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Enfermagem: respeito e dignidade na pauta do dia

Tadeu Calheiros
Vereador do Recife e médico do SUS há mais de 20 anos

Publicado em: 12/05/2021 03:00 Atualizado em: 12/05/2021 06:44

A pandemia da Covid-19 escancarou para todo mundo a importância dos profissionais de saúde e de uma rede unificada, como é o Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo diante de um inimigo invisível e traiçoeiro, esses trabalhadores não se furtaram ao combate, muitas vezes desleal, para garantir a segurança e recuperação da sociedade. E paralelo a esse caos, os noticiários são bombardeados pela discussão sobre a necessidade de ações em outros setores sociais, também muito importantes, como a economia. Mas sem o trabalho desses profissionais de saúde nada poderia/poderá voltar à rotina comum, nem mesmo ao chamado “novo normal”.

Antes de mais nada, volto algumas décadas no tempo – mais precisamente a 1947 - para trazer a definição de enfermagem apresentada pela Irmã Maria Olívia, da Universidade Católica da América. Ela explicou que, em um sentido amplo, a enfermagem trata-se de “uma arte e uma ciência, que visa o paciente como um todo - corpo, mente e espírito; promove sua saúde espiritual, mental e física, pelo ensino e pelo exemplo; acentua a educação sanitária e a preservação da saúde, bem como o cuidado ao doente; envolve o cuidado com o ambiente do paciente, social e espiritual, tanto quanto físico; e dá assistência sanitária à família e à comunidade, bem como ao indivíduo”.

Sendo assim, sabedores do papel fundamental desempenhado por esses guerreiros, por que não há a valorização adequada? Neste 12 de maio, Dia Internacional da Enfermagem, é preciso levar ao conhecimento de todos as muitas dificuldades que são encaradas no dia a dia. Hoje, uma das pautas mais importantes e que devemos voltar o olhar é para a necessidade urgente da aprovação do Projeto de Lei 2564/2020, que visa a instituição de um piso salarial válido em todo território nacional para os profissionais da área (enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes).

A proposição, elaborada pelo senador Fabiano Contarato (REDE/ES), segue em tramitação no Congresso Nacional. É preciso destacar que o pleito é extremamente justo, tendo em vista o trabalho fundamental desempenhado por esses trabalhadores. Dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), informam o registro de quase 2,5 milhões de profissionais de enfermagem listados acima – desses, mais de 117 mil em Pernambuco. Esses números reforçam que a grande parte do corpo clínico que está exposto na linha de frente é formado por essas categorias, que ainda têm que enfrentar diariamente a falta de condições de trabalho, jornadas exaustivas e riscos de se contaminar diariamente. Além disso, precisamos destacar a sobrecarga psicológica violenta a qual eles estão sendo submetidos – que se amplificou durante a pandemia da Covid-19, com mortes de pacientes, dos colegas de trabalho, e pela ausência do carinho da família durante longos meses.

É importante destacar ainda que os salários ofertados no estado, até em cidades mais desenvolvidas – como o Recife -, ainda são muito baixos. Há profissionais que chegam a receber em torno de um salário mínimo para exercer uma atividade bastante complexa e vital. Uma remuneração justa vai oferecer mais tranquilidade para que esses profissionais desempenhem suas funções, além de assegurar que esses trabalhadores não psem ser obrigados a ter dois, três vínculos para poder garantir o seu sustento e da sua família. Ademais, essa melhoria também pode dar mais oportunidades de qualificação pessoal e técnica para essas categorias.

Por todos esses motivos listados, milhares de carros participam de uma carreata nacional, respeitando os protocolos de segurança, para pedir atenção para a PL 2564/2020, neste dia 12 de maio. Acreditamos que chegamos a um momento ao qual não se pode mais fechar os olhos para essa categoria tão fundamental. Como defensor da saúde e do SUS, conclamo a todos para apoiar diariamente essa causa fundamental, que é muito mais que uma pauta sindical ou reconhecimento do heroísmo desses trabalhadores, mas – sim - um ato de respeito, dignidade e valorização.

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