Diario de Pernambuco
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Nilo base e/ou Nilo baseado

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado

Publicado em: 27/02/2021 03:00 Atualizado em: 27/02/2021 07:47

Nilo, apenas Nilo de Antonio Silva, do meu tempo de menino, se transformou depois em Nilo base, derivava também para Nilo baseado, já agora inspetor da primeira série C, em 1962, turma da qual eu fazia parte. Era o mesmo Nilo, agora carregando um apelido a tornar composto o seu nome, fruto de suas conversas, nas quais destacava sempre a base segura que tinha em qualquer assunto que surgisse e no qual sua opinião se fazia necessária.

Nilo era tocador de trompa na banda. Dele me lembro soprando o instrumento, as bochechas sendo destacadas, trompista e como trompista encerrou sua carreira. Não sei o ano. Em 1964, quando passei a estudar música na banda, Nilo dela não fazia mais parte. O fato de ter tocado sempre trompa ensejou da molecada, digo, da oposição, o asserto de que Nilo tocara a vida inteira e não saiu da trompa. Não evoluiu. Dissecando o veneno, teria lhe faltado talento para tocar um instrumento de canto. A trompa é de marcação, ao lado da tuba. Esclareço.

Não tenho elementos para a defesa. Se foi falta de talento ou de interesse, eu fico na segunda opção. No meu tempo, ninguém queria ser músico para tocar trompa. A meta era o trompete, o trombone, o sax em suas várias modalidades, o clarinete, a requinta. A trompa, não. A marcação, de sua alçada, passa despercebida do público. Destina-se aos demais músicos. Nilo deve ter se acomodado na trompa e da trompa não saiu. Com o pai, maestro e compositor, aprendeu a tocar e fazer uso da tesoura, se tornando, igualmente, alfaiate, num tempo em que numeroso era o número de alfaiates em Itabaiana. Euclides deve ter lhe arranjado o emprego de inspetor no ginásio. Não sei se, empregado, continuou a fazer uso da tesoura.

Dele perdi contato depois da primeira série. Nos anos seguintes, não foi mais inspetor de minha turma. Um ano somente a vê-lo diariamente, charuto na boca, a esbravejar vantagens, o suficiente para estrumar sua imagem. Uma delas, não esqueci. Aula de Português, o dr. Bezerra a lhe solicitar opinião sobre o comportamento dos alunos da turma, Nilo, na porta, as duas mãos na calça, a se balançar, proferindo o veredicto, péssimo, regular, bom, ótimo, ante o nome do aluno anunciado. Valeu sua palavra. Quiçá tenha sido o seu grande dia de glória.

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