Diario de Pernambuco
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Cenas do fórum em três tempos

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicado em: 08/01/2022 03:00 Atualizado em: 07/01/2022 22:34

Servidor ainda da Justiça Federal, atendia uma pessoa que tivera pequena área do imóvel rural desapropriado, para aumentar o leito da BR-201, Aracaju-Itabaiana, e queria receber a indenização, também pequena, a depender apenas da expedição de alvará. Quando apontei a documentação que deveria ter, exigida para todos – foram mais de duzentos desapropriados -, o cidadão me esclareceu que ia falar com o chefe político de Itabaiana para resolver. Ótimo, observei. Traga a autorização dele que junto ao processo e o juiz determina a expedição do alvará. Nem esperei, nem o cidadão trouxe.

Outra vez, já juiz de direito, no seio da família, a pergunta me foi feita de chofre acerca de um tipo de aquisição de propriedade imóvel bem absurda. Fiquei espantado. Respondi com outra indagação: onde ouviu isso? Resposta: na novela da televisão. Aí, então, parti para a ironia. Não sabia que novela de televisão ensinava direito, acrescentando que desconhecia qualquer lei que tocasse na matéria daquele modo. Mas, para não deixar meu interlocutor encabulado, afirmei que ia passar a assistir tal novela. Teria muito a aprender.  

Juiz federal, relaciono a audiência, para ouvida de testemunhas de acusação, o réu, inquieto, de faculdades mentais deterioradas. O advogado, enviado pelo escritório contratado, estava desprovido de procuração. Para regularizar a situação, evitando discussões futuras, indaguei ao réu se confirmava o profissional ali presente como seu advogado. A resposta veio via indagação: E eu vou ter de pagar também a ele? De minha parte, segurei o riso.

Enfim, desse rol, outra. A advogada, interiorana, bem extrovertida, batendo na sisudez de minha formalidade. Falava alto. Resolvi tomar as rédeas. Antes de proferir uma só palavra, ela me nocauteou com uma observação: O senhor é o homem mais bonito que conheço! Devo ter ficado vermelho, de espanto, claro. As palavras me faltaram. Tudo mui rápido. Por aquela, não esperava. Então, dela, ouvi o complemento: É o mais bonito depois do meu marido. Esbocei um riso amarelado. Minha mãe, se ouvisse, ia ficar contente. Dei início a audiência. O receio de nova afirmação daquela. No fundo, que ninguém me ouça, gostei.

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