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Inflação desenfreada preocupa e é risco para 2022

Fernando Cavalcanti* e Fábio Araújo**
*Economista, vice-presidente do Nelson Willians Group
**Economista, especialista em economia urbana e engenharia financeira

Publicado em: 29/11/2021 03:00 Atualizado em: 29/11/2021 06:30

Como disse o líder pacifista Marathma Gandhi, “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. No Brasil, e mais especificamente em relação aos rumos da economia brasileira, essa máxima encaixa perfeitamente. A falta de medidas de ajuste fiscal e de políticas assertivas na economia nestes quase três anos de condução do ministro Paulo Guedes – além do impacto da pandemia - provocaram uma crise que parece não ter data para acabar.

Dados do Boletim Focus do Banco Central divulgados no dia 22 de novembro demonstram que as expectativas do mercado sobre a recuperação da economia no próximo ano estão se deteriorando cada vez mais. Um dos exemplos é a comparação sobre os índices de inflação. No boletim Focus divulgado em 08 de janeiro deste ano, a previsão era de 3,34% de inflação. Agora, o índice de inflação previsto já está na casa dos dois dígitos: 10,12%. O mesmo para o IGP-M: a previsão passou de 4,94% para 18,09%.

É certo que a inflação vem acometendo todas as grandes economias do mundo em virtude dos choques ocasionados pela pandemia, mas o Brasil desponta como um dos países com maior taxa de inflação. A crise energética e a elevação no valor dos combustíveis são dois pontos que pressionam a aceleração nos preços de produtos e serviços, além da alta interna nos custos dos alimentos.  

A alta inflacionária vem obrigando o Banco Central a realizar um ciclo de aumento dos juros que deve chegar 9,25% este ano e 11,25% em 2022, segundo estimativas do Boletim Focus, ante 3,25% observada no início do ano.

Um dos efeitos do aumento da taxa de juros é o desaquecimento da economia, o que levará o crescimento em 2022 para muito próximo de zero. Alguns analistas de mercado já apontam em seus relatórios a possibilidade de haver crescimento negativo no próximo ano.

No campo fiscal, vivemos o dilema de abrir espaço “extra-teto” no orçamento para realização de despesas como o novo Auxílio Brasil, que é necessário diante do quadro social desolador, onde mais de 14 milhões de brasileiros encontra-se desempregados e muitos milhares não conseguem sequer realizar uma alimentação digna.

Por outro lado, é inadmissível que o governo utilize do mesmo expediente para conceder aumentos salariais a servidores públicos, cuja intenção foi anunciada pelo presidente Bolsonaro na última semana.

A proximidade do período eleitoral exercerá forte pressão para gastos com alto viés eleitoreiro, como o vale-combustível para os caminhoneiros e os milhares de tratores adquiridos com o dito orçamento secreto.

E para piorar o quadro, não se vislumbra no horizonte a aprovação de importantes medidas institucionais, como as necessárias reformas Administrativa e Tributária. Nem tampouco as propaladas privatizações ou venda de imóveis trilionários.

Parece que a muito custo nosso “Posto Ipiranga” aprendeu que não se faz política econômica apenas com bravatas ou discursos simplistas. E o pior: teve que rasgar a fantasia do mais liberal dos liberais, apoiando medidas populistas com objetivos eleitoreiros.

O ano vindouro promete ser de grande turbulência no campo econômico e imprevisibilidade no mundo político. Precisaremos de muita resiliência para enfrentar os desafios que vêm pela frente e de sabedoria em nossas escolhas para não sermos prisioneiros das consequências.

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