Do caos à esperança

Dilson Cavalcanti
Diretor do Campus Agreste da UFPE

Publicado em: 05/09/2024 03:00 Atualizado em: 04/09/2024 22:01

O futuro da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) no Brasil está em construção, e seu sucesso depende da superação dos desafios enfrentados nos últimos anos. Durante o governo anterior, a visão fundamentalista anticiência e negacionista trouxe retrocessos significativos, afetando profundamente o desenvolvimento científico e tecnológico do país. A comunidade científica sofreu com a redução de financiamentos, suspensão de projetos importantes e migração de pesquisadores para outros países, fenômeno conhecido como fuga de cérebros. Esses problemas comprometeram a capacidade de inovação e o avanço do conhecimento científico, travando o desenvolvimento do Brasil.

Com a chegada do terceiro governo Lula, uma nova esperança surge para a CT&I brasileira. A retomada dos investimentos e a valorização da ciência para o desenvolvimento econômico, social e sustentável são evidentes. Uma das medidas mais importantes foi a recomposição dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Ao inaugurar a pedra fundamental do Orion, complexo laboratorial conectado ao acelerador de partículas Sirius, o presidente destacou em seu discurso a necessidade de abandonar o complexo de vira-latas, referindo-se à crença de que a vanguarda em CT&I só existe no exterior. Esta fala é um chamado para valorizar a ciência nacional e investir no potencial dos nossos pesquisadores e de nossas instituições para projetar o país na vanguarda científica.

É importante destacar também a atuação da ministra Luciana Santos, que tem sido fundamental para reestabelecer e fortalecer o diálogo com a comunidade científica. Além disso, são perceptíveis os avanços na política coordenada entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico (FNDCT) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), na direção de garantir que os recursos sejam aplicados para áreas estratégicas, proporcionando avanços relevantes para nosso país.  

Depois de 14 anos, outro marco significativo que vivenciamos esta semana foi a retomada da Conferência Nacional de CT&I, com a realização de sua 5ª edição, realizada em Brasília dia 30 de julho a 01 de agosto. Vale mencionar o papel fundamental do Prof. Sérgio Rezende (ex-ministro de Ciência e Tecnologia, de 2005 a 2011) como coordenador-geral da 5ª CNCT&I. O processo de construção dessa conferência nacional teve início com mais de 200 conferências preparatórias, realizadas de dezembro de 2023 a maio de 2024, em todo o país. Esses encontros regionais e setoriais foram fundamentais para levantar demandas, identificar desafios e propor caminhos para fortalecer a CT&I no Brasil. Com o tema “Para um Brasil Justo, Sustentável e Desenvolvido”, a conferência reúne cientistas, gestores públicos, sociedade civil para debater políticas públicas estratégicas para os próximos anos.

Sem dúvidas, um ponto alto dessa conferência foi em sua abertura, na qual foi apresentado o primeiro Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), intitulado “IA para o Bem de Todos”. O plano, que prevê um investimento de R$ 23 bilhões entre 2024 e 2028, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e apresenta 31 metas em áreas estratégicas. Esse plano é uma resposta aos apelos e desafios propostos pelo presidente Lula para que o país saia da posição periférica para a vanguarda, sendo mais independente e inovador.

A retomada dos investimentos em CT&I é essencial para superar o período de caos e retrocessos vividos recentemente. A ciência e a tecnologia são pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país. Investir em CT&I é investir no futuro, na geração de conhecimento e na melhoria da qualidade de vida da população. A 5ª CNCTI foi uma oportunidade única para consolidar esse compromisso, reunindo os diferentes atores da sociedade em prol de um objetivo comum: fortalecer a CT&I como motor do desenvolvimento nacional.

Ao superar o negacionismo e retomar os investimentos, o Brasil dá um passo importante. Não obstante, é fundamental a consolidação das políticas e que os investimentos possam ser distribuídos de forma mais equitativa, diminuindo estrategicamente as assimetrias regionais e entre a região metropolitana e o interior dos estados, garantindo um futuro sustentável e próspero para todos os brasileiros.

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