Diario de Pernambuco
Busca
Um abraço, hum ...

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado

Publicado em: 30/01/2021 03:00 Atualizado em: 30/01/2021 07:59

Encostar-se na bunda de uma mulher é ato que, entre nós, recebe a denominação de quebrar coco. Ocorre, geralmente, em lugar apertado, aproveitando-se o homem para tirar proveito da situação. Tive um colega de trabalho que era perito na matéria. Ônibus que passasse cheio era uma provocação. Subia e se enroscava no meio mais cheio, para poder se encostar em alguma mulher. Sua tara, aliás, ia além de quebrar coco. Ao caminhar, quando, de longe, vislumbrava uma menina ou mocinha na porta de casa, ele saia batendo na parede, até que, fazendo-se distraído, tocava em cima do sexo da menina. Num tom natural, jorrava mil desculpas, e se mandava, na mesma passada, as mãos tamborilando as paredes das outras casas.

Quando a Justiça Federal ocupou o sexto andar do Edifício Estado de Sergipe, sala da secretaria apertada, escrivaninhas e máquinas de datilografia, espaço curto para circulação dos funcionários, presenciei quando uma servidora se locomovia e o nosso herói, rapidamente, fez a travessia, no mesmo espaço e igual tempo, encostando-se nela, que, imediatamente chiou, ressaltou a reiteração de condutas, ameaçando quebrar o grampeador na cara nele, que, de imediato, declarou e reiterou inocência, sem perder a elegância. Quem quiser que acreditasse.

Quebrar coco não se confunde com abraço. No primeiro, o homem se encosta na mulher por trás, revelando pura e total concupiscência. No segundo, o encontro é cara a cara, de infinitos fins. O ato de envolver uma pessoa por detrás não pode ser tachado de abraço, em circunstância alguma. Depois, o abraço revela intimidade, envolvendo pessoas suficientemente amigas para sua concretização. Não se abraça qualquer pessoa, além do que o cumprimento por beijo na face, só para um exemplo, é da iniciativa exclusiva da mulher.

Tudo vem a propósito do alegado abraço de um parlamentar em uma colega e a justificativa apresentada, a me lembrar uma frase, mui comum na minha aldeia, simbolizando um comentário, ante um absurdo contado. A resposta nada refuta, saindo por uma tangente mais do que óbvia, a evidenciar que a justificativa não colou. A frase, anote-se: morda meu dedo para ver se sai leite. Afinal, a mentira é saco vazio, que nem se põe, nem fica em pé. Ora, ora.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL