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A voz suprema da música romântica brasileira

Paulino Fernandes de Lima
Defensor Público e professor; Da União Brasileira dos Escritores de São Paulo

Publicado em: 14/04/2021 03:00 Atualizado em: 14/04/2021 05:58

A Covid-19 é mesmo traiçoeira. Uma das últimas grandes vozes da nossa música, que já venceu a tantos gigantes, seja por complicações de saúde; seja pelas dificuldades para ser reconhecido como um grande nome, fora silenciada pelo invisível e indesejável inimigo da humanidade.

Agnaldo Timóteo soma-se agora a um grande elenco do mundo artístico, que nos foi tirado daqui. No campo musical, poucos lhe disputavam o trono, em tema de música romântica. Como ele próprio se intitulava, era um dos maiores cantores românticos do Brasil. Modéstia(s) (ou seus excessos) à parte, a verdade é que da sua geração, poucos grandes ainda estão entre nós, embora não tenham o mais que merecido espaço que deveriam ter, nos programas de televisão, restando ao rádio compensar parte dessa injustiça. Falo de cantores (de mão cheia), como Nilton César, O professor apaixonado; de Moacyr Franco (Ainda ontem chorei de saudade); de Carlos Gonzaga (Diana); de Wanderley Cardoso (O bom rapaz); ou do próprio Roberto (Detalhes, etc, etc, etc). Afora os que, além do próprio Agnaldo, já se foram, como Nelson Gonçalves (Naquela mesa); Altemar Dutra (Sentimental eu sou); Paulo Sérgio (Índia); Jerry Adriani (Indiferença); José Augusto, o sergipano (Sombras); Cauby Peixoto (O Recife antigo); Nelson Ned (Tudo passará); Vanusa (Manhãs de setembro);  Ângela Maria (Cinderela), para não dizer que não falei das musas. Falo desses nomes que cantavam com a alma e povoavam nossos ouvidos e corações de tantas lindas emoções. Mas quando olho para o presente e vejo que essa geração vai-se indo, a sensação é de que a boa música vai-se acabando a cada partida. E quanto mais perquiro sobre os descaminhos que as canções foram tomando nas últimas décadas, mais sinto que os puros, verdadeiros e bons sentimentos, nelas  postos com tanto esmero e dedicação, estão sendo devorados pela supérflua e insossa sensação de um celibato sentimental. A “prova dos noves” é fácil de ser colhida. Basta ouvir, por exemplo, uma melodia, como Meu grito, que Roberto Carlos compôs e confiou para o vozeirão de Agnaldo eternizá-la, e sedimentar, com um sonoro incomum, sua voz.

Naquela época, os pueris ouvidos, quando ainda em tenra idade, ouviram tão docemente melodias como essas, na playlist que a figura paterna punha para tocar em casa, os ouvidos filiais aprenderam a distinguir canções de qualidade.

Entretanto, há uma certeza nada estéril em tudo isso. A de que esses artistas inscreveram seus nomes em mentes e corações; fizeram companhia aos que amam, por amor.

A essas vozes supremas da música romântica, como a do saudoso Agnaldo, dedicamos este artigo.

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