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Livro 7 de la Mancha - 2ª parte

Francisco Dacal
Membro da Associação de Cervantistas da Espanha

Publicado em: 08/02/2021 03:00 Atualizado em: 08/02/2021 05:45

Em nenhum momento planejamos escrever a 2ª parte desta história. Nem foi nenhum Avellaneda contemporâneo, com a publicação de uma 2ª parte apócrifa, tal qual a que aborreceu Cervantes. Não. O que alterou o rumo, que parecia único, dado ao artigo original, agora o da 1ª parte, publicado neste periódico, em 22/09/2020, foi uma passagem de vida. Nasce ela com o próprio protagonista das  duas narrativas, o cavaleiro Tarcísio Pereira, que seguia com naturalidade seu caminho, como o quixote que sempre foi,  na vida real. Para nossa tristeza, ele partiu para a eternidade na madrugada do dia 26 de janeiro último, terça-feira, contrariando todas as previsões aceitáveis e possíveis.   

Lutou. Lutou muito. Com toda honra. Mas o traiçoeiro vírus fez essa maldade na sua última batalha. Tirou-nos o Cavaleiro da Alegre Figura. Tão peculiar. O vencedor das mais belas aventuras, como só os livros podem contar e explicar. Nesse momento, certamente Sancho Pança diria aos céus, à entrada do paraíso dos livreiros, o que disse sobre seu amo manchego, ao avistar, no retorno para casa, a aldeia em que viviam: Abra as portas e também recebe seu filho cavaleiro Tarcísio Pereira, que se vem vencido por causas alheias, vencedor vem de si mesmo, que é a maior vitória que se possa desejar.

Certa dia, numa manhã de sábado de 1986, nas terras da Boa Vista, ao entrar na Livro 7 deparo-me com Tarcísio, logo faço a clássica pergunta:

– Tem o novo livro do escritor Raimundo Carrero, Viagem ao ventre da baleia?   

– Tem sim. Venha cá. Responde o livreiro, que sai andando para o estande exato. Pega o livro e coloca em minhas mãos.

– Obrigado! Agradeço e me viro para olhar outros livros em exposição.

– Olha o Carrero ali, acabou de chegar. Fala Tarcísio rapidamente em minha direção.

– Que coincidência. Vou solicitar uma dedicatória. Repliquei.

Com o tempo, fiquei amigo de Carrero e fiz parte de sua oficina literária.

Assim era a Livro 7 e o Tarcísio. O espaço mágico e o dom da cortesia. Para todos, cultura e liberdade. Quem conheceu, sempre carregará consigo uma agradável lembrança. Quem não conheceu, a história se encarregará de contar, em cima das douradas memórias do Recife. Gratidão!

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