Fato novo
Carlos Carvalho
Advogado
Publicado em: 06/08/2024 03:00 Atualizado em: 05/08/2024 22:41
Corria o ano de 2010 na pacata cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas. No foro, aguardávamos a chegada do magistrado, que, segundo sussurravam, a boca miúda, nos corredores, iniciaria o dia realizando um casamento, regado a farto café da manhã em fazenda próxima. O pai da noiva e o magistrado eram compadres. Não chegou com os olhos injetados, parecia até mesmo um padre. Assim que adentrou, foi informado de que um advogado o aguardava, fui chamado para a sala do MM, que ouviu o meu pedido de cumprimento do mandado, chamou o oficial de justiça e aconselhou: “Vá e volte evitando problemas.”
Entre a minha chegada e a chegada do magistrado, o representante do MP que participaria de um júri, passou apressado, voltou, olhou novamente para mim e perguntou o que eu desejava. Esclareci que pretendia cumprir uma reintegração de equipamentos, e ele, gentilmente, me convidou para ingressar no gabinete, para aguardar a chegada do magistrado, me aconselhando a não ter pressa e não tratar nada pessoalmente com a pessoa que teria os bens em posse: “Deixe com o oficial de justiça!”. Sábio conselho, pois, ao ser informado, o réu disse ao meirinho que passaria bala em quem estivesse no posto. Estava descendo de Bom Conselho.
Um assassinato era a pauta do dia na cidade. Foro lotado. Segundo me relatou o “parquet”, o acusado dizia que não teve a intenção de matar, havia jurado o falecido no dia anterior ao embate, e desferido uma foiçada na cabeça do mesmo no fatídico dia, porém, vontade mesmo de tirar-lhe a vida, em absoluto, e balançava a cabeça para fazer a cena. Não socorreu, deixou que algum transeunte encontrasse a vítima jogada no mato, na beira da estrada. “O socorro não chegou”. O pivô, um jegue, vendido pelo executor e não pago pela vítima, no valor de R$ 60,00 (sessenta reais).
Após tal resumo, adentrou na sala um veterano advogado, que logo me foi apresentado como o presidente da OAB local. Estava preocupado, pois o adversário estava procurando-o para receber a lista dos inscritos e votantes naquela cidade, “insistindo” que era época de eleição dos quadros.
O representante do MP escutou, pacientemente, com ar compenetrado, e, finda a narrativa, aconselhou: “Não entregue! Deixe-o pedir judicialmente. Eleição é guerra! Coisa para quem tem o couro curtido e grosso! Aguenta peia! O senhor goza de plena saúde! Fique tranquilo. A seccional está há bastante tempo em boas mãos. Vamos manter o ‘status quo’ ”. O advogado saiu da sala outro homem, vertical, um vencedor. Desconfiado estava, e fiquei, nem ele disse e nem perguntei nada. Sobrinho/neto de Pontes de Miranda, versado e articulado, uma figura.
O mundo político é um mistério para mim e acredito piamente que Biden se socorreu dos oráculos brasileiros, tanto do nobre representante do MP acima mencionado, para se apartar, como das lições de Dias Gomes, para trazer um fato novo.
O inigualável Odorico Paraguaçu sofria um processo grave, um linchamento público, insuflado pela imprensa “comunista, marronzista e badernista”, com pedido de impedimento em andamento. Para mudar o foco, lançou mão de um artifício, confessando ao seu secretário (Dirceu) que, diante da situação, se fazia necessário um fato novo, algo que mudasse a trajetória, fazendo com que todos deixassem aquelas maledicentes acusações esquecidas no passado. Assim, a imprensa sairia de seus ombros para tratar da novidade plantada. Aquelas questões passadas ficariam pequenas, e seriam, afinal, esquecidas.
Não se fala mais do debate com Donald Trump, jornal de ontem. Agora, o nome é Kamala Harris, afiada vice-presidente, procuradora, senadora ...
Viva Dias Gomes! Viva Palmeira dos Índios!
Entre a minha chegada e a chegada do magistrado, o representante do MP que participaria de um júri, passou apressado, voltou, olhou novamente para mim e perguntou o que eu desejava. Esclareci que pretendia cumprir uma reintegração de equipamentos, e ele, gentilmente, me convidou para ingressar no gabinete, para aguardar a chegada do magistrado, me aconselhando a não ter pressa e não tratar nada pessoalmente com a pessoa que teria os bens em posse: “Deixe com o oficial de justiça!”. Sábio conselho, pois, ao ser informado, o réu disse ao meirinho que passaria bala em quem estivesse no posto. Estava descendo de Bom Conselho.
Um assassinato era a pauta do dia na cidade. Foro lotado. Segundo me relatou o “parquet”, o acusado dizia que não teve a intenção de matar, havia jurado o falecido no dia anterior ao embate, e desferido uma foiçada na cabeça do mesmo no fatídico dia, porém, vontade mesmo de tirar-lhe a vida, em absoluto, e balançava a cabeça para fazer a cena. Não socorreu, deixou que algum transeunte encontrasse a vítima jogada no mato, na beira da estrada. “O socorro não chegou”. O pivô, um jegue, vendido pelo executor e não pago pela vítima, no valor de R$ 60,00 (sessenta reais).
Após tal resumo, adentrou na sala um veterano advogado, que logo me foi apresentado como o presidente da OAB local. Estava preocupado, pois o adversário estava procurando-o para receber a lista dos inscritos e votantes naquela cidade, “insistindo” que era época de eleição dos quadros.
O representante do MP escutou, pacientemente, com ar compenetrado, e, finda a narrativa, aconselhou: “Não entregue! Deixe-o pedir judicialmente. Eleição é guerra! Coisa para quem tem o couro curtido e grosso! Aguenta peia! O senhor goza de plena saúde! Fique tranquilo. A seccional está há bastante tempo em boas mãos. Vamos manter o ‘status quo’ ”. O advogado saiu da sala outro homem, vertical, um vencedor. Desconfiado estava, e fiquei, nem ele disse e nem perguntei nada. Sobrinho/neto de Pontes de Miranda, versado e articulado, uma figura.
O mundo político é um mistério para mim e acredito piamente que Biden se socorreu dos oráculos brasileiros, tanto do nobre representante do MP acima mencionado, para se apartar, como das lições de Dias Gomes, para trazer um fato novo.
O inigualável Odorico Paraguaçu sofria um processo grave, um linchamento público, insuflado pela imprensa “comunista, marronzista e badernista”, com pedido de impedimento em andamento. Para mudar o foco, lançou mão de um artifício, confessando ao seu secretário (Dirceu) que, diante da situação, se fazia necessário um fato novo, algo que mudasse a trajetória, fazendo com que todos deixassem aquelas maledicentes acusações esquecidas no passado. Assim, a imprensa sairia de seus ombros para tratar da novidade plantada. Aquelas questões passadas ficariam pequenas, e seriam, afinal, esquecidas.
Não se fala mais do debate com Donald Trump, jornal de ontem. Agora, o nome é Kamala Harris, afiada vice-presidente, procuradora, senadora ...
Viva Dias Gomes! Viva Palmeira dos Índios!
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