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Este CFM não nos representa

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Professor da UPE e da Uninassau

Publicado em: 16/07/2021 03:00 Atualizado em: 16/07/2021 05:53

A missão precípua do Conselho Federal de Medicina é zelar pela saúde da nossa gente, fiscalizando o exercício profissional e a qualidade da assistência médica pública e privada prestada em território nacional. Por isso, ele, que é a entidade maior da nossa categoria, cujos dirigentes são eleitos pelos médicos brasileiros, mantido com os nossos recursos, e que, portanto, deveria refletir o pensamento prevalente entre nós, tinha o dever de exercer certo protagonismo nesse momento de crise sanitária sem precedentes na nossa história.

Tinha o dever de se posicionar enfaticamente contra a atitude da maior autoridade pública do país, que, em vários momentos, dando mau exemplo a milhões, insistiu em minimizar a gravidade da doença, em promover aglomerações, em negar a importância do uso de máscara e, o mais grave, em retardar deliberadamente a aquisição de vacinas, além de declarar publicamente que não iria tomá-las. Não podia se omitir diante da catástrofe em curso, com centenas de milhares de mortes anunciadas, tampouco deixar de cobrar e até participar efetivamente na elaboração de um plano nacional integrado de enfrentamento à pandemia, baseado na ciência e sem qualquer viés político-ideológico.

Mas o que o CFM fez, lamentavelmente, em nosso nome, foi precisamente o contrário. Movido por indisfarçável simpatia pelo atual presidente, ignorou os órgãos reguladores e respeitáveis sociedades científicas de todo o planeta, e insistiu em defender os médicos que continuavam prescrevendo medicamentos que ao longo do tempo se revelaram ineficazes, tanto no tratamento quanto na prevenção da Covid-19. Medicamentos que, além de não serem isentos de efeitos colaterais, acabaram estimulando parte da população a relaxar nas medidas de prevenção - essas sim comprovadamente efetivas, como o distanciamento social, o uso de máscaras e principalmente a vacinação.

Enquanto milhares de profissionais de saúde brasileiros, em atitude histórica de solidariedade e heroísmo perderam suas vidas no front, principalmente no início da pandemia, quando não existia vacina, nossas principais lideranças de classe seguiram omissas diante da política genocida em curso.

Finalmente, podemos concluir, com certa perplexidade, que, paradoxalmente, os médicos brasileiros sairão engrandecidos como nunca dessa tragédia sanitária, enquanto o Conselho Federal de Medicina, sua entidade representativa maior, sairá tristemente apequenada.

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