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O Copom deve ainda elevar a taxa de juros?

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 30/04/2022 03:00 Atualizado em:

O IPCA-15 de abril/2022 foi mais elevado do que esse mesmo índice em março/2022. Ele saltou de 0,95% para 1,73% ao mês. O IPCA-15 mede a inflação do dia 15 do mês anterior ao dia 15 do mês a que se refere, enquanto o IPCA mede a inflação entre o primeiro e o último dia do mês. Frequentemente, o IPCA-15 dá uma direção da variação do IPCA, o índice oficial de inflação. Isso significa que a inflação deve estar aumentando no país. Se o IPCA de março, em 1,62%, já surpreendeu o presidente do Banco Central, talvez o IPCA-15 possa tê-lo posto em estado de choque. Diante dessa tendência, economistas 100% ortodoxos têm defendido que a escalada da taxa de juros deve continuar nos próximos meses.

Milton Friedman, Prêmio Nobel em Economia e economista super ortodoxo, em vários de seus escritos enfatizou que a resposta da inflação à taxa de juros ou oferta monetária era lenta e que, por isso, muitas vezes bancos centrais tendiam a exagerar na dose da política monetária. Contratos, linhas de produção longas e mecanismos de ajustes nas expectativas eram alguns dos determinantes dessa demora na resposta. A reação da inflação começa lenta, aos poucos vai aumentando, depois estabiliza e, eventualmente, passa a arrefecer. Segundo ele, muitas vezes os bancos centrais exageram na política monetária exatamente por causa dessa demora. A ansiedade leva a excessos na utilização de seus instrumentos e geração de instabilidade econômica.

Os economistas não ortodoxos têm argumentado que a origem da inflação é de custo ou a partir de choques de oferta. Na visão deles, contudo, reduzir a demanda agregada, através de elevação da taxa de juros, não seria um combate correto. Por isso, o Copom deveria deixar o tempo exaurir os aumentos de preços, devido aos custos internacionais, e manter a taxa de juros nos níveis atuais ou mesmo reduzi-la, para não elevar o déficit público nominal. Ou seja, acreditam que a política monetária atual estaria errada. Esse componente de custo é inegável, já que houve aumento de preços de vários bens e serviços em dólar americano, devido à situação de oferta internacional. Contudo, na visão ortodoxa, os aumentos de taxas de juros podem ser vistos como apenas uma forma de forçar a competição entre empresas por um mercado menor e, com isso, limitar os aumentos de preços, além de criar ambiente em que a expectativa de queda da inflação possa ser crível. Isso também afeta a propensão a ajustes de preços e reduz a inflação.

A taxa de juros real no Brasil, quando descontadas as previsões de inflação, já está elevada, apesar de ex-post ela vir impondo perdas reais aos investidores. Esse fato já elevou a confiança dos poupadores e as aplicações financeiras voltaram a ser vistas como boa opção entre eles. Diante disso, mesmo para os crentes na teoria econômica ortodoxa, é possível se conceber que o Copom pode esperar um pouco para elevar a taxa de juros novamente, além dos quase 12,75% que já foram prometidos. O excesso de recurso à política monetária pode, na verdade, gerar noção de que o Copom está perdido e isso reduzir a crença nas expectativas de bancos e consultorias que são divulgadas. Isso poderia gerar corrida a ativos reais ou moeda estrangeira e, assim, provocar novas desvalorizações cambiais e elevação de preços. Ou seja, não precisa ser heterodoxo para achar que não seria adequado elevar mais a taxa de juros.

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