Clarice Lispector e Leopoldo Naschibin: "Os impossíveis do Recife"
Marcus Prado
Jornalista
Publicado em: 11/11/2024 03:00 Atualizado em: 09/11/2024 06:50
“(...) São sorrisos felizes, nós sorríamos (..)” José Rodrigues de Paiva: “O breve fulgor do tempo”.
Um menino e uma menina que chupavam balas na sala de aulas fazendo barulhos viveram um tempo maravilhado no Recife, na mesma cidade, na mesma época (1927-1930), estudantes das mesmas escolas (Escola João Barbalho/Ginásio Pernambucano), bancas de estudo sempre juntas: Clarice Lispector (1920-1977) e Leopoldo Naschibin (1922-1993). Embora dotados de inteligência invulgar, detentores das melhores notas nas classes por onde passavam, tornaram-se conhecidos pelas traquinagens e ruídos que construíam sempre juntos. Acontece que as professoras e os diretores desses colégios colocavam sempre nas cadernetas de disciplina a sentença sem pena: “eles são impossíveis!” Quando se encontravam, já adultos, havia uma senha no aperto de mãos e nos abraços: “Os impossíveis”. Clarice, às vezes “chorona” na escola, tinha necessidade do ombro do colega que não faltava, também, nos instantes em que o lúdico ia ao quase inimaginável. Numa crônica de Jornal, depois publicada no livro “Todas as Crônicas” (2020), Clarice conta como conheceu Nachbin, uma amizade que não ficaria perdida nas dobras do tempo e dos ventos da memória. Um dia após se conhecerem, eram “os dois impossíveis da turma”.
Apesar de dois anos mais novo, ele se tornaria seu protetor, conta a escritora no texto, intitulado “As grandes punições”, sobre o seu “mau comportamento”. “Passamos o ano ouvindo nossos dois nomes gritados pela professora – mas, não sei por que, ela gostava de nós, apesar do trabalho que lhe dávamos. Separou nossos bancos inutilmente, pois Leopoldo e eu falávamos lá o que falávamos em voz alta, o que piorava a disciplina da classe. Depois passamos para o primeiro ano primário. E para a nova professora também éramos os dois alunos impossíveis. Tirávamos boas notas, menos em comportamento.” As impressões da infância de Clarice no Recife e nas praias de Olinda, até os 15 anos, “os mais felizes da sua vida”, são as que mais aparecem em seus contos, obra-prima em nosso idioma,
Os dois se separaram no quarto ano do primário, quando Clarice mudou de escola e se reencontraram no Ginásio Pernambucano. “Foi como se não nos tivéssemos separado. Ele continuou a me proteger.” Juntos até quando saiam roubando flores dos jardins das casas de classe alta do bairro da Boa Vista. Clarice Lispector seria considerada uma das escritoras mais importantes do Brasil, traduzida em vários idiomas e a inspirar numerosas teses acadêmicas. Leopoldo Nachbin seria mundialmente conhecido no campo da matemática avançada. Ficou conhecido pelo “Teorema de Nachbin” e teve uma trajetória marcada por ineditismos. Foi professor em renomadas universidades pelo mundo, com destaque para o Institut des Hautes Études Scientifiques (IHES), as Universidades de Paris VI, Chicago, Oxford, Lisboa e Pisa.
Um menino e uma menina que chupavam balas na sala de aulas fazendo barulhos viveram um tempo maravilhado no Recife, na mesma cidade, na mesma época (1927-1930), estudantes das mesmas escolas (Escola João Barbalho/Ginásio Pernambucano), bancas de estudo sempre juntas: Clarice Lispector (1920-1977) e Leopoldo Naschibin (1922-1993). Embora dotados de inteligência invulgar, detentores das melhores notas nas classes por onde passavam, tornaram-se conhecidos pelas traquinagens e ruídos que construíam sempre juntos. Acontece que as professoras e os diretores desses colégios colocavam sempre nas cadernetas de disciplina a sentença sem pena: “eles são impossíveis!” Quando se encontravam, já adultos, havia uma senha no aperto de mãos e nos abraços: “Os impossíveis”. Clarice, às vezes “chorona” na escola, tinha necessidade do ombro do colega que não faltava, também, nos instantes em que o lúdico ia ao quase inimaginável. Numa crônica de Jornal, depois publicada no livro “Todas as Crônicas” (2020), Clarice conta como conheceu Nachbin, uma amizade que não ficaria perdida nas dobras do tempo e dos ventos da memória. Um dia após se conhecerem, eram “os dois impossíveis da turma”.
Apesar de dois anos mais novo, ele se tornaria seu protetor, conta a escritora no texto, intitulado “As grandes punições”, sobre o seu “mau comportamento”. “Passamos o ano ouvindo nossos dois nomes gritados pela professora – mas, não sei por que, ela gostava de nós, apesar do trabalho que lhe dávamos. Separou nossos bancos inutilmente, pois Leopoldo e eu falávamos lá o que falávamos em voz alta, o que piorava a disciplina da classe. Depois passamos para o primeiro ano primário. E para a nova professora também éramos os dois alunos impossíveis. Tirávamos boas notas, menos em comportamento.” As impressões da infância de Clarice no Recife e nas praias de Olinda, até os 15 anos, “os mais felizes da sua vida”, são as que mais aparecem em seus contos, obra-prima em nosso idioma,
Os dois se separaram no quarto ano do primário, quando Clarice mudou de escola e se reencontraram no Ginásio Pernambucano. “Foi como se não nos tivéssemos separado. Ele continuou a me proteger.” Juntos até quando saiam roubando flores dos jardins das casas de classe alta do bairro da Boa Vista. Clarice Lispector seria considerada uma das escritoras mais importantes do Brasil, traduzida em vários idiomas e a inspirar numerosas teses acadêmicas. Leopoldo Nachbin seria mundialmente conhecido no campo da matemática avançada. Ficou conhecido pelo “Teorema de Nachbin” e teve uma trajetória marcada por ineditismos. Foi professor em renomadas universidades pelo mundo, com destaque para o Institut des Hautes Études Scientifiques (IHES), as Universidades de Paris VI, Chicago, Oxford, Lisboa e Pisa.
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