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Apenas duas lombadas

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 30/11/2021 03:00 Atualizado em: 29/11/2021 22:35

A cidade está parecendo um canteiro de obras. A gente não consegue ir de Casa Forte até Casa Amarela, pouco mais de um quilômetro, sem perder tempo, encontrar engarrafamento, parar aqui e ali, numa esquina, num cruzamento de ruas, na frente de um supermercado, de um colégio, por conta de um empreendimento qualquer (cano estourado? conserto de calçamento?), e a cidade quase toda está assim. Todos tentamos entender a pressa em  corrigir os desmandos, toda cidade – ou quase – os há, mas por que, de repente, não mais que de repente, tanta obra ao mesmo tempo, nesta antiga Veneza Brasileira? Enfim.

Mas o que eu queria mesmo era pedir coisa simples. Explico. Há umas semanas os moradores de nossa rua toparam com um (um só) operário cavando nossa estreita rua. Perguntamos: que há? Falou que iam consertar o calçamento “botar pedrinhas... etc. Pedrinhas? Subimos em nossos tamancos como se diz. Reclamamos: esta rua é tombada, não se pode trocar calçamento. O  homem não discutiu. No dia seguinte vem uma moça, conversamos, ela funcionária da prefeitura, delicada, competente. Voltamos à antiga discussão. E ela: A rua vai ficar mais bonita. E nós: É bonita como era no passado. 

Resultado: taparam-se os buracos mas as pedras antigas foram conservadas. Entretanto, surgiu enorme dor de cabeça. Como o calçamento está lisinho, e a rua estreita, os donos de automóveis, estão fazendo da rua pista de corrida, na ânsia de evitar passar pela Avenida 17 de Agosto. Ganhando certamente o tempo que perdem em... em quê, finalmente?

Nosso pedido ao senhor prefeito: simplesmente duas lombadas. Nossa estreita rua abriga crianças, pessoas idosas, gente que simplesmente passeia, empurrando carrinhos de bebê ou conduzindo seus cachorros de estimação. Duas lombadas apenas, senhor prefeito, que obrigariam essas pessoas apressadas a curtir a beleza de nossas fachadas seculares, ou a estreita faixa de plantas que há anos cultivamos e a duras penas. Para  melhorar o ar que todos respiramos. E a qualidade de vida de todos. Que assim seja.

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