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O Efeito Trump no Brasil

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 11/01/2021 03:00 Atualizado em: 10/01/2021 20:50

A invasão do Congresso americano na semana passada, certamente, foi um dos acontecimentos mais importantes do mundo nos últimos anos. Ela evidenciou a barbárie a que se pode chegar quando movimentos populistas de extrema direita crescem no seio de democracias com instituições sólidas. Os E.U.A. têm uma cultura até certo ponto democrática, escapando dela apenas quando as liberdades e direitos a serem respeitados são de pessoas “de cor,” sejam eles descendentes de africanos ou latinos, árabes, chineses e indianos. Mas o autoritarismo liderado pelo populismo tentou ainda assim violar o estado de direito para impor a vontade de seu líder. Felizmente, a força das instituições e ainda mais a cultura democrática superaram as forças do obscurantismo. Talvez a experiência havida na Alemanha Nazista, no início da década de 1930, tenha vacinado um pouco o mundo desenvolvido contra essas tentativas de assaltar o poder. Hitler obteve sucesso em estupro similar e as consequências são, ainda hoje, lamentadas por toda a humanidade.

Apesar de todo o mundo ter se espantado com os acontecimentos e apoiar a democracia nos E.U.A., aqui no Brasil, nosso presidente, que tem se comportando como um fiel adorador de Trump, e capaz de embarcar em suas viagens mais desvairadas, lamentou o acontecido, mas apoiou o seu discurso e aproveitou para, mais uma vez, ameaçar a democracia brasileira com a perspectiva de sua derrota em 2022. Ele, inclusive, já se prepara para gerar o caos tratando a “pão de ló” as polícias e forças armadas, com vistas a poder contar com elas na hora que precisar afrontar as instituições nacionais. Esse apoio a militares é talvez a única ação que funciona no governo brasileiro atualmente, consistindo numa ilha isolada diante do caos de sua atuação nas demais áreas, como economia (sem reformas, privatização, abertura comercial ou controle dos gastos públicos), meio ambiente (desmonte do que havia de proteção), relações internacionais (conflitos permanentes com parceiros comerciais importantes e não pagamento das contribuições anuais) e saúde (sem vacina e estatísticas confiáveis e sem coordenação dos estados), apenas para citar alguns exemplos.

As consequências dos acontecimentos para a economia brasileira, infelizmente, não são positivas. As perspectivas de uma política fiscal expansionista sob Biden nos E.U.A. deveriam levar à desvalorização do Real e dificuldade ainda maior de manter as taxas de juros aqui nos níveis atuais. Por outro lado, a expectativa de maior crescimento econômico nos E.U.A. deve impulsionar a retomada por aqui, inclusive por seu impacto nas nossas exportações. Os efeitos adversos nas taxas de juros não devem suplantar esse decorrente do maior otimismo ao Norte. Contudo, o aumento da ameaça de uma crise institucional no Brasil em 2022, e talvez mesmo antes, por causa da política de confronto com a ordem institucional conduzida pelo presidente, deve frear os investimentos no país. Ou seja, os E.U.A. saíram dessa crise economicamente mais fortes, por causa da consolidação de sua democracia e o fim de uma era tenebrosa, que foram os anos de Trump na presidência. O Brasil, por sua vez, sai economicamente mais fraco, porque aqui elevaram-se as incertezas quanto ao futuro de nossa estabilidade institucional.

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