Diario de Pernambuco
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Graciliano Ramos neste velho e querido DP

Raimundo Carrero
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 10/01/2022 03:00 Atualizado em:

Encontro no livro Garranchos, com satisfação, é claro, artigos de Graciliano Ramos, o gênio do romance brasileiro,  publicados, originalmente, neste velho  e querido Diario de Pernambuco. Sim, assim mesmo, com toda esta devoção. É que me considero, em certo sentido, filho deste jornal, onde aprendi a rascunhar papéis,  experimentei muitas emoções – com licença Roberto Carlos – e aprendi muito, muito mesmo, desde formular uma frase, uma ideia, e , finalmente, livros, muitos livros. Quase todos os meus livros nasceram aqui, sobretudo nas noites de plantão, ouvindo o bate-bate do telex e os chamados urgentes dos telefones. Fui foca, repórter estagiário, repórter de aeroporto, repórter setorista, editor de polícia, editor de cidades, chefe de reportagem, editor de primeira página, plantão. Secretário de redação e, sobretudo, filho do Diario de Pernambuco. Dia e noite trabalhando sem amargura, inclusive aos domingos. Sem parar, sem parar. Acertando e errando. Feliz.
  Causou-me profunda emoção descobrir que Graciliano Ramos por estas páginas cuidando, sobretudo, do Romance do Nordeste, título de um dos seus artigos, de 10 de março de 1935, onde escreve: “O certo é que o Romance do Nordeste exista e vai para diante. As livrarias estão cheias de nomes novos: Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Amando Fontes. Nomes que solidificaram prestígio e posição. Lidos, relidos, amados em todo o mundo.”
 Isso tudo bateu muito forte em mim, sobretudo observando que os velhos fantasmas também viveram as nossas dores e as nossas alegrias comungando dos nossos sonhos, festejando e elogiando os nossos textos. Todos estamos aqui e por pouco muito pouco – quem sabe meu Deus – estaremos citados nos outros tantos anos deste velho e inesgotável Diario de Pernambuco de quem todos nós, afinal, somos filhos. Mesmo os que estão colaborando agora.
Na Antologia do Conto Pernambucano, publicada por Antônio Campos, o grande promotor da literatura do nosso estado, ainda jovem e determinado – Cyl Gallindo incluiu Graciliano Ramos, para estranheza de muitos. Graciliano não só morou em Buíque, como escreveu muito, muito ali, publicando neste nosso Diario.
  Assim podemos dizer que o grande escritor tem sua porção pernambucana. E, mais do que pernambucana, diarista. Sim, ele esteve aqui e preparou  o caminho para todos nós.



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