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Além de um livreiro

Paulino Fernandes de Lima
Defensor público do Estado de Pernambuco e professor

Publicado em: 09/02/2021 03:00 Atualizado em: 09/02/2021 05:14

Conheci-o, por ocasião das filmagens de um documentário, interrompido pela pandemia, que abordará a produção de livros no Recife, sobre escritores que ficaram conhecidos nas denominadas “Edições pirata”. A escolha de vários nomes importantes da época, para participação no Documentário, não poderia deixá-lo de fora. Tarcísio sempre tinha muito o que contar e ensinar, dono que era de uma rara experiência de longo sucesso na promoção e venda de livros. O livreiro da tão famosa Livro 7, uma das livrarias mais conhecidas no Brasil, foi mais um que nos deixou, recentemente, nesses dias de tantas perdas  humanas. Entretanto, seu legado para as letras, em especial para o estado de Pernambuco, onde o potiguar Tarcísio ergueu seu grande empreendimento, no ramo sempre carente da importância devida, que é o de livros, é inestimável. Uma análise vertente de sua trajetória, tanto na produção quanto na comercialização de livros, revela sua inestimável contribuição para o setor. Entretanto, sua determinação em contribuir para o mundo artístico-cultural não se circunscreveu somente à edição de livros. Sua incursão pela tradição carnavalesca foi mais uma de suas valorosas façanhas, com a promoção do bloco de carnaval “Nóis sofre mas nóis goza”, donde se entrevê que o seu inteligente espírito empreendedor ia além do mercado de livros.

Já perto de completar um ano, a aparição do primeiro caso de contaminação, no Brasil, a Covid-19, nome com o qual  aprendemos a soletrar e a conviver, a duras penas, já ceifou a vida de mais de 231 mil pessoas, dentre as quais muitos nomes que deixaram sua contribuição no mundo das artes, da cultura ou da própria ciência. Tarcísio Pereira, apesar de não ter tido um livro publicado, promoveu incontáveis escritores, com seu trabalho de livreiro, como ninguém. Deixa um legado para gerações que, mesmo não tendo sido contemporâneos de sua megalivraria, saberão do valor que tinha o impresso e a apreciação, paciente e contemplativa que os livros nos dão. Bem diferente do hodierno, da velocidade não só de produção, mas de publicação e de circulação que o virtual nos impõe. Ele tinha consciência do contributo que dera para o desfrute do livro físico, e da superioridade desse meio de leitura, comparada a do virtual de hoje, embora tenha vivido até a contemporaneidade, na qual se manteve em plena atividade. Nunca parou de fazer do livro seu principal objeto de trabalho, pois além de exercer o cargo de superintendente de marketing e vendas na Cepe, continuava fomentando a produção literária em sua editora.

Quando soube, na manhã  do dia 26 de janeiro, de sua morte ocorrida na noite anterior, foram incontáveis as manifestações de pesar e os depoimentos de muitos colegas que li e ouvi, especialmente do Direito e da Literatura, que lembraram deste grande profissional e amante do livro.

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