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Quais são as nossas prioridades?

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 07/05/2022 03:00 Atualizado em: 07/05/2022 06:24

Às vésperas de uma eleição, uma avaliação da evolução de gastos públicos estratégicos é fundamental para entendermos para onde estamos indo. Os quatro anos do governo atual devem fechar o ciclo com os gastos públicos atingindo 38,7% do PIB, enquanto nos oito anos do Governo Lula (2003 a 2010) esse percentual médio foi de 38,8%. Esses dados são do FMI, World Economic Outlook, abril 2022. Eles indicam que ambos os governos mantiveram a mesma relevância do setor público na economia. A propaganda do atual presidente, de que faria um governo mais liberal, não se concretizou. Vale salientar que no Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) esse percentual atingiu 38,14%, também semelhante ao que se verificou nos dois governos anteriormente comparados. Há muita resistência dos grupos organizados na sociedade brasileira à redução desse percentual, pois ela geraria alguns perdedores, mesmo que a sociedade como um todo possa ser prejudicada com esses gastos elevados.

Os investimentos, por sua vez, tiveram uma participação no PIB maior no Governo Lula do que no Governo Bolsonaro. Enquanto eles atingiram 18,98% no primeiro, ficaram em 16,33% no Governo Bolsonaro e em 17,87% no governo FHC. Ou seja, a ideia de que Lula eleva o risco para os empresários, responsáveis pelos investimentos, não parece se confirmar a partir desses dados. Todos eles também são do FMI. Os gastos em infraestrutura no país, por sua vez, também tiveram uma maior participação no PIB no Governo Lula do que no Governo Bolsonaro. Enquanto no primeiro, eles atingiram 2,19%, no segundo representaram apenas 1,67%. Já no Governo FHC esse percentual foi de 2,20%. Esses são dados do Ipea até 2018 e da Inter.B, de 2019 a 2022. Eles mostram que o Governo Lula, assim como o de FHC, foi mais desenvolvimentista do que o Governo Bolsonaro. Vale lembrar que os investimentos em infraestrutura elevam a atração de investimentos privados e promovem o aumento da produtividade e com ela o crescimento econômico e o bem-estar social.

Sendo a educação o investimento mais importante para o desenvolvimento de médio e longo prazos de um país, vale também analisar o seu comportamento nos diversos governos. Nesse caso, contudo, não há dados mais recentes, pois a incompetência na gestão do Inep, pelo Ministério da Educação, descontinuou as séries de indicadores existentes anteriormente. Vale observar, contudo, que o governo Lula assumiu o poder com os gastos em educação no Brasil em 4,6% do PIB e deixou-os em 5,6%, em 2010. O Governo Bolsonaro, por sua vez, assumiu a administração federal com o gasto com educação representando 6,2% do PIB. O que se sabe é que ele reduziu esses gastos em 2019, em comparação com 2018. Além disso, houve sucessivas reduções nos valores reais em 2020 e em 2021. Os valores orçados para 2022 devem trazer nova redução dos gastos. Ou seja, a educação claramente não foi prioridade no atual governo. Difícil entender as prioridades do Governo Bolsonaro. Mas parece que gastar com armas e defesa tem sido sua prioridade, algo bem diferente daquelas que são as prioridades da maioria da população brasileira.

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