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O preconceito com a obesidade

Raíssa Lyra
Médica Endocrinologista

Publicado em: 11/02/2021 03:00 Atualizado em: 11/02/2021 06:18

A obesidade é estudada e reconhecida como uma doença crônica de origem multicausal, com forte influência genética e ambiental, e que se acompanha, muitas vezes, de uma ampla gama de outras doenças crônicas. A incidência e prevalência desta doença tem crescido de forma assustadora em todo o mundo, com um total hoje de cerca de 500 milhões de obesos adultos no planeta. Clara é a importância de se tratar e combater tal enfermidade, no entanto, alguns fatores devem ser cuidadosamente respeitados durante a avaliação, tratamento e acompanhamento desses pacientes, para que possa haver ganho de saúde tanto física quanto mental neste processo.

Um dos fatores a serem levados em consideração na avaliação do paciente obeso é a expectativa que esse paciente tem com os resultados a serem atingidos no tratamento, pois, um dos maiores motivos de descontinuação do tratamento é o não atingimento das expectativas iniciais de perda e de velocidade de perda de peso pelo obeso. Muitas vezes, esses indivíduos chegam com metas de perda de peso utópicas, baseadas em pesos que já tiveram um dia ou em corpos esculturais que a mídia e as redes sociais tanto propagam como “ideais”. Perder peso e manter o peso perdido não é um processo fácil, por isso, é preciso estar constantemente em diálogo com os pacientes obesos, estabelecendo metas de perda de peso factíveis, que tragam ganhos à saúde (5%, 10%, 15% do peso inicial), mas que não perturbem o paciente com o sentimento de frustação por não ter atingido esse ou aquele corpo almejado.

Vários movimentos instituídos de “body positivity” vem surgindo em todo o mundo com o foco na autoaceitação de corpos que estão fora dos padrões da sociedade, entre eles, os de pessoas obesas. Esses movimentos vão contra a busca desenfreada pelo emagrecimento com o foco na estética e não na saúde mental e no bem estar. Além disso, há um combate constante às críticas vindas da sociedade e até de alguns profissionais de saúde às pessoas com obesidade, que propagam a ideia de que tal doença seja uma escolha de vida, e não o resultado de complexos fatores genéticos, ambientais e comportamentais.

Alguns profissionais de saúde podem ser rotulados de forma equivocada como “gordofobicos” por defenderem o tratamento da obesidade, e as pessoas que simpatizam com os movimentos de “body positivity” como “gordofílicos”. Porém, é possível sim combater o preconceito da obesidade e, ao mesmo tempo, defender o tratamento e o ganho de saúde dos obesos, além da valorização de cada um fisicamente e mentalmente. O foco no tratamento dessas pessoas deve ser no acolhimento, na aceitação da doença e no estabelecimento de metas realistas de forma individualizada e guiada. Tratar o obeso é enxergá-lo em sua complexidade e profundidade, é estabelecer estratégias que foquem em um harmonioso comportamento alimentar e ambiental, e em uma relação saudável consigo mesmo.

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