Pina, Recife –, participando na editora Calibán do Rio de Janeiro, até chegar ao mundo acadêmico, com mestrado em Teoria da Literatura na UFPE e doutorado em Escrita Criativa na PUCRS.
E a leitura, quer seja o livro impresso – o meu preferido –, quer seja o livro digital sempre foi a minha companheira de todas as horas. Alimenta a alma, afasta a depressão, nos acompanha nos momentos solitários, aqueles em que o ser humano precisa se encontrar com sua essência para se conhecer mais e melhor e poder acrescentar na vida de outras pessoas.
Mas não me assombro com essa estatística, pois vejo cada vez mais as pessoas fugindo de si mesmas e de suas profundidades. Os seres sapiens contemporâneos se alimentam somente do que lhes causem prazer imediato, não mexa em feridas antigas, não mergulhe nos traumas que não desejam evocar, e analisar, e até mesmo curar, por ser um processo longo e doloroso. E tanto a leitura, quanto a escrita, quanto as terapias psicanalíticas nos proporcionam esse mergulho em si para poder voltar à tona de maneira maior e melhor.
Recentemente voltei a ler 21 lições para o século 21, do escritor e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Noah Harari. Ele afirma que precisamos nos reinventar constantemente para sobrevivermos no mercado de trabalho do futuro. E como faremos isso, brasileiras e brasileiros, se não lermos mais e melhor? E vou além: como dar sentido às nossas vidas se não mergulharmos em nós mesmos através da leitura, da escrita, do conhecimento próprio?
Este artigo é um manifesto. Um grito de socorro em nome da leitura. E da escrita. Se ambas servirem para nos conectar uns com os outros, “para uns aos outros ler”, para nos dar sentido de vida, nos fazer dar mais um passo em um mundo tão caótico e não nos perdermos de nós mesmos, então estaremos a salvo da superficialidade, da inércia, do egoísmo, da falta de solidariedade.
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