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Sobre Anália, Amélia e Iracema

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicado em: 04/12/2021 03:00 Atualizado em: 03/12/2021 23:06

Sem querer, em absoluto, ingressar na intimidade da vida de qualquer casal, muito menos na de Anália, salta aos olhos que a sua vida, nas quatro paredes da casa, não vai bem. A vida dos dois, Anália e esposo, ressalte-se. Acredito até que pode ser um desses casos, tão rotineiros, de casal que não anda junto, cada um em direção diferente. Não é que eu saiba de algum fato importante,  porque nem amizade tenho com Anália e seu marido, mas porque salta aos olhos que ele, não ela, deu para levar roupa suja em público, o que demonstra que a vida conjugal de Anália está indo cada vez mais para o brejo. Explico.

É só verificar que o marido vai para Maracangalha de qualquer jeito, deixando bem claro que se Anália não quiser ir, ele vai só, e, ademais, vai de chapéu de palha, mas vai, insistindo que vai, como se quisesse mostrar que a presença dela não lhe faz falta, porque, com Anália ou sem Anália, ele vai. Ora, está até sendo indiscreto. Ninguém tem nada a ver com ele e Anália, casamento se faz e se desfaz. Agora, exaltar a indecisão de Anália, de público, bom, ao meu modesto ver, não fica bem.  Anália é que deveria lhe fechar a porta, no retorno dele.

Se Anália não vai para todo lugar que o marido quer ir, Amélia, ah, Amélia, é coberta de elogios. Primeiro, porque o marido lhe exalta, e exalta com elogios rasgados: Amélia é que a mulher de verdade. Entende-se, as outras não são, e, entre elas, quem sabe lá, se Anália não puxa o cordão? E aí o marido de Amélia deixa escapar uma verdade interessante: Amélia acha graça não ter o que comer, e, ainda lhe pergunta o que há de fazer. Santo Deus, é essa senhora que é a mulher de verdade?  E, ademais, sem noção nenhum da vida, a ponto de achar graça passar fome e pensar que os caminhos estão fechados. Ora, Amélia, há o que fazer sim, e o caminho é o de trabalhar, você e seu marido, para não ficarem os dois fazendo apologia da preguiça. Comida não cai do céu. Comida se conquista com o dinheiro que é fruto do trabalho. Trabalhar, Amélia, trabalhar. Bota seu marido para trabalhar, também, porque, nessa história, Anália se mostra mais firme, não quer ir para Maracangalha, e não vai.  

E o que dizer agora de Iracema, que, distraída, morreu atropelada na contra-mão?

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