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Adeus ao amigo Jardelino

João Alberto Martins Sobral
Jornalista

Publicado em: 18/02/2021 03:00 Atualizado em: 18/02/2021 05:36

Minha amizade com Sérgio Jardelino tinha mais de 30 anos. Começou quando ele atuava no marketing do Bandepe. Depois, se aprofundou através do seu irmão, José Jardelino, quando comandava a Propeg Pernambuco. Criou a Polo de Propaganda, onde ele me contratou para ser garoto-propaganda de vários comerciais. Um deles foi para uma locadora de veículos que estava colocando um Mercedes-Benz na sua frota. Foi a primeira vez que dirigi um Mercedes. Gravação foi no Morro dos Guararapes e ficou no ar por muitos meses.

Depois, encontrei com ele várias vezes, inclusive em campanhas políticas que ele coordenou. Aproximação maior se deu quando ele assumiu a Vice-presidência Executiva do Diario de Pernambuco, cargo que ocupou por 17 meses. Fazia questão sempre de ir conversar com ele na sua sala, no térreo do jornal. E reclamar da trinca da porta quebrada. Muitas vezes para encontros com Tatiana Sotero, sobre a organização de eventos de marketing.

Na recente reestruturação da direção, ficou responsável pela redação. Nomeou Paula Losada como diretora de redação, passou a dividir suas atividades com as diretorias comercial e de marketing, que acumulava, inclusive nas áreas nas Rádios Clube AM/FM.

Quando a pandemia do coronavírus se agravou, passou a trabalhar home office. Vinha à sede do jornal apenas nas segundas e quartas. Quando sempre me pedia para ir conversar com ele. Fui muitas vezes. Em algumas vezes, saiamos para almoçar do Bar do Geraldo, na Rua do Lima, um dos seus preferidos, onde era tratado como rei e que tem uma excelente cozinha nordestina. Sempre falava dos seus amigos, era de uma fidelidade canina com muitos deles.

Comentava, entusiasmado dos seus projetos no Diario, da sua vida num condomínio em que morava, em Aldeia. Numa das últimas, ele me mostrou a foto de um carro que estava comprando, um Suv vermelho. Disse que era muito “cheguei”, ele acabou concordando e comprando um modelo idêntico, mas branco. Sua maior reclamação da pandemia do coronavírus é que tinha sido obrigado a cancelar a viagem que tinha marcado para a Bélgica, para visitar a filha Juliana e os dois netos, um que nasceu recentemente e ele ainda não conhecia.

Fazia questão de dizer que era, na política, de direita, bolsonarista em tempo integral, falava muito do encontro que teve com o presidente no Palácio do Planalto, quando até gravou uma matéria, que mostrei no blog. Reclamava que eu chamava na coluna Lula de ex-presidente, mas nem todas as vezes Jair Bolsonaro de presidente. Comentava meus artigos sobre a história do Recife, acrescentava dados. Reclamava que eu não tinha ainda falado dos botecos, como o que ele frequentava na Madalena. E me confidenciou que teve que deixar de ir lá com os amigos quando a esposa Mônica deu um ultimato: ou ela ou o boteco. Ficou com ela.

Outro assunto era sempre o Sport, outra das suas paixões, muitas vezes com a participação de outro diretor do jornal, Clóvis da Silveira Barros, ex-diretor do Sport, que sabe tudo sobre o rubro-negro. Tinha cuidado, sempre usava máscara, um frasco de álcool em gel em cima da mesa. Ficava impressionado como seu telefone não parava, era uma ligação em cima de outra.

Recentemente me levou ao parque gráfico do Diario, que está sendo reformado. Mostrou, entusiasmado, a sala que iria ocupar, que era muito grande. Justificou: “É que aqui junto ficarão o comercial e o marketing.”

No sábado 30 de janeiro, ele me ligou e disse que tinha ido almoçar com a esposa Mônica e, como estava se sentindo fraco, decidiu fazer um teste de Covid rápido numa farmácia. Deu positivo para ele, negativo para ela. Mas me garantiu que estava com sintomas leves. No domingo, em casa me disse que tinha dormido mal, que tinha consultado seu médico que, por precaução, marcou encontro com ele no Hospital da HapVida. Perguntei se ele queria o contato com a diretora do plano de saúde. Ele disse que não precisava, não iria se internar.

No dia seguinte, a ligação foi do hospital, mas esperançoso, nada grave. Nos dias seguintes, mensagens com aquele “emoji” de positivo. Na última, disse que o médico tinha aconselhado que ele não usasse o celular. Foram dias de angústia, que acompanhei o quadro, através de mensagem de Paula Losada e com um médico amigo meu, que trabalha no hospital. Dele, sempre recebia mensagens preocupantes, dizendo que o estado de Jardelino era muito grave. Minha preocupação aumentou quando soube que seu filho Fábio, que mora em Lisboa, veio acompanhar o pai. Acompanhei suas mensagens, ora positivas, ora negativas. Piorou quando a hemodiálise foi necessária.

No domingo, que deveria ser de carnaval, recebi a triste notícia. Mesmo sabendo do quadro crítico dele, sempre tive uma esperança, pedi nas minhas orações. Cheguei a pensar em levar o Padre Cosmo Nascimento, que considero milagroso, ao hospital, impossível devido à Covid-19. Como foi impossível me despedir dele no Parque das Flores. Nosso reencontro só será possível quando eu passar para o outro plano.

Penso nele agora, na sua sala. Que, a propósito, continua com a maçaneta quebrada...

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