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IPCA negativo

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 13/08/2022 03:00 Atualizado em: 13/08/2022 04:49

O IPCA de julho de 2022 teve variação negativa de 0,68%, quando comparado ao mês anterior. Já estando com uma variação acumulada do índice geral no ano de 4,77%, a notícia da queda parece ser bastante positiva. Apesar de apenas dois conjuntos de bens e serviços terem efetivamente levado a essa variação negativa de preços, combustíveis e habitação, houve queda da taxa de elevação deles na maioria dos itens com dados disponibilizados pelo IBGE, embora os índices de inflação neles continuassem a ser positivos. Esse é um resultado importante. Talvez mais até do que a variação negativa do índice geral, provocada por um caso fortuito.

Os indivíduos pró-governo vão argumentar que essa queda da inflação é consequência de uma política econômica bem conduzida. Aqueles contra o governo vão dizer que ela foi consequência apenas do estupro que o presidente e seus asseclas impuseram aos governos estaduais, ao reduzir o ICMS, além da redução da carga de tributos federais incidindo nos combustíveis (PIS/COFINS). Essa segunda visão está bem próxima da realidade. O fator que levou à queda dos preços foi a redução de carga tributária sobre combustíveis, telecomunicações e transporte público. Entretanto, há outro fator que tem sido importante nessa desaceleração da subida de preços: o enfraquecimento da capacidade de demanda da população. A maior parte das rendas individuais não está subindo no ritmo dos preços. Daí, as pessoas estarem ficando mais pobres. As empresas aumentaram muito os preços para tentar compensar as perdas com a pandemia, sem proporcionar uma contrapartida semelhante nas rendas pagas aos funcionários e fornecedores regulares. Ao aumentar suas margens, elas começaram a se capitalizar novamente, seja pagando dívidas ou recompondo reservas. Por isso, a demanda começou a não corresponder à produção disponível nos mercados. A facilidade em elevar preços, então, começou a arrefecer. Isso justifica o fato de que a inflação está em queda na maioria dos grupos de itens, mesmo naqueles que não têm combustíveis como uma fonte importante de custos. Obviamente, a elevação da taxa de juros contribuiu também decisivamente para essa queda de demanda.

A elevação do auxílio emergencial pode voltar a aquecer a demanda em relação à produção e facilitar novos aumentos de preços. Ou seja, a inflação pode ter um novo repique a partir de setembro ou outubro, quando os estoques já atingirem os novos níveis mais baixos adequados devido ao aumento da taxa de juros. Aí essa última poderá ter que voltar a crescer para forçar mais queda na demanda por bens duráveis e investimentos, incluindo estoques. Ou seja, a queda na inflação dos últimos meses pode de fato ser revertida no curto prazo por causa da política econômica do governo federal. Isso significa que talvez tal política esteja atrapalhando mais do que ajudando. A geração de superávits fiscais poderia atenuar ou mesmo eliminar essa retomada inflacionária. Os estados estão fazendo a parte deles, arrecadando mais do que gastam. Contudo, o governo federal os tem atrapalhado nessa empreitada, pois reduziu muito suas arrecadações com os cortes recentes de ICMS.

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