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Perspectivas para 2022

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 01/01/2022 03:00 Atualizado em: 31/12/2021 18:29

A população e as empresas brasileiras estão entrando em 2022 com uma ressaca de um ano muito ruim, em que o PIB caiu cerca de 4,5%. Além disso, as projeções para 2022 são de uma taxa de crescimento de apenas 0,42% (Boletim Focus do Banco Central de 27/12/2021). As famílias entram com um endividamento de 50% de suas rendas, nível jamais visto no país anteriormente. Mesmo quando se olha apenas para o endividamento bancário não habitacional, esse patamar atinge pouco mais de 30%, nível também nunca visto no histórico dessa estatística (Banco Central publica esses dados desde 2005). A pandemia explica muito desse endividamento, mas mesmo antes dela, ele havia aumentado em 2,55 pontos percentuais desde o início do governo Bolsonaro. Isso reduz o poder de compra das famílias, pois têm hoje de dedicar pouco mais de 26% de suas rendas para o pagamento de dívidas (juros+amortização), segundo dados do Banco Central. Esse é o patamar mais alto da série desde 2005. Tal percentual deve aumentar ainda mais no início de 2022 por causa da elevação da taxa de juros e dos aumentos de salários inferiores aos índices de inflação.

As empresas também estão no seu nível mais alto de endividamento da série do Banco Central, iniciada em 2012. As micro, pequenas e médias, particularmente, passaram por uma elevação dele maior do que as grandes. Junto com os dados sobre dívidas das famílias, esses números explicam muito das perspectivas para 2022 projetadas pelos economistas. Mesmo sem o efeito Bolsonaro, que piora em muito a situação, dada sua instabilidade emocional e impacto perverso na estabilidade institucional do país, ainda assim, as perspectivas para o próximo ano não são boas.

Além desses problemas, há ainda a inflação e o endividamento do setor público, ambos os indicadores bem perversos para o desempenho econômico. Enquanto a primeira deverá fechar 2021 acima de 10% ao ano, a dívida bruta deve encerrar o ano superior a 83%. Para controlar a primeira será necessário manter a taxa de juros em patamares elevados. As expectativas são de que a Selic feche 2022 em 11,5%, superior ao nível atual de 9,25%. Ou seja, ela deverá elevar o endividamento do governo (déficit nominal deverá ser superior a 7% em 2022), das famílias e das empresas. Daí o menor crescimento da demanda agregada e do PIB. Isso significa que será difícil sair da situação apontada pelas previsões sombrias dos agentes de mercado.

A perspectiva de derrota de Bolsonaro nas eleições, que provavelmente continuará ao longo do ano, antes da eleição, dará um pouco mais de otimismo aos agentes econômicos. Mas para que ele não seja compensado por outras incertezas, será necessário que o candidato com maior probabilidade de vencer, Lula, não fique apenas falando para sua plateia mais radical, pois esses também gostam de políticas que tendem a gerar o caos econômico. Para que ele não cause tal problema, uma boa estratégia de alianças pode ajudar, mesmo que elas não sejam necessárias para a vitória nas urnas.

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