Diario de Pernambuco
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Uma pausa no confinamento

Luzilá Gonçalves Ferreira
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 30/04/2021 03:00 Atualizado em: 30/04/2021 05:38

Como tanta gente, depois de tantos meses impedida de dar voltas pela cidade, para passear, ver amigos, e só se permitindo deslocamentos imprescindíveis, como tem sido aconselhado, esta colunista resolveu escutar a voz do coração. Consultou amigos. Zé Paulo aconselha: “Não vá. Fique em casa”. Leticia diz: “Vá, você está duplamente vacinada”. Pensando no poema de Drummond, (Morte no avião, conhecem?). Imaginando que o perigoso monstro, sempre criticado pelo querido Ariano, devia estar cheio de vírus, apesar do que dizem as companhias de aviação, criou coragem, e penetrou no bojo do avião, em demanda de Belém do Pará, como na canção de Caymmi. Alegria de encontrar o amor e a acolhida de parte da família querida e, sobretudo, da neta aniversariante, esta perfeitamente adaptada às comidas e costumes da terra. E, coisa incrível, com seus cinco anos, falando um português de encher de vergonha a nós outros, nordestinos, ou brasileiros de outros lugares, exceção feita ao pessoal do Maranhão, os quais, segundo dizem, fala o melhor português do Brasil. Vejam exemplos. Vendo que a cachorrinha me estava afeiçoada falou: - “Ela gostou de ti.” Chamando a mãe para visitar uma amiguinha: “-Mãe, estou com saudade de Vitória, podemos ir vê-la?” E até: “Mãe, está na hora de comermos?” Quem diz melhor?

O pessoal de Belém obediente, pouca gente na rua, e ninguém sem máscara, nas farmácias, supermercados, restaurantes. Uma parte do  comércio fechada, evidentemente, mas, infelizmente, também o Museu Goeldi fechado e a grande Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, de onde sai a monumental procissão do Círio. Mas nas praças restauradas, com seus antigos monumentos atestando dos tempos áureos da borracha, as pessoas passeando como se não houvesse pandemia. Mascaradas todas. Na parte mais antiga da cidade, os belos prédios do porto, o cais à beira do rio como se fosse o mar. Garças voando perto da gente, pardais vindo colher restinhos de migalhas, a vida continuando. Ao cabo de uma semana a gente canta como o mesmo Caymmi, na voz de Gal: Adeus Belém do Pará, Valeu.

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